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Entenda por que o 5G está gerando problemas na aviação americana

Companhias aéreas temem a interferência nos altímetros, mas os grupos de telecom dizem que não há questões de segurança

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Philip Georgiadis Anna Gross Steff Chavez
Londres e Chicago | Financial Times

Os reinos altamente técnicos da tecnologia sem fio e da aviação explodiram em fúria nos Estados Unidos nesta semana, depois que as companhias aéreas advertiram sobre o possível caos se as telecoms lançassem novas redes 5G na quarta-feira (19), como planejado.

O 5G vai oferecer aos usuários de telefones celulares conexões super-rápidas e deverá acelerar a digitalização de muitas indústrias. Mas as companhias aéreas levantaram preocupações sobre potencial interferência em seus sistemas de instrumentos.

Os grupos de telecomunicações AT&T e Verizon disseram na terça-feira (18) que tinham concordado voluntariamente em reescalonar o 5G perto de alguns aeroportos enquanto levavam adiante o lançamento da tecnologia em todo o país. As medidas atenuaram o duelo com a indústria de transportes aéreos.

Mas não totalmente: várias grandes companhias internacionais cancelaram ou usaram aeronaves diferentes em diversos voos para os EUA na manhã de quarta.

A Emirates suspendeu os serviços para nove cidades americanas, incluindo Boston, Chicago e Miami, enquanto a Air India e a ANA do Japão também cancelaram voos.

Bancadas de atendimento da Emirates vazias no Logan Airport, após a companhia ter cancelado todos os voos no aeroporto por preocupações com a instalação do 5G - Brian Snyder - 19.jan.2022/Reuters

Outras, incluindo British Airways, Cathay Pacific e Korean Air, trocaram de aviões para não usar o Boeing 777 em alguns aeroportos dos EUA. O jato de fuselagem larga ainda não recebeu certificação para pousar em alguns aeroportos afetados pelo uso do 5G.

A Delta Air Lines também disse que planejava possíveis cancelamentos "causados pela implantação do novo serviço 5G nas proximidades de dezenas de aeroportos dos EUA".

A United Airlines explicou que, embora os cancelamentos em massa tenham sido evitados, "prevemos pequenas interrupções em alguns aeroportos devido às restrições restantes sobre o 5G".

Como os Estados Unidos chegaram a esse ponto com a tecnologia 5G, que já existe em outros países atendidos por companhias aéreas? Aqui estão algumas respostas.

Por que as companhias aéreas estão preocupadas com o 5G nos EUA?

As companhias alertam que a tecnologia pode interferir em equipamentos sensíveis, principalmente altímetros, que usam frequências de rádio para medir a altitude de uma aeronave durante o voo e fornecer dados para equipamentos críticos, como o piloto automático. Estes são particularmente importantes nos pousos em condições climáticas adversas.

As redes 5G nos EUA operam usando frequências no mesmo espectro de rádio, conhecido como banda C.
A indústria da aviação acredita que esse é um problema de segurança. A FAA (Administração Federal de Aviação) autorizou menos da metade da frota de aeronaves comerciais domésticas a realizar pousos com baixa visibilidade em muitos aeroportos onde a banda C do 5G será implantada. Em 7 de janeiro, o órgão regulador traçou zonas em torno de 50 aeroportos —incluindo aqueles ao redor dos polos de Nova York, Chicago, Dallas e Los Angeles— para desligar os transmissores sem fio 5G próximos às pistas durante seis meses.

As companhias aéreas argumentam que essas zonas de amortecimento não vão longe o suficiente e pediram que o governo bloqueie as torres 5G num raio de 2 milhas (3,2 km) das pistas em alguns aeroportos.

O que mudou nesta semana?

As companhias aéreas disseram na segunda-feira que o problema apresentado pelo 5G é pior do que seus executivos previam, ameaçando suspender milhares de voos de passageiros e cargas. "Vários sistemas de segurança modernos em aeronaves serão considerados inutilizáveis", escreveram executivos de companhias aéreas dos EUA em uma carta à FAA e à FCC (Comissão Federal de Comunicações) na segunda.

A United disse estar particularmente preocupada com três aviões da Boeing —os 787, 777 e 737—, cujos altímetros estariam "comprometidos".

Antes dos anúncios das empresas de telecomunicações na tarde de terça-feira, a United e a American Airlines disseram estar se preparando para reduzir os voos caso o lançamento do 5G ocorresse conforme planejado originalmente, na quarta.

Por fim, a AT&T disse que concordou em "adiar temporariamente a ativação" de algumas torres 5G em "certas pistas de aeroportos", enquanto a Verizon disse que limitaria seu lançamento "perto de aeroportos".

Por que isso não é um problema em outros países?

Muitos outros países adotaram o 5G. Uma diferença fundamental é que a banda de radiofrequência alocada para 5G nos EUA está mais próxima da largura de banda usada em aviação do que em outras regiões, incluindo a Europa.

A FAA também apontou outras diferenças, incluindo níveis de potência do 5G, a inclinação das antenas e seu posicionamento em relação aos aeroportos.

A Agência de Segurança da Aviação da União Europeia disse que "não está ciente de nenhum incidente em serviço causado por interferência do 5G" e que os dados recebidos de fabricantes de aeronaves "não oferecem evidências conclusivas para preocupações imediatas de segurança".

As preocupações com a interferência têm sido discutidas há anos nos EUA, de acordo com a FAA. Tom Wheeler, membro visitante da Brookings Institution e ex-presidente da FCC, disse que a confusão sobre a alocação das ondas de rádio mostra uma "falta de liderança" em Washington.

"O governo Trump não tinha uma política de espectro unificada; como resultado, a política acabou sendo feita por agências individuais", escreveu ele em um blog em novembro.

É um problema para o Brasil?

Segundo técnicos da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), não. No país, o serviço 5G, que começa a funcionar em julho, será prestado na faixa de frequência de 3,5 GHz (gigahertz), enquanto os altímetros operam em faixas distantes, entre 4,2 GHz e 4,4 GHz.

Já nos EUA, os altímetros operam mais próximos da faixa, entre 3,7 GHz e 3,9 GHz.

Mesmo assim, a Anatel avalia a avalia a instalação de filtros em equipamentos de aeronaves para evitar interferências com a chegada da telefonia 5G. A medida, segundo técnicos da agência, seria "cosmética" para dar mais garantia à fabricante de jatos Embraer na venda de seus aparelhos.

O que dizem as empresas de telecomunicações?

A indústria de telecomunicações dos EUA insistiu que não há problema de segurança, que seus equipamentos não vão interferir nas aeronaves e aponta o fato de que 40 países já adotaram o 5G com segurança. A AT&T e a Verizon já haviam adiado seus lançamentos completos de 5G duas vezes desde o início de dezembro.

A CTIA, órgão setorial de telecomunicações, acusou a indústria da aviação de "espalhar informações incorretas sobre 5G e segurança aérea", e argumentou que o atraso na construção da rede 5G está prejudicando a competitividade dos EUA.

Como as autoridades federais reagiram?

O presidente Joe Biden elogiou a AT&T e a Verizon na terça por "permitirem que as operações de aviação continuem sem interrupções significativas".

No entanto, permaneceu a pressão sobre a Casa Branca para encontrar uma solução de longo prazo, já que as telecoms não deixaram claro por quanto tempo adiariam ainda mais o serviço perto dos aeroportos.

Além disso, a FAA não havia suspendido suas diretrizes de restrição de voos na tarde de terça-feira. Essas diretrizes governam oficialmente as operações da aviação, disse um funcionário do setor, e deixá-las em vigor "poderia levar a cancelamentos".

Um funcionário da FCC, cuja competência regulatória inclui as frequências de rádio, disse que nenhum outro órgão da aviação estabeleceu restrições de voo semelhantes às da FAA.

Jessica Rosenworcel, presidente da FCC, disse em um comunicado: "A FAA tem um processo para avaliar o desempenho do altímetro no ambiente 5G e resolver quaisquer preocupações restantes. É essencial que a FAA conclua esse processo com cuidado e rapidez".

(Reportagem adicional de Kiran Stacey e James Politi em Washington)

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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