Siga a folha

Cervejaria em SP retira rótulo com ilustração de escrava após acusação de racismo

Lata tinha como inspiração fotografia de uma mulher negra escravizada no final do século 19

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Uma semana após a fabricante de produtos de limpeza Bombril virar assunto nas redes sociais com a esponja de aço Krespinha, foi a vez de uma cervejaria artesanal paulistana ser acusada de racismo por internautas.

A Cafuza, rótulo da cervejaria Dogma, traz uma ilustração com uma mulher negra de cabelos crespos. O produto foi retirado do ar 2 horas após virar assunto no Twitter. A cerveja chega a custar R$ 35 em lojas terceirizadas e está indiponível em todas elas.

Em sem perfil nas redes sociais, a artista brasileira Marina Amaral denunciou o caso. “Vocês se lembram dessa foto tirada pelo Alberto Henschel que eu restaurei e colorizei? Pois é, alguém achou que seria uma boa ideia transformar o rosto dessa mulher escravizada, violentada, explorada e subjugada em imagem ilustrativa de lata de cerveja”, escreveu Amaral.

Foto captada por Alberto Henschel e que foi colorizada pela artista Marina Amaral. A foto foi usada como imagem ilustrativa de lata de cerveja "Cafuza" da cervejaria Dogma - Marina Amaral no Twitter

Após cobranças de usuários na conta do Instagram da cervejaria há uma semana, a empresa justificou que o rótulo foi feito há muito tempo. De acordo a resposta, o rótulo deixou de ser produzido no início de 2019 e que, caso volte a ser produzida, terá embalagem modificada.

Cafuzo é uma designação dada a miscigenação entre índios e negros africanos ou seus descendentes no Brasil.

A fotografia foi tirada pelo imigrante alemão Alberto Henschel em 1869, um dos empresários responsáveis por difundir a fotografia no Brasil no século 19 e por retratar a escravidão e a família real.

O retrato, que faz parte do acervo Leibniz-Institut für Länderkunde em Leipzig, na Alemanha, está em domínio público e pode ser reproduzida.

Foto captada por Alberto Henschel e que foi colorizada pela artista Marina Amaral - Marina Amaral no Twitter

A cervejaria artesanal paulistana foi fundada em 2015 e chegou a ser eleita a melhor cervejaria brasileira de 2015, 2017 e 2018 pelo RateBeer, site de avaliação especializado na bebida.

Em nota, a empresa lamentou o uso da figura de uma mulher escrava como embalagem da cerveja e que foi retirada de circulação. A cerverjaria também diz que estão elaborando estratégias para entender como podem aprender e colaborar oferecendo espaço de voz sobre o tema.

Outros casos

Na semana passada, a Bombril foi alvo de críticas pela esponja de aço Krespinha, produto que faz parte da marca há 70 anos. A hashtag #BombrilRacista chegou a ser o assunto mais comentado no Twitter. No mesmo dia, a empresa retirou a esponja do portfólio da marca.

A esponja foi redescoberta pelos consumidores num momento em que o tema do racismo voltou à ordem do dia, com os protestos pelo assassinato de George Floyd nos Estados Unidos, e a morte no Brasil dos meninos negros João Pedro e Miguel.

Nos Estados Unidos, a PepsiCo decidiu abandonar a marca de xarope para panquecas Aunt Jemima por sua origem em imagens racistas de pessoas negras, enquanto a empresa Mars avaliava mudar sua marca Uncle Ben, que leva um senhor negro de cabelos brancos no rótulo.

O movimento também veio após a morte de George Floyd e próximo ao Juneteenth (19 de junho, data da abolição da escravidão nos EUA, em 1865).

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas