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Descrição de chapéu petrobras

Mercado enxerga Petrobras no rumo certo, mas declarações sobre preços derrubam ações

Especulações sobre intervenções do governo comprometem desempenho da empresa

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São Paulo

As ações da Petrobras figuraram entre as principais baixas da Bolsa de Valores brasileira nesta terça-feira (14), movimento influenciado pela preocupação de investidores quanto a eventuais intervenções políticas na estatal após o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), criticar as altas da gasolina, do diesel e do gás de cozinha.

Os papéis preferenciais da estatal (PETR4) encerraram o pregão desta terça com queda de 1,33%, enquanto as ações ordinárias (PETR3) caíram 0,74%, contribuindo para que o Ibovespa, principal índice da B3, fechasse o dia com queda de 0,19%, a 116.180 pontos.

Analistas afirmam que a gestão da Petrobras é correta –a empresa usa como base para os valores que pratica o preço de paridade de importação–, mas as repetidas declarações atribuindo à empresa a culpa pelos aumentos de preços têm prejudicado o seu desempenho.

O general Joaquim Silva e Luna, presidente da Petrobras, durante audiência na Câmara dos Deputados - Adriano Machado/Reuters

Na noite desta segunda-feira (13), Lira criticou a alta dos combustíveis ao anunciar a participação do presidente da estatal, Joaquim Silva e Luna, na comissão geral da Câmara que debateu o tema nesta terça.

“Tudo caro: gasolina, diesel, gás de cozinha. O que a Petrobras tem a ver com isso? Amanhã, a partir das 9h, o plenário vira comissão geral para questionar o peso dos preços da empresa no bolso de todos nós. A Petrobras deve ser lembrada: os brasileiros são seus acionistas”, escreveu Lira no Twitter.

Nesta terça, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também fez críticas aos reajustes dos combustíveis. "No Brasil o mecanismo é um pouco mais rápido [de repasse], lembrando que a Petrobras passa preços muito mais rápido do que grande parte dos outros países, a gente tem olhado isso também", afirmou.

A pressão política sobre os preço dos combustíveis “é o principal ponto de dúvida" do mercado em relação à Petrobras, segundo Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos. "A gente sabe que é uma questão sensível”, afirma.

A casa mantém uma recomendação neutra para as ações da Petrobras, apesar do que Arbetman considera um momento positivo para o petróleo e companhias do setor com escala, como a Petrobras: recuperação de demanda e o preço do Brent acima de US$ 70 —o barril fechou em alta de 0,64% nesta terça, cotado a US$ 73,98 (R$ 386,62).

O que o mercado teme é que a pressão sobre a estatal termine com intervenção na sua política de preços.

“A gente sabe que o Lira vociferou a opinião de uma parcela da população", diz o analista.

Nesta terça, na audiência da Câmara, Silva e Luna afirmou que a Petrobras seria compensada em caso de interferência para barrar a alta de preços, a exemplo do ocorrido na gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB), quando a redução temporária do preço do diesel fez parte da negociação para o encerramento da greve dos caminhoneiros.

“Em conformidade com a Constituição, e os senhores sabem disso, ela [Petrobras], quando orientada pela União em condições diversas de qualquer sociedade privada que atue no mercado, será compensada”, disse.

​Para Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, o fantasma da intervenção ressurge devido ao histórico recente da companhia, prejudicando a visão que o mercado tem da empresa.

“O investidor que faz a análise da Petrobras, das expectativas de produção, encontra valor na empresa, mas é obrigado a dar descontos pela questão política porque falas de agentes políticos sempre atribuem à estatal falhas que não são dela, mas sim da nossa economia”, diz Moliterno.

“O dólar alto também afeta o preço dos combustíveis, e o dólar está caro por motivos como o nosso risco fiscal e a crise política”, comenta. “A Petrobras está no caminho certo, considerando aquilo que uma empresa deve ser. As questões que envolvem os governos é que travam.”

O dólar subiu 0,67% nesta terça, cotado a R$ 5,2580.

Pietra Guerra, especialista em ações da Clear Corretora, destaca que as declarações de Lira podem ter impactado nas ações da Petrobras, o que ela avalia como normal “considerando o histórico” da companhia.

“Entendo que essa conversa [na Câmara] gerou alguma especulação sobre mudança na política de preços da estatal, mas vale colocar que, em sua fala, Silva e Luna ressaltou que vai seguir no comando e o bom trabalho feito na empresa e que o presidente nunca interveio diretamente na companhia”, diz Guerra.

Para analistas, Silva e Luna mantém premissas do antecessor, Roberto Castello Branco, como o plano de venda de refinarias, saneamento de dívidas e manutenção da política de preços.

Prejudicadas pela queda nos preços do minério de ferro, as ações da Vale (VALE3) caíram 0,71%, também contribuindo para o recuo do Ibovespa. Os papéis da mineradora foram os mais negociados do dia, à frente dos da Petrobras, que ocuparam a segunda posição.

A Bolsa brasileria também foi afetada nesta terça por pelo exterior, cujo clima positivo gerado pela manhã com divulgação de uma inflação fraca nos Estados Unidos não se sustentou. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq fecharam com quedas de 0,84%, 0,57% e 0,45%, respectivamente.

O IPC (Índice de Preços ao Consumidor) dos preços mês a mês se desacelerou para 0,03% ante julho, abaixo dos 0,9% de maio a junho e é uma queda ante os 0,5% de junho a julho.

Os dados foram inicialmente interpretados como um sinal de que a manutenção de estímulos à economia americana, sem elevação da taxa de juros, poderia favorecer investimentos em mercados emergentes, como o do Brasil.

Ao longo do dia, porém, preocupações com o ritmo do crescimento da economia mundial contaminaram o mercado, segundo João Vítor Freitas, analista da Toro Investimentos.

“Houve a interpretação de que isso abriria espaço para mais estímulo, mas o mercado acabou mudando esse entendimento e ficou uma imagem de uma inflação um pouco mais persistente, ao mesmo tempo que o crescimento não está tão forte assim, gerando um receio de redução do ritmo de crescimento em todo o mundo”, diz Freitas.

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