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Descrição de chapéu Venezuela

Um ovo e 93,3 milhões de litros de gasolina custam o mesmo na Venezuela

Com a gasolina mais barata do mundo, venezuelanos enfrentam ciclos de escassez

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Caracas | AFP

Um ovo custa a mesma coisa que 93,3 milhões de litros de gasolina e com US$ 1 (o equivalente a R$ 4) é possível comprar o conteúdo de 14.600 caminhões-tanque: na outrora potência petroleira Venezuela, a hiperinflação e o congelamento dos preços fazem o combustível sair praticamente de graça.

O paradoxo é que, com a gasolina mais barata do mundo, os venezuelanos enfrentam ciclos de escassez, o último deles iniciado na semana passada, com filas que chegavam a vários dias de espera para encher o tanque em diversas regiões.

"Aqui a gasolina é grátis", resumiu à AFP o economista Jesús Casique.

Um ovo no supermercado custa 933 bolívares, mas no posto, um litro de gasolina custa 0,00001 bolívares.

Funcionário de posto de gasolina da estatal PDVSA em Caracas - Ivan Alvarado-17.mai.19/Reuters

Para encher um tanque de 50 litros custa 0,0005, montante impossível de pagar de forma exata: a menor nota é a de dois bolívares, após uma reconversão monetária lançada pelo presidente Nicolás Maduro em agosto passado. 

À época, foram cortados cinco zeros do bolívar, mas as novas notas foram pulverizadas por uma hiperinflação que o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta em 10.000.000% para este ano. As moedas já não existem mais.

"O pouco dinheiro que você entrega para a pessoa que abastece seu carro no posto é uma gorjeta", porque o combustível é praticamente gratuito, afirmou Henkel García, diretor da firma Econométrica, à AFPTV.

Um dólar, cotado a 5.641,50 bolívares nesta quinta-feira (23) pelo Banco Central da Venezuela, compra 554,6 milhões de litros de gasolina, suficientes para encher 222 piscinas olímpicas.

"Como ficou tão barata? Com uma inflação que foi crescendo, e um preço de gasolina que ficou estagnado", explicou García.

O plano de reajuste de Maduro de 2018 incluía aumentar a gasolina, e até equipará-la com preços praticados no mercado internacional para pessoas sem o "Carnet de la Patria", documento que dá acesso a subsídios e que a oposição considera um mecanismo de controle social.

A alta nunca se concretizou no país com as maiores reservas de petróleo, cuja produção atingiu seus piores níveis em três décadas.

Com esse colapso, a Venezuela vive a pior crise de sua história moderna.

Para Maduro, a situação é o resultado de uma "guerra econômica" da oposição e dos Estados Unidos para derrubá-lo; para seus críticos, são produto de anos de políticas erradas do chavismo.

O "aumento da gasolina foi um tabu (...). Boa parte do mundo político acha que aumentar a gasolina pode elevar a pressão social, e isso pode levar a uma mudança política", resumiu García.

Em 1989, após um ajuste de preços, teve início um conflito social conhecido como "Caracazo", que deixou 300 mortos em Caracas e povoados vizinhos. Este é um fantasma que se agita sempre que é mencionado um aumento do preço da gasolina.

Pobres subsidiando ricos

Para que um litro de gasolina seja vendido na Venezuela a preço internacional teria que alcançar 4.659 bolívares por litro, explicou Casique.

A enorme diferença entre esse montante e o que os venezuelanos pagam na realidade custa ao Estado cerca de US$ 5,24 bilhões anuais, de acordo com especialistas.

"Dar a gasolina de presente (...) é um subsídio muito regressivo, porque quem tem carro é o grupo social mais rico. É um subsídio que os que não têm carro pagam para os que têm carro, e isso é algo muito prejudicial", disse García.

As penúrias dos venezuelanos —incluindo apagões e escassez de produtos básicos, como medicamentos —  soma-se à falta de combustível.

Atualmente, a Venezuela refina apenas 100 mil barris de gasolina diários, a metade da demanda, vendo-se obrigada a importar o resto, afirmou o deputado opositor José Guerra.

Mas, em um contexto de seca de dólares pela crise, "não temos como pagar esses 100 mil barris", acrescentou Guerra, ex-diretor do Banco Central.

A entrada em vigor no fim de abril de um embargo petroleiro dos Estados Unidos dificulta também a compra de gasolina a empresas americanas "que eram as que normalmente nos abasteciam", opina García.

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