Tati Bernardi explora relação entre mãe e filha em seu novo romance
'Você Nunca Mais Vai Ficar Sozinha' traz humor mais lírico e melancólico
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A escritora e roteirista Tati Bernardi está diferente. As piadas algo maníacas de “Depois a Louca Sou Eu”, seu livro de 2016, agora dão lugar a um humor mais lento, mais lírico —e também mais melancólico.
É o que se pode ver em “Você Nunca Mais Vai Ficar Sozinha”, novo livro da autora, que também é colunista deste jornal.
Não se engane, é claro que as obsessões da autora não sumiram —ansiedade, remédios psiquiátricos, relações familiares e sonhos de ascensão social de classe média traduzidos em um apartamentinho continuam sãos e salvos. São elas que garantem que, sim, é a mesma Tati Bernardi.
No novo romance, narrado em primeira pessoa, a autora conta a relação cheia de afeto e angústia entre a protagonista e sua mãe. Ao mesmo tempo em que a própria personagem, vinda de um bairro simples de São Paulo, se prepara para ter uma menina.
Não se deve levar tanto em conta que a própria autora tenha sido mãe há cerca de dois anos. Bernardi quis, depois do viés autobiográfico do livro anterior, avançar para a escrita mais ficcional —embora admita que ficar grávida tenha mudado os rumos do que vinha escrevendo.
“Aquela não é minha mãe, não sou essa grávida”, diz. “Tentei dar um passo adiante e chegar mais perto do romance. Sempre tive esse sonho de escrever um.”
A mudança de tom, que resulta numa narrativa fluida e mais suave, sim, isso ela atribui à gravidez.
“Não dá para você ficar pilhada, maníaca, porque a gravidez dá um sono, uma lentidão. Eu era mais maníaca, e o amadurecimento trouxe um pouco mais de depressão. Era uma euforia talvez mais jovial, com mais medo da vida.”
Bernardi faz desfilar um grupo de parentes com histórias engraçadas, como a Tia do Gás, que tem esse nome porque meteu a cabeça no forno, ou a Perseguida, que era paranoica.
Embora tudo seja transformado pela ficção, a narrativa em primeira pessoa e a identificação com outros textos da autora, fazem desconfiar de algo confessional.
E é claro que, embora não seja maioria, Bernardi fez recriações a partir de material biográfico. Dona de um humor que está calcado em partes na autoexposição, a escritora diz ter casos de pessoas próximas que se veem representadas.
“Tive essa questão a vida inteira. Falava meio rindo que namorados me largaram pela forma como eu escrevo. Resolvi perceber o quanto sofro e meio que pedir desculpas para as pessoas”, diz a escritora. “Tanto minha mãe quanto meu marido dizem que tem partes legais, mas na hora que leem ficam meio putos comigo.”
As angústias da relação entre filha e mãe, claro, passam pelo desejo de liberdade da primeira, ao mesmo tempo em que continua atada à figura materna —inclusive pela forma como o parentesco moldou sua personalidade, seu jeito de se relacionar.
“Comecei a escrever um livro sobre uma filha muito infantilizada e, no meio, engravidei de uma menina. Aí vi que a história tinha que ser nesse limbo entre alguém que ainda é um pouco infantilizada, mas precisa amadurecer, porque a garotinha está dentro dela, não é mais ela.”
Em certa cena, enquanto sobe escadas de um hotel, a personagem ouve a mãe dizer que ela vai se estabacar. “Eu não ia cair, mas senti uma vontade tremenda de obedecer e despenquei lá de cima. Me lancei escada abaixo apenas para obedecer minha mãe”, escreve a narradora.
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