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Ídolo do Manchester United pede fim de música racista em sua homenagem

Park Ji-Sung critica canto da torcida com trecho sobre coreanos que comem carne de cachorro

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Daniel Victor
The New York Times

Park Ji-Sung, ex-jogador do Manchester United que sempre foi muito querido pelos torcedores do clube, pediu a eles no último domingo (3) que parem de cantar uma música em sua homenagem que inclui o estereótipo racista de que coreanos comem carne de cachorro.

Meio-campista de muito sucesso no clube entre 2005 e 2012, Park era adorado pela torcida, que lhe conferiu uma honra muito comum no mundo do futebol: uma música ou grito de guerra, ouvido com frequência no estádio, com a intenção de homenageá-lo.

Mas a referência a comer carne de cachorro “me causava grande desconforto”, embora Park tivesse orgulho de os torcedores terem criado uma música para ele, e compreendesse que a intenção deles não era ofender ou magoar, disse o ex-jogador em um podcast oficial do clube divulgado no domingo.

Park Ji-Sung ajeita braçadeira de capitão durante jogo do Manchester United pela Liga Europa - Phil Noble - 23.fev.12/Reuters

Na época, ele achava que era preciso aceitar, porque tinha chegado muito jovem da Coreia do Sul ao Reino Unido, e não conhecia bem a cultura. Mas ouviu a torcida cantar a mesma música em agosto, quando o sul-coreano Hwang Hee-Chan fez sua estreia pelo Wolverhampton Wanderers em um jogo contra o Manchester United.

“Eu deveria provavelmente falar de maneira mais clara desta vez”, disse Park. Mesmo que os torcedores não tenham a intenção de ofender, ele disse, “preciso educar a torcida para não usar aquela palavra, que hoje em dia é comumente vista como insulto racial ao povo coreano”.

O Manchester United afirmou em comunicado que “apoia plenamente os comentários de Ji-Sung e insta os torcedores a respeitarem seu pedido”.

Referências ao hábito de comer carne de cachorro são usadas há muito tempo como forma de ataque aos coreanos, no exterior, um estereótipo que tem por base a longa batalha que acontece no país contra a prática, cada vez menos frequente, mas ainda existente, de criar cachorros para consumo humano. Uma pesquisa do instituto Nielsen constatou que 84% dos sul-coreanos jamais comeram carne de cachorro e não pretendem fazê-lo no futuro.

A cultura “mudou enormemente” ao longo das décadas, e de maneira ainda mais rápida nos últimos anos, disse Lola Webber, diretora da campanha contra o consumo de carne de cachorro na Humane Society International, uma organização de defesa dos animais. A maioria dos coreanos mais jovens considera a ideia repulsiva, ela disse, embora alguns de seus compatriotas mais velhos ainda procurem esse tipo de prato em restaurantes especializados.

Na semana passada, o presidente sul-coreano Moon Jae-in sugeriu proibir o consumo de carne de cachorro, reconhecendo que a prática causa embaraços internacionais ao país.

Os principais clubes de futebol do planeta batalham constantemente contra o comportamento racista de alguns de seus torcedores. Em 2017, Romelu Lukaku, que é negro, pediu que torcedores do Manchester United parassem de cantar uma música feita para ele que continha um estereótipo racial. Alguns dos torcedores se recusaram e criaram uma nova música: "Somos o Man United, cantamos o que queremos”.

Tradução de Paulo Migliacci

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