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Inflação nos EUA desacelera em agosto

Crescimento em ritmo lento sugere que alta de preços pode ter atingido seu pico

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Colby Smith
Nova York | Financial Times

Os preços ao consumidor nos Estados Unidos subiram em ritmo mais moderado em agosto, em um sinal de que as pressões inflacionárias associadas à reabertura da economia depois dos lockdowns da Covid-19 estão se aliviando um pouco, depois de atingirem sua maior marca em 13 anos.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), publicado pelo Serviço de Estatísticas do Trabalho americano nesta terça-feira (14), mostrou alta de 5,3% em agosto, ante o mesmo mês em 2020 —pouco abaixo dos 5,4% reportados anteriormente, a maior marca desde 2008 e confirmando as previsões dos economistas quanto a uma inflação de 5,3%.

O avanço dos preços mês a mês se desacelerou para 0,03% ante julho. Isso fica bem abaixo dos 0,9% de maio a junho e é uma queda ante os 0,5% de junho a julho.

O IPC subjacente, com a exclusão de itens voláteis como alimentos e energia, também mostrou desaceleração. O ritmo mensal caiu para 0,1%, a menor alta desde fevereiro. Comparado ao ano anterior, o índice teve alta de 4%, ante os 4,3% de julho.

A maior parte dos avanços de preço este ano parece ter vindo dos setores mais suscetíveis a gargalos de abastecimento e outros desordenamentos causados pela pandemia.

Embora o ritmo da inflação esteja próximo de sua marca mais alta em diversos anos, os números de julho mostraram os primeiros sinais de que a alta está se reduzindo —especialmente nos preços de carros e caminhões usados e nas despesas de viagens, que vinham puxando parte substancial da alta.

O número mais recente do IPC oferece confirmação adicional de que as pressões de preços nesses setores começam a se atenuar. Embora os preços dos carros e caminhões usados continuem cerca de 32% mais altos do que sua marca um ano atrás, eles caíram em 1,5% com relação a julho.

Em sinal de que a variante delta do coronavírus, mais contagiosa, está prejudicando os negócios, as passagens aéreas viram queda de 9,1% no mês, enquanto as diárias de hotel caíam em 2,9%.

“A inflação relacionada à reabertura da economia já chegou ao fim de seu curso, com os preços retornando aos níveis anteriores à pandemia os ou ultrapassando, mas a difusão da variante delta, que parece estar pesando sobre a demanda por serviços que envolvem alto contato, voltou a colocar pressão de baixa sobre esses preços”, disse Paul Ashworth, economista chefe da consultoria Capital Economics.

A despeito do crescimento de preços mais lento em agosto, os consumidores estão preparados para uma continuação da inflação mais forte, e as expectativas inflacionárias deles para o curto e médio prazo são agora as mais altas desde 2013, quando a pesquisa sobre isso foi iniciada, de acordo com dados publicados pela unidade de Nova York do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, na segunda-feira (13).

Ao longo dos próximos 12 meses, os consumidores esperam uma inflação da ordem de 5,2%, 0,3% pontos percentuais acima da marca de julho, o décimo mês consecutivo de alta. Em um horizonte de três anos, eles antecipam inflação anual de 4%.

A vasta maioria dos economistas pesquisados no mais recentemente levantamento conduzido pela parceria entre o Financial Times e a Iniciativa de Mercados Globais da Escola Booth de Administração de Empresas, da Universidade de Chicago, também acredita que a inflação ficará acima da duradoura meta do Fed, de pouco mais de 2% anuais, por algum tempo.

Cerca de 70% dos entrevistados disseram que era “razoavelmente” ou “muito” provável que o indicador preferencial do Fed quanto à inflação —os gastos subjacentes de consumo pessoal, um índice conhecido como PCE—​ continuaria a exceder os 2% anuais até o final de 2022. Recentemente, ele está em torno dos 3,6%.

O relatório sobre o IPC mostrou que algumas pressões inflacionárias começam a se fazer sentir em outros setores, como o de habitação.

O índice de equivalência de aluguel, que mede quanto custaria a um dono de casa própria alugar uma moradia equivalente à sua, subiu em mais 0,3% de julho a agosto, para um total acumulado de 2,5% ante o período em 2020. Os custos de moradia estão em média 2,8% mais altos do que no ano anterior.

“As partes da inflação que estavam ligadas a setores que se reabriram e tiveram grande aceleração já mostram algum recuo, mas existe certo reconhecimento de que outras partes, como os aluguéis, estão na verdade em alta”, disse Jim Caron, gerente da carteira de renda fixa da administradora de investimentos Morgan Stanley Investment Management. “Isso significa que a inflação é transitória mas pode demorar um pouco mais para cair”.

“Isso confirma nosso argumento quanto a uma inflação mais alta em 2021”, disse Monica Defend, diretora mundial de pesquisa da administradora de investimento Amundi, acrescentando que era provável que o pico da alta de preços já tivesse passado.

Os dirigentes do Fed estão debatendo sobre quando começar a reduzir o programa de aquisição de ativos de US$ 120 bilhões colocado em ação no ano passado a fim de apoiar os mercados financeiros e proteger o país contra uma contração financeira mais acentuada.

O banco central estabeleceu dois limiares a atingir antes que ele comece a retirar o apoio, entre os quais “progresso adicional e substancial” rumo a inflação de 2% e máximo emprego. As autoridades concordam em que a primeira dessas condições já foi cumprida.

Nenhum anúncio de retirada das medidas de apoio é antecipado para a reunião do comitê de política monetária do banco central na semana que vem, especialmente depois dos números mornos do emprego em agosto. Os economistas pesquisados pelo Financial Times e pela Iniciativa de Mercados Globais estão se preparando para ação na reunião do banco central em novembro.

Os títulos do Tesouro americano se recuperaram depois do relatório contido sobre a inflação, com a nota de 10 anos, o título de referência do mercado, sendo negociada a 1,29%.

Tradução de Paulo Migliacci

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