Uma María Corina Machado frenética em cima de um caminhão ao lado de um Edmundo González em boa parte do tempo sentado tomaram algumas das ruas de Caracas nesta quinta-feira (25), enquanto do outro lado da cidade o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, tentava cativar sua base com alguns passos de dança.
No último dia de campanha antes das eleições do próximo domingo (28) e no mesmo dia do aniversário da capital venezuelana, a cidade foi inundada por caravanas dos dois polos políticos.
O ato da oposição começou ao som do jingle "Todo el Mundo con Edmundo", logo substituído pelo barulho incessante das centenas de motos que aglutinavam apoiadores e por gritos de apoio.
María Corina voltou a repetir seu pedido comum nestes dias: "Vamos contar 'papelito por papelito'". É um apelo para que os eleitores participem da auditoria dos votos após o fim da votação no domingo.
A oposição demonstra desconfiança em relação ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e diz que só acreditará nas atas das urnas que forem tornadas públicas.
Com suas tradicionais cruzes no pescoço —María Corina é católica— a líder de fato da oposição acenava e mandava beijos aos transeuntes que paravam para acenar. A caminho da Plaza Bolívar, em uma zona de classe média e alta da capital, moradores e funcionários dos restaurantes e hotéis saíram às ruas para manifestar apoio.
Os apoiadores gritavam efusivos, mas não compreendiam muito do que os opositores falavam. O sistema de som teve problemas, e o áudio chegava aos poucos nos arredores do trio elétrico que os levava.
"O povo não deve temer os governos, o povo deve temer o próprio povo", dizia um dos cartazes contra a ditadura. "Sí, se puede", gritavam os apoiadores.
Havia, claro, dissidência. Mas microscópica. Da janela de seus apartamentos alguns poucos moradores faziam sinais com as mãos pedindo que fossem embora. Outros balançavam cartazes com o rosto de Maduro.
Já na avenida Bolívar, no centro da capital, as ruas foram tomadas por apoiadores do chavismo, com centenas de bandeiras da Venezuela e de partidos da aliança eleitoral da ditadura.
Maduro subiu ao palco por volta das 18h (19h de Brasília) em um ato que começou com clima de showmício: ele dançou ao lado de artistas que cantavam músicas políticas. Algumas das canções relembravam Hugo Chávez, morto em 2013 —lembrança que o próprio ditador retomou logo no começo do discurso, mudando o tom do evento de animado para grave e solene.
"Tudo o que fizemos, fizemos por você, comandante Chávez", afirmou Maduro. "Aqui está seu povo, que nunca vai falhar. O povo está na rua e ninguém pode com ele."
Em seguida, o ditador disse que, sob seu comando, a Venezuela venceu "a pior agressão que sofreu em toda sua história", referindo-se às sanções impostas pelos Estados Unidos. "Uma agressão que tem objetivo de acabar com uma sociedade. E o povo gritou de sua alma: aqui ninguém vai se render!"
Maduro repetiu a ideia que já havia levantado em outros comícios de que pode haver violência caso não seja vitorioso. "Só um presidente chavista é capaz de garantir a paz. Só nós garantimos a paz e a estabilidade deste país chamado Venezuela. Só nós garantimos o crescimento econômico, superamos a crise de desabastecimento frente à guerra econômica."
"No domingo se decide o futuro da Venezuela pelos próximos 50 anos. Paz ou guerra? Bagunça ou tranquilidade? Extrema direita ou chavismo? Fascismo ou democracia popular? Capitalismo selvagem ou socialismo cristão? Eu digo: para mim está claro", afirmou Maduro. "Ou haverá paz, ou se acabará a tranquilidade."
O ditador também fez ataques à oposição, chamando González de fantoche da extrema direita. "Quem pediu as sanções criminosas contra a Venezuela? Quem pediu que a Venezuela fosse invadida pelo Exército gringo? Vocês querem que a violência e os dias sombrios retornem?", disse o ditador.
"Querem que chegue à Presidência da República um presidente da extrema direita radical fascista? Querem que chegue à Presidência uma marionete da extrema direita radical?"
"Esse rapazinho, o Nico, conhecia essa cidade de ponta a ponta. Minha escola e minha universidade foram as ruas de Caracas, as fábricas de Caracas", disse o ditador, reforçando a ideia que sua campanha tenta vender para se aproximar dos jovens.
Nos últimos dias, referências de Maduro a um "banho de sangue" em uma suposta guerra civil caso a oposição ganhe provocaram rusgas até mesmo com políticos dos quais ele já foi próximo na região, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente da Argentina Alberto Fernández.
Nesta quinta, a Casa Branca também manifestou preocupação com a possibilidade de violência no pleito, dizendo que Maduro precisa garantir eleições livres e justas, sem repressão ou intimidação. "Apoiamos eleições pacíficas, e esperamos que elas ocorram dessa maneira no domingo", disse o porta-voz John Kirby. "Repressão política e violência são inaceitáveis".
Nos comícios, além do debate político, uma outra preocupação pipocava entre alguns. "Até quando podemos comprar nossa cerveja e nosso rum para comemorar?", perguntou um dos apoiadores da oposição. A lei seca devido à eleição começa no país nesta sexta (26).
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