Siga a folha

Como uma mineradora gigante ganhou poder sobre tesouros submarinos

Canadense quer explorar metais cruciais para baterias; críticos veem favorecimento e risco ambiental

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Eric Lipton
Kingston (Jamaica) | The New York Times

Uma área remota do fundo do mar, quatro km abaixo da superfície do Oceano Pacífico e 2.400 quilômetros distante da costa da Califórnia, poderá em breve se tornar o primeiro local de mineração em escala industrial do mundo em águas internacionais. Lá está uma das mais ricas fontes de metais necessários para fabricar baterias para veículos elétricos.

O acesso exclusivo a toneladas de rochas do fundo marinho repletas de cobalto, cobre e níquel foi obtido pela Metals Co., com sede em Vancouver, na Colúmbia Britânica (Canadá). A empresa calcula que as reservas são suficientes para abastecer 280 milhões de veículos elétricos e e render US$ 31 bilhões (R$ 156,8 bilhões) ao longo dos 25 anos de vida do projeto.

O empreendimento, porém, despertou dúvidas quanto à atuação da agência que deveria regular a exploração do fundo do mar, levantou questões sobre quem lucra com esses recursos e gerou críticas de ambientalistas.

O Maersk Launcher, um navio fretado pela Metals Company, aguarda em águas mexicanas perto de Rosarito antes de ser liberado pelas autoridades mexicanas para seguir para os EUA - Tamir Kalifa - 7.jun.2022/NYT

Metais são sugados por aspirador submarino gigante

Os metais são encontrados em rochas do tamanho de batatas conhecidas como nódulos polimetálicos, e a empresa os suga do fundo do oceano com um aspirador submarino gigante e os transporta para a costa.

O opositor mais destacado talvez seja Craig Smith, oceanógrafo e ex-empreiteiro da indústria de mineração agora na Universidade do Havaí em Manoa. Sua pesquisa destacou a região da possível mineração como algo que vale a pena preservar.

"Simplesmente não é possível fazer isso sem destruir essencialmente uma das maiores áreas naturais que restam", disse Smith, citando o impacto potencial de 17 projetos de mineração na área.

Gerard Barron, ao centro, executivo-chefe da Metals Company, segura um nódulo do fundo do mar na Times Square, em Nova York - Ashley Gilvertson - 17.set.2021/NYT

Smith foi contratado para avaliar os efeitos ambientais da mineração no fundo marinho pelo governo sul-coreano e pela empreiteira americana Lockheed Martin, que estão considerando projetos.

Governos da Grã-Bretanha e da Alemanha também questionaram o projeto e os danos que alguns cientistas temem que a mineração em grande escala do fundo marinho poderia causar.

"Nunca se fez mineração nessa escala no planeta", disse James A.R. McFarlane, ex-chefe de monitoramento ambiental da Autoridade Internacional do Fundo Marinho (ISA na sigla em inglês), agência afiliada à ONU que regulará a atuação da Metals Co.

A empresa nega que haja riscos ambientais. Segundo ela, a mineração seria em "benefício da humanidade", conforme exigido pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, que criou a ISA, e causaria menos danos ecológicos do que a mineração a céu aberto.

Gerard Barron, CEO da Metals Co., afirmou que seu projeto é importante para a saúde futura do planeta: "Este talvez seja um daqueles projetos que realmente podem fazer a diferença".

Um nódulo polimetálico na mesa de Michael Lodge, secretário-geral da International Seabed Authority, em Kingston, Jamaica - Ashley Gilbertson - 29.ago.2022/NYT

Companhia obteve dados antes de países mais pobres, que teriam primazia

Outro problema apontado é o de favorecimento da ISA à Metals Co. Entrevistas e centenas de documentos internos obtidos pelo New York Times mostram que a empresa recebeu dados identificando alguns trechos mais valiosos do leito marinho. Em seguida, a agência reservou esses locais para uso futuro da empresa, de acordo com a apuração.

Embora pelas regras os países em desenvolvimento devessem ter acesso a dados de mineração antes das empresas, um alto executivo da Metals Co. obteve dados primeiro e depois conseguiu duas pequenas nações insulares, Nauru e Tonga, como patrocinadores —a empresa manteve o controle financeiro quase completo do projeto, incluindo direitos a quase todos os lucros previstos.

Nauru, com apenas 11 mil habitantes, não exigia muito em troca de patrocínio, não tendo capacidade para realizar tal empreitada. Barron não disse quanto dinheiro Nauru deveria receber.

Gerard Barron, presidente-executivo da Metals Company, toca o sino da Nasdaq para o primeiro dia de negociação pública de sua empresa, em Nova York - Ashley Gilbertson - 29.ago.2022/NYT

Um líder comunitário em Tonga disse que a empresa concordou em pagar US$ 2 por tonelada como "taxa de produção de mineração". Esse pagamento equivaleria a menos da metade de 1% do valor total estimado pela empresa do material extraído. A Metals Co. não confirmou essa taxa.

A ISA alocou cerca de 518 mil km² de leito marinho para países em desenvolvimento fazerem trabalhos de prospecção, mas quase a metade desse espaço agora sob o controle da Metals Co.

O escritório de advocacia Withers Bergman, contratado pela ISA, afirmou em comunicado que "a ISA não compartilhou, em nenhum momento, dados confidenciais de forma imprópria ou ilegal".

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas