Musical filipino canta a violência e dá recado ao atual presidente do país
'Estação do Diabo', de Lav Diaz, tem quase quatro horas de duração
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Quando se fala em cinema musical, logo vem à cabeça clássicos de Hollywood, como "Cantando na Chuva". Ou produções mais recentes, caso de "La La Land".
No musical filipino "Estação do Diabo", que entra em cartaz agora, esqueça essas referências. Em vez do canto acompanhado de instrumentos, aparece a música a capela. No lugar do tom efusivo do repertório americanos, o lamento.
Essa subversão do musical é coerente com a trajetória de filmes experimentais de Lav Diaz, vencedor de prêmios importantes como o Leão de Ouro em Veneza por "A Mulher que se Foi" (2016).
Nas últimas duas décadas, o diretor filipino tem se notabilizado pela fotografia em preto e branco, pelas temáticas políticas e sociais, pela ligação com a literatura. Mas ele chama mesmo a atenção pela longa duração dos seus filmes —com quase quatro horas, "Estação do Diabo" está entre os mais curtos.
Desta vez, ao se arriscar no terreno musical, ele concebe uma obra pungente, que revive um período trágico da história das Filipinas. Na década de 1970, o país estava sob lei marcial, ou seja, o comando militar ocupava o lugar das autoridades civis. Ferdinando Marcos (1917-1989) é quem dava as ordens.
Em 1977, o ditador permitiu a criação de forças paramilitares, entregando armas para mais de 70 mil civis a fim de que combatessem grupos que lutavam pela independência de Mindanau, a segunda maior ilha do arquipélago. Atrocidades correram soltas.
Nesse contexto, "Estação do Diabo" acompanha a médica Lorena (Shaina Magdayo), que vai a um vilarejo em Mindanau para um trabalho voluntário. Não demora para que sua presença incomode a milícia. Tempos depois, o marido, o poeta Hugo (Piolo Pascual), decide revê-la, acentuando a tensão.
Os diálogos musicados realçam a tristeza. Mas ainda há um outro efeito. Não se imagina que milicianos, rebeldes e moradores saiam cantando em uma situação como essa. Assim, como em um pesadelo, a música reforça o absurdo da violência.
"Nosso país precisa ser salvo do demônio", cantam os paramilitares, que usam a religião, além das armas.
Longe de um filme-denúncia, Diaz revive Ferdinando Marcos para dar seu recado ao atual presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, um bufão autoritário.
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