Shopping Iguatemi entra com ação de despejo contra Americanas

Valor da ação é de R$ 2,98 milhões; shopping reclama de prateleiras vazias e diz que há outras lojas interessadas no espaço

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São Paulo

O shopping center Iguatemi, um dos centros comerciais mais sofisticados de São Paulo, entrou na Justiça para despejar a loja Americanas do seu endereço, na avenida Brigadeiro Faria Lima, centro financeiro da capital paulista. O shopping cobra aluguéis atrasados da varejista. O valor da ação é de R$ 2,98 milhões.

A notícia foi dada pelo jornal Valor Econômico e confirmada pela Folha. A dívida da Americanas com o shopping por aluguéis atrasados foi arrolada no processo de recuperação judicial e não soma os R$ 2,98 milhões do valor da ação, mas sim R$ 662,2 mil, conforme a lista de credores da varejista.

A assembleia-geral de credores (AGC) da Americanas aprovou em dezembro o plano de recuperação judicial da rede, com a proposta de deságios aos fornecedores que vão de 50% a 80% da dívida, para pagamento entre 4 e 20 anos.

A imagem mostra duas prateleiras de supermercado. À esquerda, uma prateleira de bebidas energéticas, com algumas latas de Red Bull visíveis. À direita, uma prateleira com diversos produtos alimentícios, mas com um espaço vazio destacado em vermelho, indicando que está sem estoque.
Fotos que constam em ação de despejo movida pelo Iguatemi contra a Americanas: shopping reclama de prateleiras vazias - Reprodução

A ação de despejo, protocolada na 33ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, é movida pelo escritório Lobo&Lira Advogados, que atende o Iguatemi S.A, do grupo Jereissati, administrador do centro comercial. Já a defesa da Americanas compete à Basilio Advogados.

Procurada pela reportagem, a Americanas afirmou, em nota, que "segue pagando seus fornecedores rigorosamente em dia e sem atrasos. A companhia informa que a unidade localizada no shopping em questão continua operando normalmente e que já apresentou defesa contra a ação mencionada. A Americanas reitera que os créditos concursais referentes à recuperação judicial estão devidamente endereçados no cronograma de pagamentos já em execução."

Já o Iguatemi respondeu, por meio da sua assessoria de imprensa, que "não comenta processos em andamento."

Na ação de despejo por infração contratual, à qual a Folha teve acesso, o Iguatemi afirma que "a loja da ré tem estado desabastecida de produtos, com prateleiras vazias, denotando ausência de estoque de mercadorias para atendimento à demanda do público frequentador do Shopping Center Iguatemi". O shopping reclama, ainda, de "diversas prateleiras desorganizadas."

Na ação, o Lobo&Lira destaca "o péssimo desempenho da loja da ré no Shopping Iguatemi ao longo dos anos de 2023 e 2024". Na comparação com 2013, por exemplo, diz que as vendas da Americanas em 2023 caíram 26% e que "o ano de 2024 segue no mesmo caminho".

"Além disso, comparativos de vendas da ré com outras lojas no Shopping Iguatemi demonstram que a ré vem apresentando um desempenho muitíssimo inferior aos demais lojistas, sejam eles lojas de semelhante metragem [âncoras], lojas com 1/4 de sua metragem ou lojas com 1/8 de sua metragem", diz.

O valor do aluguel do espaço de 1.565,78 m² é de R$ 248.228,15. Pelos autos, a Americanas propôs uma renovação do contrato de locação pelo prazo de cinco anos, iniciando em 2 de janeiro de 2024, com término em 1º de janeiro de 2029, pelo valor de R$ 180 mil, que não foi aceito pelo Iguatemi.

O shopping quer usar a área para fazer uma reforma do espaço e abrir sete novas lojas e diz já ter interessadas. "A retomada do imóvel é indispensável para a implementação do projeto de remodelação que resultará na construção de sete novas lojas", diz a defesa do Iguatemi. "Em um período de quatro anos, o potencial ganho adicional para o shopping com a locação das novas lojas será de aproximadamente R$ 24 milhões."

Antes da crise da Americanas –desencadeada a partir da descoberta de uma fraude de R$ 25,3 bilhões nos balanços da empresa nos últimos anos–, a lojista era uma das âncoras do Iguatemi. Apesar de ser uma loja com perfil popular, em meio a um shopping voltado à classe A, a Americanas atraía fluxo ao shopping.

Situada no térreo, a loja foi aberta em 1981, 15 anos depois da inauguração do Iguatemi, em 1966. A loja de hoje, porém, não tem o mesmo apelo de venda de celulares e outros aparelhos eletrônicos que tinha antes da crise. Hoje a empresa aposta em guloseimas, higiene e beleza, utilidades domésticas e brinquedos.

Segundo um executivo do setor de shopping centers, ouvido pela reportagem em condição de anonimato, a Americanas tem hoje um mix "ultrapassado", que não atrai mais o público. Segundo ele, antes o consumidor saía de casa para ir à Americanas –mas se for para comprar chocolates, ele tem opções melhores, especializadas, com desembolso semelhante.

Ao mesmo tempo, de acordo com essa fonte, o mix da Americanas empobreceu, o que faz com que o perfil da loja destoe ainda mais de outros varejistas do Iguatemi, endereço de grifes como Hermès, Hugo Boss e Valentino.

De acordo com o consultor Alberto Serrentino, da Varese Retail, no Brasil, um contrato de locação comercial de mais de cinco anos dá direito à renovação vitalícia, desde que haja o reajuste a valores de mercado. "O shopping não tem o direito de tirar um locatário unilateralmente, a não ser que haja uma violação de contrato", diz.

No caso do Iguatemi, afirma, o shopping está se posicionando cada vez mais como um centro comercial de luxo. "Ter uma Americanas é algo que não bate com o seu posicionamento atual."

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