Novo livro de Toni Morrison alerta aos perigos da cristalização do ressentimento
'Deus Ajude Essa Criança' mostra consequências de confusão pueril entre prazer, culpa e punição
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Entre os livros mais famosos de Toni Morrison temos “Amada”, que revela alguns dos principais traços de sua obra: um excelente romance histórico com elementos sobrenaturais, em que a memória e o sentimento de perda sugerem um questionamento sobre as consequências do racismo e da violência na vida de indivíduos e comunidades.
Este mesmo questionamento é uma das chaves para “Deus Ajude Essa Criança”. Embora aqui Morrison deixe o passado de lado para focar nosso momento histórico. Conflitos familiares e geracionais servem como pano de fundo para estudarmos o impacto de dramas sociais —exploração sexual infantil e novas concepções de racismo.
Na história, Lula Ann Bridewell é uma jovem negra cuja tez revelou-se muito escura durante o nascimento, ocasionando a separação dos pais de pele mais clara e a indiferença de sua mãe, para quem amamentar a filha recém-nascida “era como botar uma macaquinha chupando minha teta”.
É a tentativa desesperada de receber o carinho materno que faz a pequena Lula Ann depor contra uma mulher inocente em um escândalo de pedofilia.
As consequências da confusão pueril entre prazer, culpa e punição são sentidas no desenvolvimento emocional da personagem. No caso específico de Lula Ann, a narrativa nos oferece informações para acreditarmos que ela passou a maior parte da sua vida adulta oprimida pelos traumas das experiências de abandono paterno e de rejeição materna.
É nesse sentido que a ambição profissional da jovem na indústria da beleza é alimentada pela sua necessidade de se sentir admitida pelos outros em sua negritude, embora ela não consiga se aceitar.
O desenvolvimento de uma bagagem afetiva necessária ao autoconhecimento é a chave para compreendermos o que acontece com ela. Isso fica claro em seu reencontro com Booker, o ex-namorado músico e intelectual, outra personagem cujo amadurecimento emocional padece do traumático apego pelo irmão morto: vítima de abuso sexual e assassinato.
Morrison nos alerta para os perigos da cristalização do trauma e do ressentimento. A mensagem deste romance para os brasileiros é urgente. A empatia e a tolerância são frutos do autoconhecimento.
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