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Cervejarias veem alta nas vendas, mas sofrem com preço de insumos

Preços não devem subir no curto prazo para não afugentar demanda

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Rio de Janeiro

Após a pandemia prejudicar negócios, cervejarias artesanais apostam em melhora nas vendas no segundo semestre. O copo meio cheio está associado à reabertura de bares e restaurantes e ao avanço da vacinação contra a Covid-19 no país. A combinação de fatores eleva expectativas de empresários para os próximos meses, mas não elimina a cautela do setor.

Os cervejeiros seguem preocupados com o aumento nos custos de produção ao longo da pandemia. Como o preço de insumos subiu em um período de dificuldades econômicas, o repasse para os consumidores ficou mais complicado. Assim, a tendência é que setor siga operando com margens de lucro mais enxutas —pelo menos no curto prazo.

“A gente tem um clima mais positivo para o segundo semestre. Mas ainda não há dados suficientes para saber o quanto essa melhora já está impactando os negócios no Brasil. Estamos falando de um país continental, e alguns estados podem ter situação melhor do que outros”, afirma Nadhine França, que deixou neste mês a presidência da Abracerva (Associação Brasileira de Cerveja Artesanal).

“Na pandemia, tivemos um problema sério com a falta de insumos. A compra de latas e vidro, por exemplo, foi bastante impactada. Isso aumentou os custos para o setor”, acrescenta.

Fábrica da Cervejaria Tarantino, em São Paulo - Eduardo Knapp/Folhapress

O especialista no segmento de bebidas José Gonçalves Antunes, da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), também chama atenção para a alta nas despesas. Além da elevação de preços de embalagens e ingredientes, o aumento da energia elétrica e do gás de cozinha passou a impactar as cervejarias, sublinha Antunes.

Mesmo assim, o especialista diz que parte das empresas já começou a sentir melhora nas vendas nos últimos meses. “Com a vacinação e a volta das pessoas aos bares e restaurantes, o consumo vem aumentando recentemente. Pelo menos aqui no Rio de Janeiro houve incremento. Há potencial de crescimento”, afirma Antunes.

Uma das cervejarias que apostam em melhora gradual dos negócios é a Brewpoint, de Petrópolis (RJ). “A gente percebe alguns indicadores positivos de consumo, já vê uma retomada das vendas, mas não no nível pré-pandemia”, frisa José Renato Romão, sócio da empresa. “O que preocupa agora é o aumento de custos internos. A gasolina subiu, o gás aumentou, e a gente não consegue fazer o repasse”, pondera.

O empresário conta que o cenário mais positivo passou a ser notado em maio, devido à reabertura de bares. Na fase inicial da pandemia, em 2020, a Brewpoint apostou na venda direta para o consumidor final, já que o setor de eventos e o ramo gastronômico haviam sido paralisados por restrições.

“Agora há um otimismo maior, mas é um otimismo com cuidado. A gente enfrentou problemas com insumos, e é preciso olhar os números com calma para não dar um tiro no pé na hora da retomada”, ressalta o empresário.

Pesquisa feita pela Abracerva entre março e abril dá uma dimensão dos impactos da pandemia no setor cervejeiro. Empresas ouvidas pela entidade tiveram redução média de 35% no quadro de funcionários em razão da crise.

Segundo o levantamento, que recebeu 125 respostas, a capacidade instalada girava em torno de 65% antes da pandemia. Esse percentual chegou a despencar para 18% após a chegada do coronavírus, no primeiro trimestre de 2020.

Ao longo do ano passado, houve um ensaio de recuperação. Em novembro, diz a Abracerva, a capacidade instalada alcançou 64% nas empresas entrevistadas. A questão é que a piora da pandemia derrubou novamente o indicador, para 23%, em fevereiro de 2021. A frustração refletiu o aumento de medidas restritivas para frear a Covid-19 à época.

A pesquisa também menciona que 24% das empresas entrevistadas afirmaram ter risco alto de fechar as portas neste ano. A maior parcela, de 41%, considera o risco moderado. Por fim, uma fatia de 35% aponta risco baixo.

“Nosso setor foi um dos mais impactados pela crise, devido ao fechamento de bares, restaurantes e eventos. Por isso, as cervejarias tiveram de se reinventar. Muitas sobreviveram com a venda direta”, destaca Nadhine.

A Cervejaria Tarantino, instalada no bairro do Limão, em São Paulo, faz parte do grupo que resolveu apostar nas entregas para o consumidor final. O delivery serviu nos últimos meses para atenuar os efeitos da pandemia.

“No começo da crise, ficamos quase 60 dias sem produzir 1litro de cerveja. Do dia para a noite, nosso projeto de ecommerce virou prioridade. A gente teve de acelerar as vendas por delivery”, comenta Gilberto Tarantino, sócio da empresa.

A exemplo de outros empresários do setor, ele vê um cenário mais positivo para o segundo semestre do ano. Na visão de Tarantino, há um interesse de parte da população em retomar antigos hábitos de consumo. Entre eles, o de frequentar bares e restaurantes.

Segundo o sócio, a perspectiva de melhora leva inclusive a Tarantino a estudar investimento para ampliação da capacidade de armazenagem na cervejaria. Antes da pandemia, a produção mensal ficava em torno de 30 mil litros por mês.

O empresário, contudo, reconhece que a alta nos custos de operação atrapalha os negócios. “O mercado não consegue absorver e repassar toda a alta de custos na mesma proporção. Assim, o setor fica com margens menores”, aponta.

Funcionários trabalham em fábrica da Cervejaria Tarantino, em São Paulo - Eduardo Knapp/ Folhapress

Apesar da pandemia, o número de cervejarias registradas no país subiu 14,4% no ano passado, conforme o Anuário da Cerveja 2020. O total de estabelecimentos chegou a 1.383, aponta a publicação, divulgada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

São Paulo é o estado com mais cervejarias: 285. O Rio Grande do Sul vem na sequência, com 258. Minas Gerais (178) completa o trio no topo da lista.

“A chegada da pandemia foi bem traumática, mas com certeza o viés é mais positivo agora. Há sinais interessantes, e a vacinação entra como uma aliada gigantesca. O cenário é positivo, sim, mas a cautela segue mantida”, afirma João Luís Giovanella, presidente da AGM (Associação Gaúcha de Microcervejarias).

“A gente sentiu bastante o aumento nos custos de produção e não conseguiu repassá-los. As margens foram espremidas como uma estratégia de sobrevivência”, completa o empresário, que é sócio-proprietário da Salva Craft Beer, do município de Bom Retiro do Sul (RS).

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