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Moratória na Argentina significa piora adicional em cenário já ruim para o Brasil, dizem analistas

Agravamento da crise no vizinho tem impacto marginal para os ativos brasileiros, porque investidores já vinham fugindo dos países emergentes por causa da guerra comercial

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São Paulo

O agravamento da crise na Argentina, provocada pela moratória do pagamento de sua dívida, vem tendo um impacto marginal no preço dos ativos e na economia brasileira. Na tarde desta quinta-feira (29), o Ibovespa ignorava a situação no país vizinho e subia 1,58%, puxado pelos bons resultados do PIB no Brasil.

Para analistas ouvidos pela Folha, a moratória na Argentina representa uma piora adicional num cenário global de aversão ao risco que já vinha afastando investidores dos países emergentes, principalmente por causa da guerra comercial entre China e Estados Unidos.

“O mercado brasileiro hoje está muito exposto ao que vem ocorrendo nos Estados Unidos, com os investidores fugindo para o dólar, do que aos acontecimentos na Argentina”, diz Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria e professor do Insper.

Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o “choque” para o Brasil em relação à Argentina ocorreu duas semanas atrás, quando o candidato peronista Alberto Fernández venceu por larga margem o atual presidente Mauricio Macri nas prévias das eleições na Argentina.

Ele pondera que, naquela ocasião, já houve fuga de capitais em Buenos Aires, forte depreciação do peso e aumento da taxa de juros no país. “Ficou claro que a política econômica na Argentina vai mudar. O que veio depois —a moratória— é apenas uma consequência”, diz.

Também vale ressaltar que a integração entre Brasil e Argentina é muito mais comercial do que financeira. Não existem muitos investidores brasileiros expostos à dívida argentina, que sofrem com a moratória. Já na economia real o impacto da recessão no principal sócio do Mercosul vem sendo sentido faz bastante tempo.

De janeiro a julho deste ano, as exportações brasileiras para a Argentina somaram US$ 5,98 bilhões, uma queda de 40% em relação a igual período do ano anterior. O resultado é consequência da queda do PIB no país vizinho e teve forte impacto no setor automotivo —principal item do comércio entre os dois países.

Segundo o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, a entidade já havia revisto para baixo sua previsão de vendas para a Argentina em 2019, em função da crise no país vizinho. "Ainda é cedo para se quantificar possíveis novos impactos [da moratória] no nosso setor", afirmou.

“A moratória da Argentina termina com as especulações sobre a capacidade de o país cumprir o acordo. De um lado obviamente isso é ruim, mas por outro cria uma 'previsibilidade', abrindo espaço para a recuperação do país", disse.

De acodo com a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), a Argentina segue como o segundo principal destino do calçado brasileiro no exterior, apesar da crise. Entre janeiro e julho, foram exportados 4,6 milhões de pares, 28,5% a menos do que no mesmo período de 2018. ​

"As exportações de calçados brasileiros para a Argentina vêm caindo, ininterruptamente, desde o segundo semestre do ano passado em função da crise econômica local. O fato da moratória traz ainda mais incertezas para o mercado, mas por certo sabemos que é uma medida urgente para aliviar a pressão sobre as reservas e também a galopante desvalorização cambial do peso argentino", disse o  presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira.  

Para ele, a redução nas exportações devem continuar. "Dentro deste contexto, e diante de um ano eleitoral, acreditamos que as quedas sigam ocorrendo, pelo menos, até o final de 2019".
 

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