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Chefes jovens e mulheres são mais favoráveis a jornada de 4 dias

Diretora de empresa britânica diz que lucros subiram 200% desde a adoção de semana reduzida

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Pilita Clark
Londres | Financial Times

Primeiro foi trabalhar de casa. Agora, é a semana de trabalho de quatro dias que está mudando a vida profissional de maneiras que teriam parecido impensáveis antes da pandemia da Covid-19.

Pelo menos é isso que você imaginaria, com base nas manchetes das últimas semanas. Na semana passada, o Landmark London, hotel elegante em Marylebone (Londres), anunciou que estava oferecendo aos seus chefes de cozinha uma jornada semanal de trabalho de quatro dias, com salários mais altos.

Um dia antes, a divisão britânica da fabricante japonesa de câmeras Canon anunciou que estava considerando um projeto-piloto que envolveria semanas de quatro dias de trabalho para seus cerca de 140 empregados no Reino Unido, e instituições de pesquisa britânicas revelaram estar buscando empresas interessadas em participar de um teste desse conceito com a duração de seis meses.

Ilustração de Carolina Daffara

Menos de duas semanas antes, a Panasonic, rival japonesa da Canon, anunciou planos para oferecer aos seus empregados a opção uma jornada semanal de quatro dias, a fim de lhes propiciar um equilíbrio melhor entre vida e trabalho.

E, antes disso, uma jornada semanal de trabalho mais curta já estava sendo testada, planejada ou lançada em toda parte, do Atom Bank no Reino Unido aos escritórios da Unilever na Nova Zelândia e os governos da Islândia, da Espanha e dos Emirados Árabes Unidos.

Mas os fãs da semana de quatro dias de trabalho podem guardar o champanhe, porque uma nova pesquisa publicada no Reino Unido revela que, pelo menos por enquanto, a jornada semanal de quatro dias de trabalho está longe de ser adotada em massa.

Apenas 7% dos gestores a puseram em prática, ou decidiram fazê-lo, de acordo com a Be The Business, organização sem fins lucrativos britânica cujo objetivo é estimular o aumento da produtividade.

Isso fica ligeiramente acima dos 5% de fevereiro do ano passado, quando a organização conduziu seu levantamento anterior com dirigentes de pequenas e médias empresas de todo o país; a proporção de executivos que dizem estar pensando a respeito de uma semana de trabalho de quatro dias também subiu, de 17% para 20%.

Cerca de metade daqueles que não adotaram uma semana de trabalho mais curta declarou que agora era mais provável que considerasse a ideia do que antes da pandemia, mas quase 30% dos entrevistados dizem que jamais a considerariam.

Essas constatações batem com as de outro levantamento com gestores do Reino Unido, esses em sua maioria de empresas maiores, encomendado pelo Chartered Management Institute no mês passado.

Apenas 6% deles tinham semanas de trabalho de quatro dias em vigor em suas empresas, e, ainda que mais de metade dos entrevistados tenham dito que suas organizações estavam considerando a ideia ativamente, notáveis 73% disseram que acreditavam ser muito improvável que ela viesse a ser adotada.

E isso apesar de grandes maiorias entre os pesquisados acreditarem que a semana de quatro dias de trabalho aumentaria a produtividade, tornaria os funcionários mais felizes e facilitaria a retenção de trabalhadores.

No entanto, suspeito que não vai demorar muito para que a semana de trabalho de quatro dias comece a correr, em vez de claudicar. Por quê? Porque os gestores jovens se interessam muito mais pela ideia do que líderes mais velhos que eles estão a caminho de substituir.

Quase 80% dos executivos seniores com idade inferior a 35 anos gostam da ideia de adotar uma semana de trabalho de quatro dias, ante 56% dos executivos com idade de 55 anos ou mais, de acordo com dados do Chartered Management Institute.

Esse descompasso entre as idades também está presente nos dados da pesquisa da Be The Business, que além disso também mostrou que as mulheres em funções de chefia demonstravam um pouco mais de interesse do que os homens pela jornada semanal de quatro dias: 64% ante 57%.

A ideia com certeza funcionou bem para Rachel Garrett, 40, diretora-executiva da CMG Technologies, empresa altamente especializada de moldagem de metais por injeção, em Suffolk. A companhia adotou em 2015 a semana de trabalho de quatro dias para seus 30 e poucos funcionários, sem corte de salários, na esperança de que isso contentasse os trabalhadores.

"Para nós, reter pessoal e manter os empregados satisfeitos é crítico", disse Garrett na semana passada, acrescentando que a produção havia subido 25% desde que a semana de trabalho mais curta foi adotada e que os lucros haviam crescido 200%.

Ela não acredita que a redução na jornada semanal de trabalho seja completamente responsável por isso, mas que o fator tenha exercido influência significativa.

A ideia um dia ousada de folga no final de semana para os trabalhadores surgiu depois que a Revolução Industrial criou um ritmo de trabalho frenético nas fábricas, que deixava os operários em estado de exaustão permanente.

Como aponta o analista político britânico James Plunkett em seu livro "End State", empregadores progressistas descobriram que jornadas de trabalho mais curtas energizavam o pessoal e que a produção por hora e a produção total cresciam.

Talvez não seja difícil imaginar que os trabalhadores esgotados pela moderna revolução na tecnologia poderiam se tornar mais produtivos caso o final de semana passasse a durar três dias em vez de dois.

Tradução de Paulo Migliacci

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