Idosos vacinados planejam retomar antigos hábitos de consumo

Integrantes do grupo prioritário na campanha de imunização dizem que continuam seguindo restrições

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Rio de Janeiro

Após receberem a segunda dose da vacina contra a Covid-19, idosos começam a fazer planos para retomar antigos hábitos de consumo. Uma das metas é voltar a viajar. Mas, enquanto a pandemia não dá trégua no país, parte do público sênior adota cautela e restringe deslocamentos a atividades consideradas essenciais.

É o caso da aposentada Renata Tonte, 72. Vacinada no início do ano, a moradora de São Paulo pretende viajar quando as condições sanitárias indicarem maior segurança.

Enquanto isso não acontece, ela diz que evita aglomerações e que procura sair de casa somente para ir a locais como o supermercado e consultas com profissionais da área da saúde.

A aposentada Renata Tonte, 72, que vive sozinha e, durante a pandemia, sai de casa apenas para as atividades essenciais - Adriano Vizoni/Folhapress

Durante a pandemia, Renata intensificou atividades e encontros de maneira online. Ela, aliás, se apresenta como uma influenciadora digital, já que produz conteúdos com dicas diversas em perfis de redes sociais.

“Procuro fazer as coisas com cuidado e ir apenas a lugares que têm higiene. A mala está pronta. Só está esperando a fronteira abrir”, brinca.

Idosos integram o grupo prioritário da vacinação no país. Entretanto, ainda não há dados disponíveis para medir o eventual impacto da imunização nos hábitos de consumo dessa faixa etária, relata Layla Vallias, cofundadora da consultoria de marketing Hype50+, especializada na chamada economia prateada.

Segundo Layla, a percepção é de que o público sênior continua com o pé no freio devido ao elevado número de casos de coronavírus, embora comece a fazer planos para gastos mais à frente.

“A vacinação traz um alívio, mas as pessoas ainda estão receosas. O que está mudando é o planejamento para o consumo, especialmente em áreas como turismo. Essa é a leitura do cenário”, comenta.

Com operações em São Carlos e São Paulo, o aplicativo de transporte Eu Vô sentiu os efeitos da pandemia na rotina do público mais velho. Criada em 2017, a plataforma reúne motoristas que levam idosos a atividades diversas, de consultas médicas a tarefas de lazer.

Em razão das restrições na crise sanitária, a demanda pelo serviço sofreu duro golpe no ano passado. Agora, com o início da vacinação, a expectativa ficou mais positiva, aponta Victoria Abdelnur Barboza, cofundadora do aplicativo.

A empreendedora afirma que, entre os meses de abril e maio, houve maior demanda por transporte na plataforma. A procura, contudo, segue mais voltada a atividades da área da saúde.

“Além da ida a postos de vacinação, os idosos estão retomando alguns compromissos. Tem gente indo para a fisioterapia, outros buscando exames médicos. São atividades que foram postergadas na pandemia”, conta a empreendedora.

Paulo Freixo, diretor-geral da rede de lojas de aparelhos auditivos Akousis, tem opinião semelhante. Conforme o empresário, a vacinação de idosos começa a gerar sinais positivos nos negócios, com a possibilidade de maior segurança para o público. “Tem sido fundamental. Está ajudando muito”, pontua.

A economista Catarina Carneiro da Silva, da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), reconhece que a imunização pode melhorar expectativas de consumo e reduzir restrições a atividades econômicas. Por outro lado, a analista menciona que desemprego elevado e perda de renda na crise desafiam a recuperação de parte dos negócios.

Segundo ela, a vacinação é fundamental para destravar principalmente o setor de serviços. É que esse segmento, responsável por cerca de 70% do PIB (Produto Interno Bruto), reúne operações com dependência da circulação de clientes. O grupo inclui bares, restaurantes e hotéis.

“Com a vacinação, as pessoas ficam mais confiantes para retomar atividades. Mesmo assim, tem gente que não se sente tão segura para sair de casa logo. A imunização é importante para que as coisas melhorem aos poucos”, analisa a economista.

O engenheiro mecânico Horacio Alberto Steinmann, 71, faz parte dos vacinados que mantêm precauções enquanto a pandemia não é superada. Ele relata que, desde o início da crise sanitária, procura sair de casa apenas para trabalhar e ir ao supermercado e a farmácia.

O morador de São Paulo tem planos para voltar a viajar com sua esposa, Heloísa, mas não neste momento. A ideia é esperar a melhora no quadro sanitário.

“Ainda não me sinto à vontade para pegar um avião”, conta Steinmann. “Quero ir para uma praia e poder caminhar tranquilamente”, acrescenta.

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