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Elon Musk: novo tipo de barão da mídia chega ao Twitter

CEO da Tesla tem voz influente na plataforma que ajudou a definir sua marca

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Richard Waters Hannah Murphy
San Francisco | Financial Times

Os bilionários da tecnologia já tinham usado sua riqueza para deixar uma marca no setor de notícias. Entre eles estão Jeff Bezos, da Amazon, dono do The Washington Post, e Marc Benioff, da Salesforce, que, com sua mulher, adquiriu a Time em 2018.

Mas ninguém faz isso como Elon Musk. O executivo-chefe da Tesla e da SpaceX, há muito uma das vozes mais fortes no Twitter, emergiu esta semana como o maior acionista do site de rede social e o mais novo membro do conselho, elevando-se a uma posição influente em uma das fontes de notícias mais vistas do mundo.

Embora o Twitter seja mais uma plataforma tecnológica do que um produto editorial, a posição única de Musk provavelmente o deixará com parte da influência associada aos tradicionais "barões da imprensa –seja em tinta ou em bits", disse Jeff Jarvis, professor associado de jornalismo na Universidade da Cidade de Nova York.

Elon Musk em fábrica da Tesla na Alemanha - Patrick Pleul - 22.mar.2022/AFP

A intervenção de Musk na nova mídia tem um toque extra. Com 80,6 milhões de seguidores, ele se tornou uma parte importante do mecanismo que promove o engajamento no Twitter, fundamental para como Wall Street vê a empresa. Em troca, ele usou sua posição como o astro dos negócios mais destacado no site para buscar vinganças pessoais, promover suas empresas e ideias de tecnologia e –à medida que seus interesses comerciais se espalharam– seguir uma agenda cada vez mais política.

Para o Twitter e para Musk, isso criou um forte alinhamento de interesses em torno do engajamento. Segundo analistas financeiros e especialistas em redes sociais que acompanham a empresa, é uma pergunta em aberto se isso será saudável em longo prazo para a qualidade do discurso ou para a riqueza dos acionistas. "Honestamente, pode acontecer de um jeito ou de outro", disse Youssef Squali, analista da Truist Securities, expressando uma cautela comum.

O salto de 30% no preço das ações do Twitter desde que a notícia do investimento de 9,2% de Musk foi divulgada, na segunda-feira (4), indicou uma esperança instintiva de que sua chegada produza um avanço em alguns dos problemas que travam a plataforma de rede social. Isso inclui o ritmo lento de desenvolvimento de produtos e a incapacidade de atingir um público global muito maior.

As habilidades tecnológicas de Musk e seu forte "sentimento" pelos produtos –juntamente com o dinamismo que tem sido uma característica de suas próprias empresas– podem torná-lo um catalisador de mudanças, disse Brent Thill, analista da Jefferies.

Em um sinal de que Musk já pode estar causando impacto, o Twitter divulgou na terça (5) que em breve começará a testar um botão "editar" para permitir que os usuários modifiquem seus tuítes –algo que Musk defendia, embora a empresa tenha dito que a ideia estava em desenvolvimento há algum tempo.

De acordo com ex-funcionários do Twitter, anos de acalorado debate interno não conseguiram resolver a questão, que tem sido profundamente divisiva por razões técnicas e éticas. Musk "entrou bem no meio do escritório, figurativamente falando, e disse 'aqui está a coisa que mais vai irritar vocês'", disse um ex-funcionário.

A presença insistente de Musk provavelmente representará um desafio extra para Parag Agrawal, o recém-nomeado chefe do Twitter. Ele já está trabalhando sob o escrutínio de um investidor ativista na forma da Elliott Management. Outro investidor poderoso, Egon Durban, da Silver Lake, entrou para o conselho depois de investir US$ 1 bilhão (R$ 4,6 bilhões) há dois anos.

Conexões pessoais podem facilitar o caminho. Musk trabalhou em estreita colaboração com Durban, da Silver Lake, ao tentar organizar a compra da Tesla, e foi diretor da Endeavour, outro empreendimento apoiado por Durban, até três semanas atrás. Ele deixou o conselho da empresa para se envolver em outros compromissos não especificados –um sinal de que suas discussões sobre assumir como diretor do Twitter podiam estar em andamento.

No entanto, Musk sempre fez questão de ser uma presença altamente disruptiva em qualquer empresa em que se envolveu. E ele vem com um conjunto de visões tecnocráticas arraigadas que lhe conquistaram muitos críticos. Como diz um funcionário do Twitter, expressando o tipo de reação forte que o bilionário provoca: "Ele é um lunático. Não o queremos aqui".

O CEO da Tesla e da SpaceX tem uma longa lista de controvérsias centradas no Twitter em seu nome. "Ele usou [o Twitter] de maneiras que o colocaram em problemas com o governo, ele o usou para atacar jornalistas", disse Jarvis.

Entre os resultados dos tuítes mais criticados de Musk: um acordo com os reguladores que o levou a desistir da presidência da Tesla e um caso de difamação de alto nível sobre se ele havia acusado uma pessoa de pedofilia (Musk foi inocentado pelo júri).

Ele também usou o serviço para promover uma agenda política. Isso incluiu criticar reguladores e governos, principalmente a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA. Quando a Califórnia insistiu que a Tesla fechasse uma fábrica de automóveis por causa da Covid-19, Musk recorreu ao Twitter para denunciar a medida como "fascista" –mas ficou notavelmente em silêncio quando a fábrica da montadora em Xangai foi fechada em circunstâncias parecidas no final do mês passado.

As organizações de notícias tradicionais há muito têm regras claras sobre como manter a independência editorial, disse Anupam Chander, professor de regulamentação global da internet na Universidade de Georgetown. Por outro lado, não há como saber se "Elon Musk ou qualquer outro bilionário está tentando injustamente exercer controle sobre as grandes plataformas de expressão desta época".

Musk pressionou o Twitter a relaxar suas políticas de moderação de conteúdo e abandonar as restrições sobre o que as pessoas podem dizer na rede, no interesse de lhe devolver o caráter de "liberdade de expressão" que a dominou em seus primeiros dias. Isso pode colocá-lo em rota de colisão com o CEO da empresa, que disse que a questão central para o grupo de rede social é como criar "uma conversa pública mais saudável" que determinará "quem pode ser ouvido", em vez de se concentrar na livre expressão.

A posição de Musk como membro do conselho, maior acionista e voz mais forte no Twitter poderá ajudar a levar a empresa a relaxar suas políticas de conteúdo, afirmam muitos observadores.

De acordo com Chander, isso pode incluir reverter a proibição vitalícia do acesso de Donald Trump ao Twitter –o que se tornou "certamente uma possibilidade" à medida que "o caráter libertário que é tão difundido na internet" ganha um defensor na sala de reuniões do Twitter.

Essas mudanças de políticas podem criar o tipo de controvérsia que aumenta o engajamento em curto prazo, com o risco de reverter o progresso feito no combate ao assédio e à desinformação e, finalmente, prejudicar o serviço, disse Jarvis.

Impor uma abordagem mais "absolutista" à liberdade de expressão na empresa também pode ser ruim para seus resultados, de acordo com analistas como Brian Wieser, presidente global de inteligência de negócios do grupo de publicidade GroupM. "Os grandes anunciantes não gostam de ambientes tóxicos.

Colaborou Cristina Criddle. Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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