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Relembre cinco entrevistas históricas do ex-ministro Delfim Netto para a Folha

Economista era conhecido por ironia e pragmatismo, tendo se firmado como observador atento da história recente do país

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São Paulo

"Czar da economia" e "camaleão político" eram algumas das alcunhas usadas para designar o economista Antonio Delfim Netto, que morreu nesta segunda-feira (12). Considerado um analista de fina ironia, seu pragmatismo permitiu que ele fosse conselheiro de governos com ideologias antagônicas.

Ele era conhecido por sua capacidade de formular frases marcantes, como "A parte mais sensível do corpo humano é o bolso" e "Jornalismo de economia não é uma coisa nem outra", e suas tiradas chegaram a ser compiladas no livro "O Homem Mais Realista do Brasil", do jornalista Aristóteles Drummond.

Ao longo de sua extensa carreira pública, ele concedeu inúmeras entrevistas à imprensa, seja na condição de ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura (cargos ocupados por ele durante a ditadura militar) ou como observador atento da situação econômica do Brasil nos anos posteriores.

Relembre, a seguir, a visão de Delfim em cinco de suas entrevistas, publicadas pela Folha.

1. AI-5 dará autonomia para acelerar desenvolvimento econômico

Em dezembro de 1968, dias após a ditadura militar baixar o Ato Institucional nº 5 (AI-5), o ministro da Fazenda declarou que as diretrizes que regiam a política econômica seriam respeitadas e que as mudanças previstas com o decreto-lei seriam "para melhor".

Em breve entrevista, que foi manchete da edição de 18 de dezembro daquele ano, Delfim Netto afirmou que o Ato, que fechou ainda mais o regime, daria mais autonomia ao governo para colocar em prática projetos de desenvolvimento econômico emperrados no Congresso.

Conhecido como "o golpe dentro do golpe", o AI-5 foi um instrumento para a consolidação do poder pelos militares, com o fechamento do Congresso, cassação de mandatos e suspensão de direitos políticos. Em 2021, Delfim afirmou, ao UOL, que voltaria a assinar o ato e que naquele momento foi a atitude correta.

O presidente Costa e Silva preside reunião que aprovou o AI-5 - Folhapress

2. Nunca houve milagre econômico. Milagre é efeito sem causa

Em entrevista de 2014, parte de uma série que discutiu os 50 anos do golpe militar de 1964, Delfim afirmou que foi a resistência do ex-presidente Ernesto Geisel em abrir a exploração do petróleo à iniciativa privada que levou a economia brasileira à falência no fim da década de 1970.

Ele também negou que a política do "milagre econômico" tenha produzido pressões sobre os preços que desaguariam na hiperinflação das décadas seguintes e afirmou que o descaso dos governos militares com a educação básica feriu a ditadura de morte.

"Nunca houve milagre. Milagre é efeito sem causa. O crescimento do Brasil naquele período foi consequência do trabalho dos brasileiros, basicamente da grande arrumação que houve no setor econômico, produzido no governo Castelo Branco", disse também o economista à época, ao se referir ao período de forte crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do fim da década de 60 ao início dos anos 70.

Em 1974 , o ministro da fazenda Delfim Netto (esq.) e Mario Henrique Simonsen - Arquivo Agencia Globo

3. Lula está ameaçado de se transformar num grande estadista

Passada a eleição de 2002 e poucos dias antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva em seu primeiro mandato, Delfim reafirmou em entrevista seu apoio ao presidente eleito e se mostrou empolgado com nomes escolhidos, como Antônio Palocci (Fazenda) e Henrique Meirelles (Banco Central).

"Lula está ameaçado de se transformar num grande estadista", disse Delfim. "Veja quando o Palocci diz, por exemplo, que o governo irá manter o regime de metas inflacionárias. Mas que as metas serão levadas a sério, como comparar o futuro governo com o atual?"

Ele também elogiou a postura mais pragmática do petista e disse que a própria esquerda não conseguia compreender o que chamou de "novo PT". Ao deixar de ser deputado federal por São Paulo, em 2007, Delfim se tornaria um conselheiro próximo do petista.

Lula (esq.), ao lado de Delfim Netto, em evento em São Paulo - Tuca Vieira - 10.out.06/Folhapress

4. Dilma construiu uma tragédia com apoio da sociedade

Delfim se declarava um "grande amigo" do governo Lula e, até 2012, também se considerava simpático à gestão de sua sucessora, a ex-presidente Dilma Rousseff. Com o aumento do desgaste da petista no fim de seu primeiro mandato e após a sua reeleição, em 2014, a proximidade deu lugar às críticas.

Entre os equívocos do governo da presidente apontados por Delfim estavam a tentativa de reduzir os juros sem ter equilibrar as contas públicas e o governo ter segurado o preço da gasolina, prejudicando a Petrobras.

Segundo Delfim, os protestos de junho de 2013 marcaram o momento em que a sociedade acordou em relação aos erros do governo. "Ela [Dilma] deveria ter acordado antes da sociedade", disse à Folha, em março de 2016. A presidente não terminaria seu segundo mandato.

5. Em matéria de autoritarismo, PT e Bolsonaro empatam

Às vésperas das eleições de 2018, Delfim via com pessimismo os dois principais candidatos à Presidência, Jair Bolsonaro e o petista Fernando Haddad. Para o economista, Bolsonaro e o PT tinham visões autoritárias. "Em matéria de autoritarismo, eles empatam. É uma coisa dramática", disse.

Ele afirmou que a polarização entre petistas e bolsonaristas era um sintoma da incapacidade da política brasileira, que já vinha se consolidando há algum tempo, como resposta a um sistema político que não atendeu às necessidades da sociedade.

"Tenho um grande respeito pelo Haddad. É um intelectual. Mas não creio que consiga controlar o partido. O programa do PT é absolutamente inconsistente. O programa do Bolsonaro também não tem nenhuma consistência. Eu diria que se equivalem", afirmou o ex-ministro. Quatro anos depois, o cenário de polarização se repetiria.

Na Câmara, Delfim Neto (esq.) e Jair Bolsonaro - Diógenis Santos - 1º.fev.06 /Agência Câmara

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