Siga a folha

Descrição de chapéu The Economist

Por que a China está ansiosa para minerar o fundo do oceano

Pequim quer dominar cadeias de suprimento de minerais críticos; prática ainda depende de regulamentação de órgão da ONU

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

The Economist

Espalhados pelo fundo do oceano estão trilhões de nódulos de níquel, cobre, cobalto e manganês. Empresas há muito tempo desejam minerá-los. Esses "minerais críticos" são necessários em grandes quantidades para eletrificar a economia global e reduzir a dependência de combustíveis fósseis.

No entanto, a ISA (Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos), um órgão da ONU (Organização das Nações Unidas), ainda está decidindo como a mineração deve ser regulamentada. Alguns grupos ambientais querem uma proibição total. Apoiadores e críticos da mineração em águas profundas debateram essas questões em uma reunião da ISA, entre 29 de julho e 2 de agosto, na Jamaica.

Foto aérea de um barco de mineração em águas profundas durante um teste da Universidade Jiao Tong de Xangai - via Xinhua

A demanda por minerais críticos pode mais que dobrar até 2040 em comparação com 2020, de acordo com a Agência Internacional de Energia. A China é uma grande razão para isso. Ela fabrica a maioria dos painéis solares, carros elétricos e baterias do mundo, itens que requerem esses minerais.

No ano passado, as indústrias de energia limpa representaram 40% do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) chinês, segundo o Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo, um think-tank na Finlândia. Mas a China precisa importar muitos dos minerais críticos que utiliza. O manganês vem da África do Sul, Gabão e Austrália. A maior parte do cobalto vem da República Democrática do Congo. O níquel vem principalmente das Filipinas e da Indonésia.

Essas dependências preocupam os líderes chineses. Eles temem que os suprimentos possam ser interrompidos por turbulências políticas ou pressão de rivais como os Estados Unidos. A corrida por minerais críticos é "uma nova frente para a competição estratégica entre potências globais", diz a agência de inteligência nacional da China.

Funcionários classificam a importância dos metais críticos para o futuro da China ao lado do petróleo e gás. A mineração em águas profundas promete um suprimento seguro e ocorreria em águas internacionais, além da autoridade soberana de outros países. Em 2016, Xi Jinping, líder da China, disse que seu país deve colocar as mãos nos "tesouros escondidos" do oceano.

Para esse fim, a China passou anos construindo influência na ISA, que tem autoridade sobre o fundo do mar em águas internacionais sob a Unclos (Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar). A ISA é amplamente financiada por seus países-membros, e a China dá mais dinheiro a ela do que qualquer outro doador. Em 2020, também deu ao órgão uma instalação de treinamento em Qingdao, cidade portuária no leste da China.

Em reuniões da ISA no ano passado, alguns países tentaram introduzir uma moratória na mineração em águas profundas. Eles falharam, em grande parte devido à pressão da China. Seu objetivo é criar um regime de mineração permissivo que não tolere interferência de outros países, diz Isaac Kardon, da Carnegie Endowment for International Peace, um think-tank em Washington.

No total, a ISA emitiu 31 licenças permitindo que os detentores explorem minerais em preparação para operações comerciais. Três mineradoras chinesas —China Ocean Mineral R&D Association, China Minmetals e Beijing Pioneer Hi-Tech Development— detêm cinco dessas licenças, mais do que qualquer outro país. Elas estão ansiosas para começar as operações. Três das licenças chinesas cobrem áreas do fundo do mar na Zona Clarion-Clipperton, uma enorme região no leste do Oceano Pacífico que contém quantidades de minerais críticos aproximadamente equivalentes a todas as reservas terrestres. As outras duas estão no oeste do Pacífico e no Oceano Índico.

As empresas geralmente mineram para ganhar dinheiro, mas as chinesas também têm preocupações maiores, como a China Minmetals, gigante estatal que possui uma licença de exploração para cerca de 7,3 milhões de hectares de fundo do mar (uma área maior que o Sri Lanka). Em março, seu presidente prometeu garantir suprimentos minerais para ajudar a "rejuvenescer a nação chinesa". As empresas chinesas devem expandir operações até que "não possam ser desalojadas" das cadeias de suprimento globais, disse ele.

A mineração em águas profundas envolve enviar um grande robô ao fundo do mar para aspirar nódulos de metal, conhecidos como nódulos polimetálicos. Um navio de apoio então suga os nódulos através de um tubo. Tudo isso é complicado devido à baixa visibilidade e alta pressão no fundo do mar. A tecnologia da China não é exatamente de ponta, mas está chegando lá.

Em julho, uma equipe da Universidade Jiao Tong de Xangai enviou um robô de teste a profundidades abaixo de 4.000 metros para coletar 200 kg de material. O robô foi amplamente construído com componentes fabricados na China, "quebrando monopólios internacionais", disse a mídia estatal chinesa.

Se a mineração comercial começar, as empresas chinesas podem muito bem acabar liderando a indústria, diz Cory Combs da consultoria Trivium. A China pode construir navios e robôs mais rápido do que qualquer outro país, membros do regime têm um histórico de conceder subsídios generosos a indústrias emergentes e mineradores em águas profundas têm um enorme mercado doméstico para as riquezas que trazem à superfície.

Tudo isso preocupa os grupos ambientais. O fundo do oceano profundo abriga milhares de espécies únicas, de micróbios a esponjas. Mesmo com regulamentação rigorosa e operadores responsáveis, os robôs de mineração provavelmente causarão danos. Eles podem matar os organismos sobre os quais passam e as plumas de sedimentos que criam podem matar mais. Além disso, os mineradores chineses não têm um histórico de serem responsáveis nem mesmo em terra, onde suas atividades são mais fáceis de monitorar.

Os rivais da China também estão inquietos, e não apenas por causa das esponjas. Uma preocupação é que a mineração em águas profundas possa servir de cobertura para atividades menos pacíficas. Pesquisas no oceano profundo ajudariam os submarinos navais da China a navegar.

Em 2021, um navio de pesquisa enviado pela China Minmetals fez um desvio inexplicável de sua zona de exploração. Passou cinco dias nas águas perto do Havaí, onde os EUA têm grandes bases militares.

A maior preocupação dos países ocidentais, no entanto, é sobre quem controla as cadeias de suprimento das indústrias de energia limpa. A China já tem uma vantagem substancial. A mineração em águas profundas pode consolidá-la. Enquanto isso, os EUA estão excluídos das discussões da ISA, pois não ratificaram a Unclos. Em março, um grupo de ex-funcionários americanos escreveu ao Senado exigindo que ratificasse o tratado. Mineradores chineses "aproveitaram nossa ausência", disseram eles.

Essas preocupações são um benefício, no entanto, para as empresas ocidentais que argumentam a favor da mineração em águas profundas. Uma delas é a The Metals Company, empresa canadense que espera solicitar uma licença de mineração comercial da ISA ainda este ano. Ela recebe uma recepção calorosa em Washington atualmente, diz Gerard Barron, seu fundador. "As pessoas perceberam que a China pode potencialmente dominar essa indústria", diz ele. "É um motivador muito forte."

Texto de The Economist, traduzido por Helena Schuster, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas