Corpo e mente leves impulsionam Isaquias rumo a recorde olímpico
Descansado e mais magro, canoísta pode se tornar o atleta do Brasil com mais medalhas nos Jogos
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Chamaram a atenção os resultados de Isaquias Queiroz no Mundial de canoagem do ano passado, em Duisburgo. Medalhista em todas as edições do campeonato desde a de 2013, também realizada em Duisburgo, ele ficou apenas em sexto naquela que é sua especialidade, a modalidade individual de 1 km (C1 1.000 m), e em 17º na dupla com Jacky Godmann nos 500 m (C2 500 m).
"Muita gente não entendeu. Muita gente pensou: ‘Ah, está velho’. Mas eu não menti", disse à Folha o baiano, recordando que fez em 2023 uma escolha diferente da adotada nos dez anos anteriores. Priorizou a família, voltou à Bahia, treinou pouco e fez o que dava na principal competição da temporada.
O que dava foi suficiente para classificá-lo aos Jogos de Paris. A sexta colocação não lhe dava direito de ir à França, mas um remanejamento das vagas da República Tcheca abriu mais uma, realocada ao sexto lugar, e aí Isaquias passou a trabalhar com afinco para ampliar seu extenso currículo olímpico.
Queiroz, hoje com 30 anos, é dono de quatro medalhas olímpicas. No Rio de Janeiro, em 2016, conquistou duas medalhas de prata (C1 1.000 m e C2 1.000 m) e um bronze (C2 200 m). Em Tóquio, em 2021, levou o ouro na modalidade C1 1.000 m.
O atleta de Ubaitaba —cidade cujo nome tupi, quase inacreditavelmente, significa "cidade das canoas"—, portanto, está a um pódio de se igualar aos maiores medalhistas do Brasil na história das Olimpíadas (Robert Scheidt e Torben Grael, da vela, que têm cinco cada um). E poderá até ultrapassá-los se for bem também na dupla com Jacky Godmann na disputa C2 500 m.
"Quando a gente conversa e começa a falar em chegar a seis medalhas olímpicas, lógico que isso atiça um pouco mais o atleta", disse Isaquias, antes de se inflar de confiança. "Eu penso, mas não aquela coisa: ‘Nossa, eu posso chegar?’. Não, pô, eu quero, eu vou chegar! Acredito que sim, que dá para a gente sair com duas medalhas. As cores a gente não sabe, mas sempre queremos o ouro."
Seu trunfo na empreitada é justamente o 2023 quase sabático que teve, com resultados abaixo de seu elevado padrão. Recarregar o corpo e a mente se fazia necessário após uma década de muita exigência de ambos.
"Eu já fazia nove, dez anos, no topo, sempre brigando por medalha. É difícil. Então, eu falei: ‘Agora, eu quero estar com a minha família e quero estar onde eu mais amo, que é a Bahia’. Mas neste ano decidi voltar para Lagoa Santa [cidade mineira onde treina] e trabalhar bastante. O resultado deste ano já mostrou como a gente está", afirmou.
O resultado referido por ele é o triunfo na etapa de Szeged da Copa do Mundo, em maio. Queiroz venceu a modalidade C1 1.000 m com um tempo de 3min45s84. Para comparação, seu ouro em Tóquio-2020 foi com 4min04s41.
"A gente fez ali 3min45 sem se preparar tão bem. Então, a gente falou: ‘Imagina, se a gente estiver preparado, o que vai acontecer em Paris?’", recordou. "A gente ficou muito animado para voltar para casa e treinar, mais leve, mais solto."
Isaquias está mesmo mais leve, literalmente. Seu técnico, Lauro de Souza Júnior, o Pinda, observou que já não havia muito a melhorar na parte técnica e propôs uma perda de peso, sem perda de massa muscular. A ideia é que o atleta esteja nas competições em Paris com 82 kg, dois a menos do que em Tóquio.
Ele também vai à França sem o peso de buscar seu primeiro ouro. Ainda que a edição Rio-2016 tenha sido fantástica para ele, com três medalhas, foi só com o primeiro ouro, na edição Tóquio-2020, que viu a ansiedade diminuir.
"Como falei, estou mais leve", repetiu.
"E o barco está andando. Agora, é só deixar o barco andar."
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