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Músicos jovens lideram a abertura do novo Teatro Cultura Artística

Filarmônica de Câmara Alemã de Bremen é corajosa e gentil ao inserir peça difícil de Villa-Lobos no programa

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Filarmônica de Câmara Alemã de Bremen

Avaliação: Ótimo
  • Quando: Seg. (26), qua. (28) e qui. (29) às 20h30
  • Onde: Teatro Cultura Artística - r. Nestor Pestana, 196, São Paulo
  • Preço: De R$283 a R$550

Há um mi bemol junto com um fá, e um lá bemol junto com um si bemol. As notas vizinhas empilhadas por Villa-Lobos num acorde de violoncelos foram o primeiro som do concerto oficial de reinauguração do Teatro Cultura Artística neste domingo. Totalmente modernizado, o teatro voltou enfim a funcionar após ter ficado desativado por dezesseis anos.

A Filarmônica de Câmara Alemã de Bremen, grupo responsável pelo primeiro concerto da temporada de assinaturas 2024 da Cultura Artística foi corajoso —e gentil— ao inserir a "Embolada", primeiro movimento das "Bachianas Brasileiras nº 1" de Villa-Lobos para abrir o programa.

Apresentação da Deutsche Kammerphilharmonie Bremen no Teatro Cultura Artística - Cauê Diniz/Divulgação

Coragem e gentileza explicam-se pelo fato de a espetacular composição ser complexa de se tocar e, também por isso, raramente executada, mesmo no Brasil. Concebida para oito violoncelos, ela imita, em sua introdução, o ritmo do pandeiro comum em uma embolada nordestina, base sobre a qual surgem melodias no estilo ao mesmo tempo exato e quebrado dos cantadores.

Interpretada pelos cellistas da orquestra, sem regente e com afinação primorosa, ela soou um pouco pesada em alguns momentos. Não é mesmo fácil sustentar as claves rítmicas afrobrasileiras em meio a tantas variações de tempo e caráter propostas pelo grande compositor carioca.

De todo modo, a "Bachianas nº 1" foi apenas um aperitivo, até porque somente o primeiro dos três movimentos foi tocado. Seguiu-se um clássico do repertório clássico, o "Concerto nº 4 para piano e orquestra" de Beethoven.

Foi exatamente com Beethoven que, em 2013, a Filarmônica de Bremen deixou marcas perenes na vida musical de São Paulo. Regida, na ocasião, pelo seu titular, Paavo Järvi, ela então interpretou em apenas quatro dias as nove sinfonias do compositor. Desta vez a orquestra trouxe como convidado o muitíssimo jovem maestro finlandês Tarmo Peltokoski, de tão só 24 anos.

O solista de piano foi o canadense de origem polonesa Jan Lisiecki. Hoje com 29 anos, ele estreou em São Paulo com a Osesp em 2012, tocando o "Concerto nº 1" de Chopin, quando tinha apenas 17 anos.

Para quem estava nas primeiras filas, por um momento pareceu que o piano soava um pouco acima da orquestra, mas ao longo dos três movimentos um ajuste fino dos próprios músicos foi deixando mais belos os diálogos entre solo e tutti.

O pianista canadense Jan Lisiecki - Holger Hage/Divulgação

Lisiecki tocou impecavelmente, e ainda trouxe como bis o "Noturno" em dó sustenido menor de Chopin. O piano soou muito bem na sala, e isso deu um gostinho do que poderão ser os recitais solo de pianistas programados para os próximos meses, como Lang Lang, no dia 7 de outubro, e Hélène Grimaud, em 27 e 28 de novembro.

Mas foi na segunda parte, quando a orquestra interpretou a "Sexta" e a "Sétima" sinfonias de Jean Sibelius (1865-1957), que a acústica do novo Cultura Artística foi mesmo posta à prova. Com sucesso.

O som é caloroso e nítido. As diferenças de dinâmica aparecem. Sopros e cordas não disputam espaço.

Nada melhor do que um jovem maestro para fazer vibrar uma nova sala. A música do velho finlandês —com sua estaticidade sempre plena— ganhou mil detalhes nas mãos de seu jovem compatriota.

É uma música que, em sua austeridade alongada, deixa espaço para muita fantasia. Escritas há exatos cem anos —a "Sexta" estreou em 1923 e a "Sétima" em 1924—, elas se complementam. A "Sexta", em quatro movimentos, parece nunca sair de um mesmo andamento e substrato modal, enquanto a "Sétima", executada em movimento único, muda de caráter continuamente.

Peltokoski é talentoso e detalhista. Regeu com muita segurança e foi se soltando ao longo do concerto. Como bis apresentou o grandioso "Andante Festivo" para cordas e tímpanos, também de Sibelius.

Jovens comandando um programa nada óbvio de música clássica, com quase duas horas de duração, prendendo a atenção da plateia em um teatro totalmente lotado. Muitos jovens também na plateia. Resultado: todo mundo saiu feliz.

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