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Dólar tem forte alta e bate R$ 5,58 após falas de Tebet reforçarem temores com fiscal

Após entrevista de Lula na segunda, ministra afirmou que déficit zero no Orçamento é 'ginástica difícil'; Bolsa caía 1,30%

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São Paulo

O dólar operava em alta firme nesta quinta-feira (18), conforme cresciam as preocupações com a cena fiscal doméstica após declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) instalarem dúvidas sobre o equilíbrio das contas públicas.

O mercado também repercutia a decisão de política monetária do BCE (Banco Central Europeu) e os novos dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos, em busca de sinais sobre a trajetória de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano).

Às 15h15, o dólar subia 1,80%, cotado a R$ 5,584 na venda. Já a Bolsa recuava 1 ,15%, aos 127.955 pontos.

Investidores aguardam decisões dos bancos centrais da União Europeia e dos Estados Unidos sobre taxa de juros - Reuters

Os agentes financeiros repercutiam as falas de Lula à TV Record, em entrevista na segunda-feira. Trechos da conversa chegaram ao conhecimento do mercado antes da divulgação pela emissora, conforme apurou a Folha.

Na entrevista, o petista afirmou que não é obrigado a cumprir a meta fiscal se tiver "coisas mais importantes para fazer". Por outro lado, disse que a meta de déficit zero para este ano não está rejeitada e se comprometeu a fazer o necessário para cumprir o arcabouço fiscal.

As falas do presidente reacenderam temores sobre o compromisso do governo com o equilíbrio das contas públicas. A cautela acontece antes da divulgação do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do terceiro bimestre na segunda-feira, no qual o Executivo precisará apontar como pretende cumprir a meta de déficit zero neste ano.

Mais cedo nesta quinta, a ministra Simone Tebet afirmou que o governo tem o compromisso, determinado por Lula, de não gastar mais do que arrecada, e que essa premissa deverá aparecer no Orçamento do ano que vem.

No entanto, Tebet reconheceu que atingir a meta de déficit zero no Orçamento de 2025 é uma "ginástica um pouco difícil". A proposta orçamentária será enviada pelo Executivo ao Congresso até 31 de agosto.

"É uma ginástica e é uma ginástica um pouco difícil, porque é uma conta matemática que parece ser simples, mas não é. É uma equação onde receita menos despesa tem que dar igual a zero", disse em entrevista ao programa "Bom dia, Ministra", no CanalGov.

"Nós temos um compromisso com o país, por determinação do presidente e da equipe econômica, de não gastar mais do que arrecada, então o nosso Orçamento do ano que vem tem que trazer as despesas necessárias para atender todas as demandas do Brasil, mas elas não podem passar daquilo que arrecadamos, porque o Brasil não pode seguir devendo, porque isso tem impacto muito grande na vida das pessoas."

Ela ainda afirmou que gastos com saúde e educação não devem ser cortados e que o BPC (Benefício de Prestação Continuada) —garantia de um salário mínimo mensal para idosos acima de 65 anos e pessoas com deficiência em qualquer idade— é uma política "sagrada".

Os comentários da ministra não aliviaram os temores dos investidores, instalados ainda no pregão de segunda-feira após falas de Lula à Record serem antecipadas ao mercado.

Na análise de Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, discursos de autoridades do governo "trazem uma aversão ao risco para o mercado local, porque o cenário fiscal ainda está indefinido".

"O mercado espera uma sinalização de comprometimento fiscal maior por parte do governo e até agora ela não veio. Então, somado ao cenário internacional, o fiscal acaba ficando no radar e ajuda a piorar o comportamento da nossa moeda."

No exterior, o BCE decidiu manter a taxa de juros inalterada em 3,75%, como esperado por analistas, após um corte de 25 pontos-base na reunião anterior, o que havia iniciado um ciclo de afrouxamento monetário há muito aguardado.

As autoridades do BCE também reiteraram o compromisso com o retorno da inflação na zona do euro à meta de 2%, afirmando que os juros permanecerão suficientemente restritivos pelo tempo necessário. Eles não sinalizaram como devem agir nos próximos encontros.

Investidores também digeriam novos dados de auxílio-desemprego dos EUA que vieram acima do esperado, reforçando o argumento de que o mercado de trabalho passa por um processo de moderação.

O Departamento de Trabalho relatou que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego aumentaram em 20.000 em relação a semana anterior, a 243.000, acima da expectativa de 230.000 de especialistas consultados pela Reuters.

O dado, somado a números de inflação mais benignos no segundo semestre, devem reforçar a expectativa de um corte de juros pelo Federal Reserve em setembro.

Na cena corporativa, a maior parte das empresas na carteira do Ibovespa operava no negativo.

Ações de frigoríficos caíam em bloco no pregão, após o Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) identificar um foco da doença de Newcastle em um estabelecimento de avicultura comercial de corte no município de Anta Gorda, no Rio Grande do Sul.

O espaço foi interditado e a movimentação de aves foi suspensa. A SDA (Secretaria de Defesa Agrícola) do Mapa irá "aplicar os procedimentos de erradicação do foco estabelecidos no Plano de Contingência de Influenza Aviária e doença de Newcastle, com a eliminação e destruição de todas as aves e limpeza e desinfecção do local", informou a pasta em comunicado.

Marfrig perdia 7,78%, seguida por BRF (7,08%), Minerva (3,91%) e JBS (2,73%).

Vale tinha queda de 0,65%, enquanto os papéis ordinários da Petrobras subiam 0,39% e os preferenciais tinham estabilidade.

Na ponta positiva, WEG subia 0,38% e Embraer, 0,87%.

Na quarta-feira (17), o dólar fechou em alta de 1,03%, cotado a R$ 5,484 na venda, e a Bolsa subiu 0,26%, a 129.450 pontos.

Os investidores mantiveram cautela diante da cena internacional, especialmente em relação ao Japão e aos Estados Unidos, e do fiscal brasileiro.

O real foi afetado pela disparada do iene japonês, em meio a rumores de que o Banco Central do Japão teria intervindo de forma agressiva para valorizar a moeda local.

O avanço do iene afetou operações de carry trade ao redor do mundo, incluindo as realizadas com a moeda brasileira. No carry trade, investidores tomam recursos no exterior, a taxas de juros baixas, e reinvestem em países como o Brasil, onde a taxa de juros é maior.

Também preocupava o rumo das eleições norte-americanas, em especial sobre a futura política comercial dos EUA caso o ex-presidente Donald Trump —defensor vocal de mais protecionismo econômico— volte à Casa Branca.

Na segunda-feira, o republicano confirmou o senador J.D. Vance como companheiro de chapa. O candidato a vice-presidente disse ver a China como a "maior ameaça" aos Estados Unidos no momento.

A China sempre foi alvo de Trump em seus discursos, com ameaças frequentes de imposição de tarifas sobre a segunda maior economia do mundo.

Contribuindo para as preocupações, reportagem da Bloomberg relatou que o governo do presidente Joe Biden está considerando novas restrições para afetar a indústria chinesa de chips, mostrando que os EUA devem apertar a política comercial mesmo com a reeleição do democrata.

Em resposta, o índice Nasdaq caiu mais de 2% na véspera e estendia perdas nesta quinta, puxado pelo derretimento de ações ligadas a empresas de tecnologia e chips.

Com Reuters

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