Boeing suspende produção do 737 MAX
Demora na liberação do modelo que sofreu acidentes fatais determinou ato; acordo com a Embraer por ora está de pé
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A gigante aeroespacial americana Boeing decidiu suspender temporariamente a produção do modelo 737 MAX, que está proibido de voar desde março, a partir de janeiro.
O avião, o principal produto da companhia com mais de 5.000 encomendas, sofreu dois acidentes em que morreram 346 pessoas, em outubro de 2018 e março deste ano.
Eles foram causados por uma combinação de problema técnico e treinamento falho, segundo apuração até aqui.
A empresa já havia reduzido a produção mensal do MAX de 52 para 42 unidades em sua fábrica em Renton, Estados Unidos.
A suspensão se deve pela demora na liberação do avião por autoridades aeronáuticas. Já há cerca de 400 aviões prontos abarrotando pátios.
A decisão é uma das mais graves já tomadas pela Boeing, que divide com a europeia Airbus a aviação comercial acima do nicho de 150 lugares no mundo. Suas ações caíram 4% após o anúncio, e analistas de mercado sugerem perdas para empresas fornecedoras da fabricante.
A Boeing está finalizando a compra da divisão de aviação comercial da brasileira Embraer, que produz aviões menores e lidera o mercado regional. Ela pagará US$ 4,2 bilhões (R$ 16,8 bilhões) por 80% do controle da linha, agora chamada de Boeing Brasil - Commercial.
O negócio, acertado no começo deste ano, segue de pé, segundo a Folha ouviu no começo da noite de segunda, logo após o anúncio formal dos americanos, de pessoas próximas às negociações.
Mesmo antes, o discurso era de otimismo: o diretor Darren Hulst, em visita a São Paulo, havia descartado numa conversa com a Folha em novembro qualquer interferência na compra.
De fato, no curto prazo não há investimentos necessários na Embraer, que tem uma azeitada máquina de entrega de aeronaves.
A dúvida surge, entre observadores do setor, é sobre a saúde financeira da Boeing no futuro, porque a fabricante nunca passou uma crise semelhante.
A empresa fatura astronômicos US$ 100 bilhões (R$ 400 bilhões) por ano. Já perdeu cerca de US$ 8 bilhões (R$ 24 bilhões) com problemas relacionados ao MAX, mas estava confiante em que as autoridades regulatórias liberariam o avião para voo em janeiro.
Isso não é tão certo, dadas as últimas dúvidas da investigação. É um caso bastante complexo, que guarda parentesco com outros momentos em que a tecnologia e treinamento falhos causaram tragédias, como na queda do Airbus-330 que matou 228 pessoas na rota Rio-Paris, em 2009.
Para compensar a mudança na posição dos motores do avião, que são maiores do que os utilizados na geração anterior (as séries 700 e 800 que operam no Brasil com a Gol), a Boeing dotou o MAX de um software que corrigia mudanças abruptas no ângulo de voo.
A questão é que o programa tinha falhas que induzia os pilotos a lidar com situações para as quais não havia treinamento nem alarmes em todos os casos.
Nos dois acidentes, um na Indonésia e outro na Etiópia, os aviões ficaram incontroláveis logo após a decolagem, um dos momentos mais críticos de qualquer voo.
A Boeing já apresentou correções para ambas as situações e nega ter incorrido em negligências que foram apontadas a partir do surgimento de mensagens entre funcionários da empresa, mas o dano de imagem é incomensurável.
Até aqui, 387 MAX haviam sido entregues. Sete deles voavam no Brasil, com a Gol, que encomendou ao todo 135 aeronaves para renovar sua frota de 737. O avião foi um dos maiores sucessos de lançamento da história aeronáutica.
Ninguém sabe onde a crise vai acabar neste momento. A direção da empresa americana vinha anunciando a volta ao serviço do avião de tempos em tempos, só para ser desmentida pela FAA (Administração Federal de Aviação, a poderosa Anac dos EUA).
A decisão da Boeing foi adiantada pelo jornal The Wall Street Journal, e confirmada em comunicado nesta segunda (16).
“Essa decisão foi motivada por uma série de fatores, incluindo a extensão da certificação [do MAX] para 2020, a incerteza sobre o cronograma, as condições para seu retorno ao serviço e as aprovações globais de treinamento e a importância de priorizar a entrega dos aviões estocados”, diz o texto.
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