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Nova variante e aperto monetário nos EUA deixam Bolsa perto de perder os 100 mil pontos

Ibovespa renova pior marca do ano e fecha em queda pelo quinto mês seguido

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São Paulo

A Bolsa de Valores brasileira chegou perto de fechar abaixo dos 100 mil pontos nesta terça-feira (30), em um dia de preocupação sobre a eficácia das vacinas no controle da pandemia da Covid-19 e com a sinalização de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) poderá acelerar o fim do seu programa emergencial de compra de ativos e antecipar o aumento dos juros básicos nos Estados Unidos, o que reduziria a disponibilidade de dinheiro para investimentos nos mercados de ações globais.

O Ibovespa fechou em queda de 0,87%, a 101.915 pontos. O recuo em novembro foi de 1,53%, e pela quinta vez seguida o índice encerra um mês no vermelho. A última alta mensal, de 0,46%, ocorreu em junho. De lá para cá, o mercado acionário do país já afundou 19,63%.

O resultado desta terça também renova a pior marca diária do índice desde 6 de novembro de 2020, quando fechou em 100.925 pontos.

Na mínima do dia, o Ibovespa recuou a 100.074 pontos. Desde 4 de novembro de 2020 a Bolsa não fecha abaixo dos 100 mil pontos, marca alcançada pela primeira vez em um encerramento de pregão em 19 de junho de 2019.

Enfermeira prepara seringa com dose de vacina da Pfizer contra a Covid-19 em centro de vacinação na França - Jeff Pachoud/AFP

O dólar subiu 0,42%, a R$ 5,6370, refletindo a expectativa de valorização mundial da moeda devido à possível mudança na política monetária americana.

Acompanhando as quedas dos mercados da Ásia, Europa e dos Estados Unidos após um novo alarme sobre os riscos da nova variante do coronavírus, a Bolsa brasileira passou a maior parte do dia negativa.

Os investidores foram abalados pela declaração do presidente da farmacêutica Moderna, Stéphane Bancel, sobre a possibilidade de que as vacinas contra Covid-19 existentes não sejam tão eficazes contra a variante ômicron quanto são contra a delta.

"Não existe um mundo, acho, onde [a eficácia] é do mesmo nível que tivemos com a delta", disse Bancel ao jornal Financial Times.

O ambiente para investimentos em ações piorou no decorrer do dia após o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmar que a autoridade monetária americana discutirá a aceleração da redução de suas compras de títulos em sua próxima reunião.

Desde o início da pandemia o banco central dos Estados Unidos compra ativos, além de manter os juros básicos praticamente zerados, como forma de ampliar a liquidez e, assim, reduzir os efeitos da crise gerada pela pandemia.

Com a retomada econômica e a inflação ganhando força, o Fed deu início a uma retirada lenta e gradual desses estímulos para tentar desacelerar a alta nos preços.

A declaração de Powell surpreendeu o mercado porque as notícias sobre a nova variante do coronavírus levaram investidores a apostar que a autoridade americana poderia até mesmo desacelerar ainda mais a retirada dos incentivos. ​

A pressão inflacionária obrigará o Fed a pôr fim a um ciclo de oferta de liquidez que remonta à crise imobiliária nos Estados Unidos em 2008, avaliou Luis Stuhlberger, gestor da Verde Asset Management, ao traçar um cenário para 2022 durante evento da empresa de análise Inversa.

Para Stuhlberger, a conta parece ter chegado e está representada na queda na popularidade do presidente americano Joe Biden, muito em razão da inflação, que tira o poder de compra da população. "Esse é um aviso de que o banco central [americano] não pode tudo", disse.

Os índices de ações americanos fecharam com quedas acentuadas. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq cederam 1,86%, 1,90% e 1,55%, respectivamente.

Na Europa, as bolsas de Londres, Paris e Frankfurt caíram 0,71%, 0,81% e 1,18%, respectivamente. O índice Euro Stoxx 50, que acompanha 50 das principais empresas da região, perdeu 1,13%.

Na Ásia, as bolsas de Tóquio e Hong Kong fecharam em queda de 1,63% e 1,58%, cada. O índice para empresas chinesas de Xangai e Shenzhen cedeu 0,40%.

Os acontecimentos internacionais colocaram em segundo plano o andamento da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Precatórios no Congresso, cujo atraso na conclusão é um dos principais motivos para as perdas do Ibovespa ao longo do mês.

Para garantir a aprovação no Senado da PEC dos Precatórios, que viabiliza o Auxílio Brasil de R$ 400, o governo cedeu à pressão e aceitou deixar despesas com dívidas ligadas ao Fundef (fundo da área de educação) fora do teto dos gastos. Isso abriu caminho para que a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) aprovasse nesta terça a nova versão da PEC, que agora segue para o plenário do Senado.

Para Stuhlberger, da Verde, o governo teria evitado parte da deterioração do Ibovespa se já tivesse vendido ao mercado a proposta que está em análise hoje pelo Congresso. "Agora é aquela história, a pasta de dente saiu do tubo, e você não pode colocar ela de volta."

Críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a política de preços da Petrobras ainda deram contribuições menos significativas para o resultado negativo no mercado acionário do país.

O índice chegou à mínima do dia, porém, às 14h09, pouco depois de começar a circular na imprensa uma declaração de Lula sobre a sua intenção de alterar a atual política de preços da estatal.

"Digo em alto e bom som: nós não vamos manter essa política de preços de aumento do gás e da gasolina que a Petrobras adotou por ter nivelado os preços pelo mercado internacional. Quem tem que lucrar com a Petrobras é o povo brasileiro", disse Lula em entrevista à Rádio Gaúcha.

Analistas avaliam que as declarações têm pouca participação nos resultados negativos de Ibovespa e Petrobras.

Felipe Vella, da Ativa Investimentos, atribuiu as perdas a temores de nova desaceleração econômica provocada pela variante ômicron, combinada à ampliação da aversão ao risco proporcionada por manifestação do Fed (Federal Reserve) sobre uma retirada mais rápida dos estímulos econômicos nos Estados Unidos.

Rodrigo Crespi, da Guide, destacou que o contexto global derrubou a cotação do petróleo, prejudicando empresas ligadas à commodity.

"O que pesa muito mais na Petrobras é a queda do petróleo tipo Brent, que chegou a romper a barreira dos US$ 70 (R$ 393,35) por barril, o que acabou afetando todo o setor ligado à commodity listado na Bolsa", diz.

Ao final do dia, o petróleo fechou em queda de 3,91%, a US$ 70,57 (R$ 396,55).

As ações preferenciais da Petrobras caíram 0,14%, respondendo pelo maior volume de negociações da Bolsa.

Itaú Unibanco e Bradesco recuaram 1,24% e 1,78%, respectivamente.

A Vale subiu 0,65%, respondendo à alta no mercado futuro de minério de ferro. A maior alta do dia foi da CCR, que avançou 6,95%.

Colaborou Lucas Bombana

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