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Cinema

Bárbara Paz retrata em 'Babenco' o artista e o homem na intimidade

Documentário sobre cineasta é claro ainda que não linear

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São Paulo

Babenco – Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou

Avaliação:
  • Quando: Em cartaz
  • Produção: Brasil, 2020
  • Direção: Bárbara Paz

Restringir “Babenco – Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou” à categoria de documentário informativo e biográfico é desperdiçar o teor afetivo, a substância que torna tão peculiar o trabalho assinado por Bárbara Paz.

Em mais de um sentido, o filme prolonga, e inverte, a cena final de “Meu Amigo Hindu”, de 2015, o último filme dirigido pelo cineasta Hector Babenco. Sob a chuva e reinterpretando livremente os movimentos de Gene Kelly em “Cantando na Chuva”, Bárbara Paz alcançava a dimensão de ícone derradeiro de uma obra plena desse tipo de imagem fixada na memória.

Enquanto ali a atriz e diretora ocupava o lugar híbrido de mulher amada e musa, era o foco do olhar do artista e companheiro, no documentário essa posição é invertida.

Aqui, o realizador teima em dirigir, insiste em instruir tecnicamente a realizadora pouco experiente, orientar o olhar dela. Mas a inversão é decisiva para arrancar a narrativa desse ato final das garras onipotentes do diretor. Dócil e fragilizado pela doença, Hector Babenco se expõe.

Cena do filme "Babenco - Alguém Precisa Ouvir o Coração e Dizer: Parou" (2019), de Bárbara Paz - Divulgação

Os materiais de arquivo cumprem a função informativa, mas o essencial aqui é o impulso da realizadora de mostrar o homem na intimidade tanto quanto o artista. Sua vontade é a de contar que um não teria existido sem o outro, que Babenco, em última medida, é o personagem que Hector nunca desistiu de reescrever.

A linearidade biográfica, portanto, é abandonada sem prejudicar a clareza do resultado. Assim como a filmografia se compõe de temáticas e escolhas estéticas que ecoam, prolongam-se e retornam sem se repetir, o personagem Babenco que Paz constrói é feito de coerências e paradoxos, de desdobramentos e de rupturas.

Nessa trajetória, o câncer é um elemento narrativo crucial, uma ameaça permanente que não paralisou o indivíduo. Ao contrário, o forçou a apressar o passo e a aprofundar a urgência do que ele se sentia impelido a nos mostrar com seu olhar de brasileiro estrangeiro.

A ideia de filmar a mortalidade em ação, o que poderia resultar mórbido ou sensacionalista, é amenizada pela dimensão puramente afetiva do projeto. Como em “Um Filme para Nick”, de 1980, em que Wim Wenders e Nicholas Ray ultrapassaram o testamento para pensar o que pode o cinema, “Babenco – Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou” parte da finitude para falar da continuidade, daquilo que se prolonga e permanece.

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