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Doença em frango muda rotina em Anta Gorda (RS): 'Cidade deu uma freada'

Autoridades montam barreiras sanitárias para evitar novas infecções em aves da região

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Anta Gorda (RS)

O frango é assunto nas rodas de conversa em um município gaúcho que carrega outro animal no nome: Anta Gorda, a 186 km de Porto Alegre.

A cidade de 5.957 habitantes virou notícia na semana passada devido à confirmação de um foco da doença de Newcastle em um aviário comercial. Trata-se do primeiro caso registrado no Brasil desde 2006.

A infecção suspendeu de maneira preventiva parte das exportações de frango do país e assustou a população anta-gordense, cuja renda depende em boa medida da agropecuária.

Fiscal agropecuário e policiais militares fazem barreira sanitária para higienizar veículos no interior de Anta Gorda (RS), após foco da doença de Newcastle no município - Eduardo Anizelli/Folhapress

Para evitar a propagação do vírus na região, autoridades reforçaram medidas protetivas nos últimos dias, incluindo a instalação de barreiras sanitárias.

Em um desses pontos, montado em uma estrada de terra no interior de Anta Gorda, um fiscal agropecuário e policiais militares paravam carros e caminhões na manhã ensolarada desta quinta-feira (25). Os veículos recebiam jatos de água com produto desinfetante.

Até o momento, nenhum outro foco da doença foi confirmado na região. Isso, contudo, não eliminou o medo gerado pela situação.

"O povo não entende. Teve uma festa de comunidade [no fim de semana], e sobrou mais da metade do frango na churrasqueira. Pessoal não comeu. Achou que o frango estava todo doente", lamenta o avicultor Jian Sordi, 30.

Ele trabalha na criação de 80 mil aves de corte em uma propriedade familiar no interior de Anta Gorda. De acordo com Sordi, a fiscalização e os cuidados sanitários aumentaram após o registro do foco no município.

"Deu uma freada na cidade. Todo mundo ficou preocupado por causa dos bichos", diz o massagista Claudiocir Paulo da Silva, 45, que também vive em Anta Gorda.

Silva afirma que, como novos casos da doença foram descartados até o momento, o cenário local "deu uma tranquilizada" nos últimos dias.

Anta Gorda fica no Vale do Taquari, região gaúcha com áreas destruídas por enchentes em maio. No município, o principal impacto das fortes chuvas foi o deslizamento de terra, segundo moradores locais. Ainda é possível observar estragos na vegetação em morros no interior e ao longo de uma rodovia que dá acesso à cidade.

A origem do nome do município

A origem do nome Anta Gorda remete à presença na região de animais do tipo que, no passado, eram alvos de caçadores. A existência de matas densas entre rios teria facilitado a aparição dos bichos.

"Sabe-se que, devido a essas condições naturais favoráveis, a área era muito rica em espécies vegetais e animais, em especial as antas. Conta-se que, certa vez, foi abatida nas cercanias uma anta de grandes proporções", diz texto publicado no site da Prefeitura de Anta Gorda.

No centro do município, que carrega traços da imigração italiana, há um monumento em homenagem ao animal. A estátua fica em uma praça.

140 aves por pessoa no município

Em 2022, Anta Gorda tinha quase 837,9 mil galináceos, de acordo com a PPM (Pesquisa da Pecuária Municipal), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A categoria inclui os frangos de corte.

Em uma situação hipotética, se o rebanho local fosse dividido igualmente pela população (5.957 pessoas), cada habitante ficaria com aproximadamente 140 aves.

O plantel registrado em Anta Gorda, contudo, não era dos maiores se comparado ao de outros municípios gaúchos. Aparecia na 71ª posição do ranking estadual.

No Rio Grande do Sul, a cidade com o maior rebanho de galináceos, em 2022, foi Nova Bréscia, também no Vale do Taquari: 5,3 milhões de cabeças. O município paranaense de Cascavel tinha o número mais elevado do Brasil (21,1 milhões).

A doença

A doença de Newcastle (DNC) é uma enfermidade viral que atinge aves domésticas e silvestres, provocando sinais respiratórios, frequentemente seguidos por manifestações nervosas, diarreia e edema da cabeça nos animais. O andar cambaleante se torna comum, assim como a redução do consumo de água e alimentos.

Na quarta (24), duas novas análises de suspeitas na zona de proteção contra a doença tiveram resultados negativos para o vírus, de acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária.

"Os resultados negativos reforçam que o foco confirmado se trata de um evento sanitário isolado e que não há sinais de propagação no entorno da granja comercial onde o vírus foi identificado", disse o ministro Carlos Fávaro, titular da pasta.

Na propriedade de Anta Gorda onde ocorreu o registro, foram realizados o sacrifício sanitário e o enterro dos animais, além do início do processo de limpeza e desinfecção do local, segundo o ministério.

"A população não deve se preocupar e pode continuar consumindo carne de frango e ovos, inclusive da própria região afetada", declarou a pasta. O ministério afirmou que o consumo de produtos avícolas inspecionados pelo SVO (Serviço Veterinário Oficial) permanece seguro e sem contraindicações.

A pasta reduziu a área da emergência zoossanitária para contenção da doença de Newcastle, limitando-a a cinco municípios no raio de dez quilômetros a partir do foco confirmado (Anta Gorda, Doutor Ricardo, Putinga, Ilópolis e Relvado).

Inicialmente, o ministério havia publicado, em 18 de julho, uma portaria colocando todo o Rio Grande do Sul nessa condição.

"O estado de emergência tem duração de 90 dias, podendo ser prorrogado em caso de evolução do estado epidemiológico", afirmou a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do Rio Grande do Sul.

"Durante sua vigência, há o isolamento sanitário da área afetada, com a restrição da movimentação de material de risco relacionado à disseminação da doença, incluindo o direcionamento de trânsito por vias públicas para desinfecção, ou mesmo o bloqueio de acessos", completou.

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