Quanto você gera de lixo plástico por dia? E por ano? Quanto isso representará em uma ou duas décadas?
A Folha criou uma calculadora para ajudar você a estimar a sua pegada de lixo plástico com base apenas no essencial consumido pelas famílias brasileiras. O resultado indica a quantia básica de lixo plástico doméstico que o brasileiro descarta por ano.
A ferramenta considera itens consumidos em casa. Não entram no cálculo produtos de luxo nem hábitos que contribuem para a geração de lixo fora do domicílio, como comida consumida em restaurantes e lanchonetes.
A calculadora também não trata do que é reciclado, portanto, não se trata de uma métrica de impacto, mas de um sensor sobre o consumo de plástico. O plástico corresponde hoje a cerca de 50% das embalagens adotadas pela indústria de bens de consumo.
No Brasil, estudo da ONG WWF, baseado em dados do Banco Mundial, afirma que, em 2019, apenas 1,3% do plástico foi reciclado. Já o um índice da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), que representa o setor, indica que a reciclagem foi de 25,6% em 2022.
A calculadora inclui 33 produtos ligados à cesta básica ou comuns nas compras do dia a dia. As categorias são alimentação, higiene, limpeza e outros.
A metodologia optou por bens não duráveis, já que eletrodomésticos, eletrônicos e demais objetos com plástico na composição, desde brinquedos até material escolar, têm uma vida útil maior e precisariam de outra escala temporal.
Para cada item, é possível selecionar o período da compra, que vai de diário até anual. Se desejar incluir a compra do arroz semanal e a do feijão semestral, por exemplo, não se preocupe, o cálculo final mostra a quantidade por ano.
Se você mora sozinho, contabilize suas compras individuais. Se divide a residência com filhos, pais ou outras pessoas, considere as compras da casa.
A calculadora mostra que a média de lixo plástico gerada apenas por itens básicos em uma casa é de cerca de 49 kg ao ano, cerca de 18 kg por pessoa, o que bate com as estimativas reconhecidas por especialistas do setor.
Se sua média saiu muito alta, lembre-se de que ela é muito maior. A calculadora trata de uma perspectiva mínima.
O consumo total, que envolve diferentes compras e atividades fora de casa, pode ser bem maior. A WWF projeta até 48 kg por brasileiro ao ano.
Segundo a consultoria S2F Partners, dedicada a soluções em resíduos e meio ambiente, a geração de lixo é proporcional à renda. Considerando hábitos dentro e fora de casa, a média de resíduos sólidos urbanos gerada por pessoa é de 380 kg por ano, sendo 62,73 kg de plásticos.
Quem recebe acima de R$ 12 mil por mês, em média, descarta 103,28 kg ao ano, 2,7 vezes o plástico gerado por quem ganha até R$ 543 por mês e 1,8 vez por quem tem renda de até R$ 1,3 mil.
Como calculamos?
A reportagem utilizou duas fontes principais para elaborar a calculadora. Para elencar os produtos, usou como referência a Cesta Básica de São Paulo de 2024 (lista atualizada por Procon e Dieese), que reúne produtos essenciais. Para saber a média de consumo per capita desses produtos, utilizou dados da última Pesquisa Orçamentária Familiar (POF) do IBGE, de 2018.
Além da POF, consultou relatórios de setores produtivos e solicitou alguns dados à consultoria Kantar.
Os dados da cesta são mensais e servem uma família de três pessoas, enquanto a POF apresenta dados anuais para uma pessoa. A calculadora normaliza esses dados e opta por compras da casa, ou seja, usa a métrica familiar. De acordo com o Censo da população de 2022, a média de moradores por domicílio no Brasil é de 2,79.
Para calcular o número de produtos consumidos por famílias a cada ano, os itens da cesta básica (já destinada a três pessoas) foram multiplicados por 12 meses e os dados da POF, por três.
Para calcular o peso do plástico, a Folha utilizou o peso-referência mais comum, indicado pelo Procon (como 250 g ou 5 kg, por exemplo). Então, pesquisou a gramatura do plástico em sites de varejistas especializados na venda de embalagens.
Para chegar ao peso final de lixo plástico por família, dividiu-se o total de itens adquiridos em um ano pelo peso-referência de cada embalagem.
A reportagem também ouviu especialistas do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV e a professora Marly Monteiro de Carvalho, da Fundação Vanzolini e do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, para validar a metodologia.
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