Siga a folha

Descrição de chapéu

Itália estuda cobrar até 25 euros por noite para diminuir número de turistas

Associações de turismo reclamam de plano do governo, que quer aumentar taxa cobrada de visitantes estrangeiros

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Amy Kazmin Giuliana Ricozzi
Roma | Financial Times

Um projeto na Itália propõe um aumento acentuado nas taxas de turismo para ajudar cidades com dificuldades financeiras a aumentar suas receitas e tornar os visitantes "mais responsáveis" em meio a uma crescente reação pública contra o excesso de turistas.

Associações da indústria hoteleira e de turismo estão indignadas com o plano, que prevê uma taxa de até 25 euros (R$ 157) por noite para os quartos de hotel mais caros.

"O objetivo deve ser apoiar o crescimento, não desacelerá-lo", disse a Federalberghi, associação que representa hotéis pequenos e médios.

Turistas tiram selfie em frente ao Coliseu, em Roma; Itália planeja aumentar taxa de turismo para inibir visitas - Reuters

Barbara Casillo, diretora da Confindustria Alberghi, que representa hotéis maiores e redes globais, alertou que a Itália já enfrenta uma forte concorrência de outros destinos europeus e pode perder ainda mais ao elevar as taxas de turismo que ela já classifica como "muito altas."

"Se assustarmos os turistas dando a impressão de que queremos obter o máximo que pudermos, não estaremos prestando um bom serviço ao país", afirmou Casillo. "Devemos ser muito cuidadosos", complementou.

O Ministério do Turismo, comandado por Daniela Santanchè (do partido Irmãos da Itália da primeira-ministra Giorgia Meloni), informou que planeja "um diálogo" com os órgãos relevantes do setor em setembro sobre uma "possível proposta para modificar as regras da taxa de turismo."

Nem todos os impostos são um imposto

Daniela Santanchè

ministra do Turismo na Itália

"Em tempos de excesso de turismo, estamos debatendo isso para que realmente ajude a melhorar os serviços e tornar os turistas que pagam mais responsáveis", comentou a ministra italiana.

Marina Lalli, presidente da Federturismo —que representa todos os tipos de empresas de turismo— reclamou que muitas cidades já usam "ilegalmente" as receitas da taxa de turismo para cobrir déficits no orçamento.

A lei atual exige que as cidades usem esses fundos para pagar outros gastos relevantes para os turistas —como sinalização multilíngue e manutenção de locais turísticos.

"Quando você vai consertar suas ruas cheias de buracos —e paga com o dinheiro que coleta da taxa de turismo— isso é realmente para os turistas, ou é uma coisa normal e ordinária que você deveria fazer na sua cidade?" questionou Lalli.

O debate ocorre em um momento que a Itália enfrenta forte pressão sobre suas finanças públicas, com sua dívida, segundo previsões do FMI, prevista para atingir quase 140% do PIB este ano, e seus custos anuais de serviço da dívida atingindo o mesmo patamar dos gastos com educação pública.

A indústria do turismo no país viu uma forte recuperação após o colapso desencadeado pela Covid-19, com associações estimando que 65 milhões de estrangeiros visitariam a Itália em 2023, igualando o nível pré-pandemia.

Mas muitos italianos estão indignados com as consequências do excesso de turismo, à medida que os centros históricos das cidades perdem seu caráter tradicional e cada vez mais apartamentos urbanos são alugados por curto prazo.

As cidades italianas podem impor taxas para estadias noturnas tanto de visitantes estrangeiros quanto italianos, e essas agora variam normalmente entre 1 a 5 euros (R$ 6,28 a R$ 31,41) por pessoa por noite, dependendo do número de estrelas do hotel ou da pousada.

Em 2019, antes da pandemia, quase 1.200 municípios arrecadaram um total de 470 milhões de euros (R$ 2,95 bilhões) em taxas de turismo, segundo o Banco da Itália. Mas as arrecadações subiram para um valor estimado de 775 milhões de euros (R$ 4,87 bilhões) em 2023 depois que o governo Meloni permitiu que os destinos urbanos mais populares —com números de visitantes de fora da cidade 20 vezes maiores que a população local— aumentassem suas taxas de turismo para até 10 euros (R$ 62,80) por pessoa por noite.

Um dos maiores pontos turísticos do mundo, Veneza cobrou uma taxa de entrada para estrangeiros que visitam seu centro histórico.

A última proposta do governo, vista pelo Financial Times, sugere o seguinte aumento na taxa:

Valor da diária do quarto Taxa de turismo a ser cobrada por dia e por quarto
Abaixo de 100 euros (R$ 628,19) 5 euros (R$ 31,41)
Entre 100 e 400 euros (R$ 628,19 a R$ 2.512,76) 10 euros (R$ 62,82)
Entre 400 e 750 euros (R$ 2.512,76 a R$ 4.711,43) 15 euros (R$ 94,23)
Acima de 750 euros (R$ 4.711,43) 25 euros (R$ 157,05)

As regras também especificam que os fundos poderiam apoiar a coleta de lixo, provocando a ira do setor de turismo.

"É muito importante ter uma cidade com boa aparência —pelo menos nas áreas turísticas— mas não devemos usar o dinheiro dos turistas para consertar coisas que acontecem em locais que os turistas não vão", disse Lalli da Federturismo.

Mas a proposta pode ser apoiada por moradores de centros urbanos que lutam para lidar com o número excessivo de visitantes.

"O turismo sobrecarrega a natureza e toda a infraestrutura da cidade", comentou Eike Schmidt, ex-diretor da Galeria Uffizi de Florença e agora membro do conselho da cidade. "A Itália está longe de ser o Butão, mas é absolutamente correto ter contribuições maiores dos turistas."

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas