Desavisados vão a local de prova e ficam surpresos com suspensão de concurso

Decisão de suspender realização da prova foi anunciada pelo governo na sexta por causa das chuvas no Rio Grande do Sul

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São Paulo

Candidatos do CNU (Concurso Nacional Unificado) —conhecido também como Enem dos concursos— chegaram na manhã deste domingo (5) aos locais de prova e foram surpreendidos com portões fechados e instituições vazias.

A surpresa infeliz aconteceu após o adiamento da prova, anunciado na sexta (3) pela ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck.

A decisão foi tomada após chuvas deixarem mortos no Rio Grande do Sul e temporais atingirem Santa Catarina nos últimos dias. Os inscritos afirmam que não souberam do anúncio e que não houve notificação da mudança na data.

Eduardo Almeida e Mayara Brito não sabiam que a aplicação da prova do CNU havia sido cancelada - Rubens Cavallari/Folhapress

"Tomei um susto, dei diversas voltas no quarteirão para ter certeza de que não estava errando o local da prova, eu não vi nenhuma notícia, não recebi nenhuma notificação ou email, só descobri agora que foi adiada", disse Aline Kalafi, 32, uma das candidatas que não sabiam do adiamento.

Kalafi, que é nutricionista, afirma que estava se preparando para a prova desde sua inscrição e que não viu o tema sendo repercutido em jornais ou redes sociais.

Ela tenta uma vaga no bloco temático educação, saúde, desenvolvimento social e direitos humanos.

A Folha foi à porta da unidade da Unip (Universidade Paulista), na avenida Marquês de São Vicente, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Lá seria o maior colégio de aplicação de provas do CNU na capital paulista.

A reportagem chegou à universidade por volta das 7h e permaneceu na frente da instituição até as 8h40. Os portões, pelo cronograma oficial que foi suspenso, seriam abertos às 7h30 e fechariam às 8h30, com início da aplicação dos testes às 9h.

Ao menos nove candidatos, como Kalafi, foram ao local para tentar fazer a prova. Quatro deles falaram com a reportagem.

Eduardo Almeida, 44, também não sabia do adiamento. Inscrito no bloco temático de Trabalho e Saúde do Servidor, ele afirmou que ouviu falar sobre as chuvas e possibilidade de adiamento, mas não a oficialização.

"Tenho a sorte de morar na região, o deslocamento demanda tempo e nem todos têm essa facilidade. O concurso é a oportunidade de melhorar de vida, de estabilidade, mas realmente é uma situação complicada que estamos passando no Sul, temos de nos solidarizar."

Almeida, apesar de se dizer levemente frustrado, vai usar o tempo extra para estudar mais para a seleção. O MGI ainda não anunciou nova data para a realização da prova.

"Não tem muito tempo que me preparo, venho estudando, mas não sou um concurseiro. Por um lado, tem essa questão de aproveitar a oportunidade. Porém, fica um pouco de ansiedade para a prova, o que não estava planejado."

Candidatos do concurso nacional também compartilharam o choque do adiamento no X, antigo Twitter. Entre os comentários, o mais comum aponta para a falta de comunicação do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos sobre a suspensão do exame.

Giovane Biasi de Oliveira, 60, atualmente trabalha na aeronáutica e disse que não checou novamente as plataformas do MGI e Cesgranrio após a última segunda (29), quando imprimiu seu cartão de confirmação de inscrição.

"Vim sem preparo para prova, depois de uma semana me recuperando de dengue, e é frustrante chegar aqui e não encontrar ninguém", afirma ele.

Ele tenta uma vaga no bloco temático de trabalho e saúde do servidor, na vaga de auditor-fiscal do trabalho.

Mayara Britto, 31, formada em arquitetura, afirma que não viu nenhuma notícia ou acessou o site dos responsáveis pelo concurso após o anúncio de Dweck.

"Ontem [sábado (4)] tirei o dia para descansar depois de focar em estudar para a prova. Saí do meu antigo emprego em janeiro para focar nos estudos para o concurso. Chegar aqui e ver tudo vazio é desesperador, porque eu não sabia de nada."

Britto irá prestar a prova para vagas do bloco temático de infraestrutura, exatas e engenharias.

A pasta responsável pela organização do concurso, disseram eles, enviou, neste sábado (4), email aos candidatos avisando do adiamento da prova e da não realização da prova na data prevista.

Procurado, o MGI afirma que foi enviado comunicado sobre o adiamento das provas a todos os 2,1 milhões de candidatos inscritos e que na página principal do Ministério da Gestão e da Fundação Cesgranrio há comunicado com destaque sobre o adiamento do concurso.

QUAL A NOVA DATA DAS PROVAS?

O governo não tem ainda uma nova data das provas, que será aplicada de forma simultânea em todas as 228 cidades previstas no edital. Para definir a data, é preciso aguardar o que será feito em relação ao Sul, porque as chuvas e seus efeitos ainda não pararam.

Há, no entanto, o cronograma de horário de aplicação. Ele não deve mudar e deve ser mantido no dia em que o exame ocorrer.

AS PROVAS ESTÃO SEGURAS? COMO SABER SE NÃO VÃO VAZAR?

As provas estão mantidas em unidades dos Correios. Desde o início da produção dos testes, há acompanhamento da Abin, da Polícia Federal, da Polícia Federal Rodoviária e do Ministério da Justiça.

QUAL A SITUAÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL PARA LEVAR AO ADIAMENTO DO CONCURSO?

Até este domingo (5), o Rio Grande do Sul registrou 75 mortes em decorrência das fortes chuvas que atingem o estado desde o fim da semana. A informação foi confirmada pelo governo estadual. Há um total de 103 desaparecidos.

O boletim do governo gaúcho diz ainda que há 780.725 pessoas afetadas pela tragédia e 155 feridos. Entre as 75 mortes informadas pelo governo, há 6 em investigação para determinar se, de fato, foram causadas pelas chuvas.

De acordo com a Defesa Civil, 334 municípios foram afetados pela enchente histórica. Ao todo, há 16.609 desabrigados, instalados em alojamentos cedidos pelo poder público, e 88.019 desalojados.

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