Siga a folha

Descrição de chapéu LGBTQIA+

Conheça a Velma de 'Scooby-Doo' que é lésbica, tem pele escura e ri do homem branco

Personagem é feminista e filha de indiana em nova série adulta da HBO Max, que faz Fred de chacota e traz um Salsicha preto

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Uma Velma de pele escura se apaixona por uma Daphne com traços orientais em "Velma", nova série adulta do universo do Scooby-Doo lançada pela HBO Max. O tesão entre elas surge quando as duas precisam se beijar para afastar entidades assustadoras que assombram a mente da protagonista.

Sangue, piadas de teor sexual e um texto pró-minorias preenchem esta animação que conta a história de origem da trupe de investigadores. Na trama, Velma apura assassinatos em série com a ajuda de seu colega Norville, o Salsicha, que nesta versão é negro. Fred Jones, por sua vez, agora só serve de chacota do grupo por ser um homem branco estúpido.

Cena de 'Velma', nova série da HBO Max - Divulgação

Os últimos capítulos de "Velma" estrearam na plataforma de streaming na última quinta-feira depois de a série ser rechaçada pela crítica especializada e pelos fãs do desenho clássico que estreou em 1969.

Nas redes sociais, reclamam que a produção deturpou os personagens. "A DC decidiu lacrar. Se querem personagens gays, basta criá-los. Não precisa alterar os heróis clássicos", escreveu uma pessoa no Twitter. Outro publicou que o novo desenho é "a coisa mais péssima, nojenta, horrorosa e idiota que o ser humano já fez".

Não é o que pensa Fernanda Baronne, que dubla a Velma no Brasil desde 2013. "Não dá para comparar a série nova com a antiga. Ela celebra os personagens e atualiza a história com diversidade de raça e sexual. É uma homenagem", afirma.

"Velma" se tornou um dos seriados mais mal avaliados no IMDb, site que agrega resenhas de filmes e séries, com uma nota média de 1,4. Para a cineasta e artista visual Erica Modesto, que é LGBTQIA+, as pessoas podem estar incomodadas porque a produção rompe com o que há de patriarcal em "Scooby-Doo".

"Tinha o mocinho bonito, a mocinha indefesa, o alívio cômico e o pet fofo e atrapalhado. Se falam que a Velma agora pertence a um universo que os conservadores não estão prontos para assimilar, essas pessoas piram", diz.

O novo seriado é mesmo disruptivo. Velma agora é feminista e filha de uma mulher indiana. Daphne é adotada por duas mulheres lésbicas. O cabelo laranja do Salsicha foi substituído por dreads pretos. Já Fred perde a alcunha de galã inspirador para lembrar o espectador dos privilégios que homens brancos ricos ostentam.

Para além dos protagonistas, o texto da série é ácido, debochado e crítico. Toca em temas delicados como racismo, violência policial, misoginia, pressão estética e outros problemas da sociedade americana.

Baronne, a dubladora, não vê problema com as piadas sobre gente branca. Diz que são feitas com o mesmo humor americano que sempre zombou de minorias. Modesto ecoa a opinião dela e acrescenta que os desenhos animados permitem uma abordagem simples e profunda de temas relacionados à diversidade.

A polêmica em torno da sexualidade de Velma ganhou força em 2020, quando Tony Cervone, o produtor de "Scooby-Doo", afirmou no Instagram que a personagem é lésbica.

O cineasta James Gunn, que escreveu o roteiro dos filmes "Scooby-Doo", de 2002, e "Scooby-Doo 2: Monstros à Solta", de 2004, já disse que os longas precisaram ser modificados na época para esconder a verdadeira sexualidade de Velma. Segundo ele, o estúdio quis deixar a ideia ambígua até eliminá-la na versão final do primeiro filme.

Uma cena de beijo entre Velma e Daphne foi gravada e depois cortada do longa de 2002. Quem confirmou a informação foi Sarah Michelle Gellar, a intérprete da Daphne.

Outro burburinho que rodeou "Velma" foi a exclusão do Scooby-Doo da trama. Charlie Grandy, um dos criadores da série, deu a entender que o teor adulto da história atrapalhou a inclusão do cão. A produção é recomendada para pessoas que tenham mais de 16 anos.

"O que torna ‘Scooby-Doo’ um programa infantil é o Scooby-Doo. Não conseguiríamos fazer isso [incluir o personagem]. Coincidiu com a Warner Bros. dizendo que não podemos usar o cachorro."

A justificativa pode parecer estapafúrdia, mas é verdade que a inocência do cão detetive pouco combina com as cabeças cortadas ao meio exibidas na série. Para Modesto, isso pode ser mesmo um fator que repele o público. "É delicado pegar um produto que passou anos sendo vendido para o público infantil e de repente embalá-lo para os adultos", diz.

Apesar das críticas e do suposto insucesso, Channing Dungey, a presidente da Warner Bros. Television Group, já deu a entender que a empresa está trabalhando numa segunda temporada da série.

Baronne, a dubladora, celebra o título. "Temos que caminhar para um lugar em que o importante da história não seja se a Velma é lésbica, hétero, não binária ou transexual, mas sim quem ela é."

Velma

Avaliação:
  • Onde: Na HBO Max
  • Classificação: 16 anos
  • Produção: EUA, 2023

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas