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Longa com Tim Roth respeita o Holocausto, mas é fácil de esquecer

'O Cântico dos Nomes' deixa escapar o que seria de fato interessante nesta ficção, que é que significa ser judeu

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O Cântico dos Nomes

Avaliação: Regular
  • Onde: Disponível no HBO GO
  • Classificação: 14 anos
  • Elenco: Tim Roth, Eddie Izzard, Gerran Howell, Stanley Townsend
  • Direção: François Girard

A música clássica, que sempre se associa à alta cultura, é um hábito perigoso para o cinema, expressão popular por excelência. O diretor canadense Francis Girard conhece bem esse risco, embora prefira investir em seu avesso –filmes sobre música costumam significar “qualidade” e, por extensão, prestígio.

Para não haver dúvida, em “O Cântico dos Nomes”, disponível na HBO Go, ele associou a ela a ideia de Holocausto.

Aqui, o centro de tudo é Dovidi, jovem violinista deixado em Londres, em 1939, a fim de desenvolver seu vastíssimo talento. O pai imediatamente retorna à Polônia e o que se segue é fácil de inferir –a família de Dovidi é exterminada, enquanto Dovidi emerge como um prodígio do violino.

Graças a seus tutores e à amizade com Martin, uma espécie de irmão para ele, Dovidi vai vivendo sua vida sem maiores sobressaltos. Ou, por outra, existe um, fundamental –após dizer que a etnia é uma pele, da qual ninguém se livra, ao contrário do vínculo religioso, Dovidi rejeita a a fé judaica, como uma espécie de resposta ao destino a que Deus condenara sua família e sua etnia em geral.

Segue a vida brigado com Deus (cuja existência não nega, que se diga) até que, já com a fama de grande talento, ele se prepara para um grande concerto internacional. E, como ocorre aos gênios com alguma frequência, dá o bolo na plateia e, sobretudo, no seu tutor e empresário. Dovidi simplesmente some.

Fim do primeiro filme (quer dizer, linearizo uma história narrada ao longo de inúmeros flashbacks). O segundo filme consiste na longa e tortuosa busca de Dovidi por um Martin já homem feito (Tim Roth).

Por que sumiu Dovidi? Por que deixou seu tutor (e pai de Martin) na mão a ponto de provocar sua ruína e morte? Por que deixou de lado seu imenso talento? Et cetera.

Coisas de gênio, insiste a mulher de Martin, que acha um desperdício o marido dedicar a vida a uma tal busca. Martin não se deixa intimidar. Corre Londres, Varsóvia, Nova York em busca de sinais. Não é uma procura excitante, a não ser em seus últimos lances. Não será uma inconfidência revelar que o encontra (na pele de Clive Owen) –a questão é em que circunstâncias e a quem de fato encontrou.

Embora trate o Holocausto com respeito e só indiretamente, o filme deixa escapar por entre os dedos o que seria de fato interessante nesta ficção –o que significa, afinal, ser judeu? O que diferencia pertencer a essa etnia de qualquer outra? Não se trata da “grande questão” do Holocausto, mas das marcas que séculos de preconceito e rejeição violenta deixaram no cotidiano das pessoas.

“O Cântico dos Nomes” troca essas questões por uma espécie de propaganda religiosa, aspecto ao qual não se pode negar pertinência (estamos numa era de retorno à religião, seja ela qual for), mas que não ajuda a tornar o filme um evento inesquecível.

Bem ao contrário. O vaivém dos flashbacks, os sucessivos travellings pelas costas dos personagens (essa chaga do steady cam), a irritante mulher de Martin —tudo contribui para que o ambiente em torno dos personagens e de seus atos seja com frequência bem frouxo, e o conjunto se deixe esquecer antes que os créditos finais terminem de correr na tela.

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