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Novas linhas de crédito são saída para empresário que não tem garantia

Há mais opções de empréstimo para aqueles que buscam abrir um negócio, mas acesso continua difícil

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São Paulo

O sonho de ter o próprio negócio muitas vezes esbarra na falta de dinheiro para montar a operação e garantir capital de giro até o empreendimento decolar.

"O empreendedor não consegue fazer nada sem crédito. A grande questão é saber quais condições ele vai encontrar ao buscar recursos e se isso é saudável do ponto de vista financeiro", diz Victor Loyola, diretor-executivo da Consiga Mais, empresa de empréstimo consignado.

Com a pandemia, novas linhas crédito foram criadas, inclusive sem a necessidade de garantias, o que traz mais benefícios para quem quer começar a empreender.

"Agora, surgiram oportunidades que antes não existiam. Até março era praticamente impossível achar uma linha de crédito sem garantia", diz Wilson Victorio Rodrigues, diretor-geral da Faculdade do Comércio de São Paulo (FAC-SP).

Entre as opções disponíveis no mercado está a linha do Banco do Povo, instituição de fomento do governo estadual de São Paulo, que liberou R$ 720 milhões em oferta de crédito neste período.

A linha é para os empreendedores informais e produtores rurais sem CNPJ, com empréstimos de até R$ 5.000 e taxa de juros de 1% ao mês. O prazo para pagamento é de até 12 meses, com carência de até 60 dias para capital de giro.

Há ainda uma modalidade voltada para MEI (Microempreendedor Individual) e produtores rurais com CNPJ.

Com taxa de juros de 0,35% a 0,70% ao mês, o limite de crédito é de R$ 8.100. O prazo para pagamento é de até 24 meses, e a carência chega a 90 dias.

Em parceria com o Sebrae, a instituição tem ainda uma linha que libera até R$ 21 mil para empreendedores, com juros de 0,35% ao ano, carência de até 90 dias e prazo de 24 meses para o pagamento.

"Na segunda quinzena de maio, o Sebrae disponibilizou R$ 50 milhões, e esse recurso ainda não acabou", diz Cibele Pestillo, consultora do Sebrae-SP. Uma das premissas para conseguir o crédito é fazer um curso da entidade.

Em maio, Jorge Reyes, 30, recorreu a essa opção para levantar R$ 20 mil e tirar do papel seu projeto de abrir uma fábrica de congelados em São Vicente, no litoral paulista.

"Fiz um plano de negócios detalhado, consegui todas as licenças e apresentei todos os indicadores. Com tudo em mãos, o empréstimo saiu em apenas 20 dias", afirma Jorge, que estava desempregado.

O Sebrae conta ainda com uma parceria com a Caixa, que tem, por exemplo, uma opção de crédito de até R$ 75 mil para microempresas, com taxas de 1,39% ao mês, 12 meses de carência e até 30 meses para pagar, sem necessidade de apresentar garantia.

Natália Lazarini, que é diretora-executiva da Confraria do Empreendedor, afirma que, apesar da redução da burocracia para a liberação de crédito aos pequenos empresários, ainda não são todos que conseguem os recursos.

"Muitos empreendedores são obrigados a adiar os planos de um negócio próprio ou recorrem às suas economias porque o crédito ainda é de difícil acesso", diz.

O comerciante Nilton Ferreira da Silva, 29, foi um dos que não conseguiram recursos nas instituições financeiras tradicionais. Depois de percorrer vários bancos sem sucesso, resolveu vender o carro e juntar suas economias para abrir uma lanchonete na zona sul da capital paulista.

Ele buscava levantar R$ 50 mil. "Tentei financiamento, mas sem garantia ou um bom relacionamento com o banco é muito difícil", afirma Nilton, que inaugurou a lanchonete no último dia 15.

Uma alternativa para quem pretende começar uma empresa e não está conseguindo um empréstimo é recorrer a um investidor-anjo.

Esse foi o caminho encontrado pelos empreendedores Gustavo Costa, 27, Lucas Daibert Padula, 30, e Guilherme Piai, 28, para montar uma dark kitchen (cozinha que trabalha apenas com delivery).

Gustavo Costa e Guilherme Piai, sócios da Space Food, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo  - Jardiel Carvalho/Folhapress

"Buscar recursos no mercado demoraria muito, e queríamos aproveitar o momento em que as pessoas estão consumindo mais produtos em casa para abrir nosso negócio", afirma Lucas.

Os três começaram a planejar a Space Food no início do ano passado. O objetivo era iniciar as operações no segundo semestre deste ano, mas, com a pandemia, eles viram uma oportunidade antecipar a inauguração do serviço.

Saíram, então, em busca de um investidor, e conseguiram os recursos com um amigo que queria entrar no ramo da alimentação, depois de apresentarem um detalhado plano de negócios a ele.

O empreendimento foi aberto em abril deste ano e contou com aporte de R$ 100 mil.

"Estamos dobrando nosso faturamento mensalmente e acreditamos que, até o fim de 2020, vamos ter o retorno do o investimento inicial", diz Lucas.

O economista Roberto Dumas, professor do Insper e Ibmec, considera que a busca de um investidor-anjo é uma opção que merece ser considerada porque ajuda a empresa a decolar sem que o empreendedor precise se endividar.

"O importante é fazer um bom plano de negócio, que pode contar com o apoio de uma incubadora. Assim, fica mais factível conseguir os recursos", afirma o professor.

Essa modalidade vale para qualquer tipo de negócio, mas investidores-anjo preferem apostar em empreitadas que apresentem propostas inovadoras, que permitam que eles tenham um alto retorno em pouco tempo.

Dumas alerta, porém, que a crise dificultou a obtenção desse tipo de aporte.

"Não temos a mínima ideia de quando sairemos da pandemia e isso em finanças se chama cenário de incerteza, no qual ninguém se movimenta muito", afirma ele.

"Os investidores querem colocar seus recursos em empresas de variados setores, mas, com a pandemia, o apetite pelo risco diminuiu", completa o economista.

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