Siga a folha

Descrição de chapéu Olimpíadas 2024 Judô

Desde os 6 anos, 'nunca houve mais nada' além do judô, diz mãe de Bia Souza

Campeã olímpica entrou no esporte pela influência do pai

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Santos

Beatriz Souza, 26, tinha só seis anos quando pisou com o pai, Poscedônio José de Souza, o seu Pelé, pela primeira vez no tatame. A mãe Solange Rodrigues de Souza nunca esqueceu a cena, estava certa de que era caminho sem volta.

"Havia um brilho nela depois disso, só falava em judô. Nunca houve mais nada pela frente", conta Solange à Folha.

Primeira medalhista olímpica de ouro do Brasil em Paris, categoria pesado (+ 78 kg), a atleta é classificada por seus pares como uma obstinada pela modalidade.

"Quando completou 15, disse que precisava ir para São Paulo para vencer. E foi sozinha", conta Emanuelle Pedrozo, prima de Beatriz.

Beatriz Souza ao lado do primeiro treinador, Wagner dos Santos, em foto de 2019; judoca ganhou medalha de ouro em Paris-2024 - Arquivo pessoal

Após as primeiras quedas com o pai, ex-militar e também professor de judô, aos sete anos Bia passou a treinar na Associação Budokan de Peruíbe, conhecida ONG formadora de atletas na cidade do litoral paulista.

Natural de Itariri, município vizinho, foi forjada disputando campeonatos em série na modalidade. "Era quase todo o final de semana em competição. Não tinha uma folga por mês, um sábado ou domingo livre", lembra Solange.

A história mais marcante dos anos de formação foi quando enfrentou mais de 30 horas de ônibus de Peruíbe a Vitória (ES), entre ida e volta, para disputar uma das etapas do Brasileiro.

Com 11 anos, sempre viajava ao lado da mãe e do treinador. Elas não tinham dinheiro para a hospedagem e pegavam estrada sem saber onde dormiriam. Só na chegada, é que encontravam um lugar, bancado pelo técnico Wagner dos Santos.

"Esse campeonato foi especialmente difícil. Horas de ônibus, sem patrocínio. Nem dinheiro para hospedagem havia. Ficamos em um hotelzinho perto do clube para conseguir competir porque o Wagner nos ajudou", conta a mãe.

Santos foi o primeiro e principal treinador de Beatriz Souza durante os anos que esteve na Associação Budokan, dos 7 aos 14 –até se mudar para o Palmeiras, em 2013. No fim do mesmo ano passou a integrar a equipe do Esporte Clube Pinheiros.

Curiosamente, ele também foi sensei da própria irmã, a ex-atleta Mariana Silva, quinta colocada nos Jogos do Rio-2016 na categoria meio-médio (até 63kg).

"A Mariana bateu na trave, nos deu o sentimento de ter a medalha escorrendo pelas mãos, mas é muito vitoriosa por chegar onde chegou. Não houve a dor pela perda. Ela se superou. A Bia foi diferente: confirmou expectativas", explica.

"A Bia sempre foi campeã de tudo, sempre esteve na seleção, competiu bem o circuito europeu. Foi uma medalha construída", completa.

Ele acompanhou do carro as lutas finais da antiga pupila. Precisou se deslocar até Santos para levar a filha para uma consulta médica. Na semifinal, pediu para que ela subisse acompanhada da esposa ao consultório e seguiu na torcida sozinho, pelo celular.

"Parei o carro na primeira vaga que vi e fiquei até o final. Quando venceu saí buzinando. Logo que acabou liguei para o sensei Samuel, fundador do nosso projeto, para dizer o quanto todas as dificuldades valeram a pena. Formamos nossa primeira campeã olímpica", conta.

O choro comovente de Beatriz Souza poucos minutos após a conquista da medalha, acompanhando da medalha dedicada a avó, Brecholina da Silva, a dona Lina, não foram as únicas dores que precisou superar.

"Ela estava com muita dor [no cotovelo]. Também sentiu algo no pé, ainda não sabemos bem. Nosso medo era que se machucasse antes de chegar a final", afirmou Emmanuelle Pedrozo.

A judoca chegou a temer não conseguir competir por conta de um problema no cotovelo que a obrigou a passar por duas cirurgias em 2023.

Mesmo assim, conquistou as medalhas de prata no torneio por equipes mistas e bronze no individual no Pan de Santiago no mesmo ano.

"Deus encaminhou todas as coisas no caminho da minha filha", conta Solange.

Ela foi convencida por amigos próximos e pelo antigo treinador, Wagner, a conceder entrevistas. Queria evitar por conta da recente perda da mãe, avó da judoca.

A tarde de fama, porém, terminará em uma igreja evangélica. As entrevistas seguiriam até perto das 18h, quando iria para o culto. "Para ela é inegociável, vai agora agradecer", explica a prima Emamanuelle.

O ouro em Paris garante a atleta R$ 350 mil, valor pago pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil) aos medalhistas de ouro em Paris para competições individuais.

Foram quatro lutas até a medalha: vitória por ippon contra a Izayana Marenco (Nicarágua), por waza-ari contra a coreana Kim Hayun, por ippon diante da francesa Romane Dicko e, por fim, novamente por waza-ari contra a israelense Raz Hershko.

Bia agora divide um posto já ocupado por Sarah Menezes, ouro em Londres-2012, e Rafaela Silva, ouro na Rio-2016, mas é, sem concorrência, o maior orgulho da Associação Budokan de Peruíbe que o formou.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas