Obituário inusual de homem de Connecticut ganha fama no mundo todo
Joe Heller cochilava em qualquer lugar e revirava lixo atrás de itens colecionáveis
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Joe Heller sempre quis rir por último.
Quando ele morreu aos 82 anos, no dia 8 deste mês, sua filha Monique Heller procurou agradá-lo publicando um obituário pago no jornal local, em que descreveu a personalidade inigualavelmente irreverente e extravagante de seu pai.
Seu tributo humorístico foi publicado —online e impresso— na semana passada no jornal The Hartford Courant e imediatamente arrebatou a internet.
Os leitores adoraram o relato contagiante daquele homem comum de cidade pequena que encarnava o espírito de união do povoado perto do Rio Connecticut, entre New Haven e New London.
O obituário listou realizações como "ser um cara que dormia em qualquer lugar" e "ter o hábito de revirar itens colecionáveis no lixão local".
"Não havia uma estrada, restaurante ou casa de amigo em Essex em que ele não dormisse", escreveu Heller, acrescentando que o pai dela "deixou a família com uma casa cheia de lixo, 300 quilos de sementes para pássaros e plantas mortas, com os quais eles não sabem o que fazer".
Heller escreveu que seu pai lhe havia avisado que não queria uma despedida extravagante quando morresse, preferindo que a família "cavasse um buraco no quintal e apenas o rolasse para dentro".
"Ele disse: 'Não quero nada dessas coisas de funerária'", disse ela.
Eles o decepcionaram com um memorial festivo na noite de quinta-feira (12) na sede dos bombeiros da cidade, onde todos contavam histórias sobre Joe Heller.
O obituário pediu aos participantes que usassem "a camiseta mais inadequada com a qual você se sente à vontade em público, como Joe costumava fazer".
Na manhã de sexta (13), o corpo de Heller foi colocado sobre o caminhão de bombeiros de 1941 que ele ajudou a restaurar, dentro de um caixão coberto com a bandeira dos EUA, e levado para o Cemitério Centerbrook para ser enterrado ao lado de sua mulher, Irene, que morreu em 2015 e a quem ele envergonhava diariamente "com sua boca suja e as roupas que vestia", segundo o obituário.
Os familiares seguiram o caminhão de bombeiros a bordo do Plymouth de 1932 imaculadamente restaurado por Heller, que trazia um par de testículos de plástico pendurados no para-choque traseiro, a pedido dele.
O obituário foi amplamente compartilhado nas redes sociais, primeiro localmente entre seus muitos amigos na cidade e depois em todo o mundo, dando origem a artigos em inúmeras agências de notícias.
Monique Heller disse na sexta (13): "Uma amiga me disse que o obituário iniciou uma nova categoria chamada 'Joe-bituários'.
Ela afirmou: 'Você acaba de colocar 'diversão' no funeral'" [em inglês, as letras que compõem a palavra "fun", diversão, fazem parte da palavra "funeral"].
Enquanto muitos obituários pagos costumam ser resumos breves e sérios de informações sobre o enterro e os sobreviventes, a despedida de Monique Heller foi um texto breve e sem verniz de seu pai como um dos grandes brincalhões do Condado de Middlesex, em Connecticut (nordeste dos EUA).
"Deus felizmente quebrou o molde depois que Joe nasceu", escreveu ela.
Monique, a caçula das três filhas de Heller, lembrou que o médico de seu pai se aproximou delas no final da vida dele e informou que ele estava "muito doente". [no original, a palavra usada é "sick", que significa tanto doente no sentido tradicional do termo como "incrível", "irado", quando empregada como gíria.]
A resposta humorística delas: "Você não faz ideia o quanto".
O obituário ainda relatou a perspectiva irônica de Heller e suas constantes brincadeiras, como servir bolo com laxante para amigos que roubaram seu almoço ou dar a seus cães nomes feios (para fazer os entes queridos se envergonharem ao chamar o animal).
"Escrevi o obituário para seus amigos locais, nunca pensei que isso iria mais longe, mas acho que repercutiu entre as pessoas", disse Heller, acrescentando que recebeu comentários e condolências "de todos os 50 Estados", além de vários países, como Austrália e Nova Zelândia.
"Sou grata ao universo por esta mensagem de amor ter-se tornado viral", escreveu alguém identificado como Dawn, do Canadá. "Parece que ele era um cara incrível", escreveu John Williams, de Londres.
"O bom Joe poderia ter sido meu parente —risos", escreveu Bruce Freshwater, de Pittsburgh.
Quando jovem, Heller trabalhou como assistente de biblioteca na Escola de Direito de Yale antes de ingressar na Marinha.
Sem dinheiro para a faculdade, ele conseguiu um emprego como químico autodidata em uma empresa de maquiagem local, onde desenvolveu suas primeiras linhas de cosméticos.
Quando a empresa se mudou para Greenwich, Heller decidiu que a nova cidade era rica demais para seu gosto e preferiu desistir do emprego para ficar em Centerbrook, entre os amigos trabalhadores que ele apreciava, disse a filha.
Joe Heller também se orgulhava de ser um funcionário público local, um membro de longa data do Departamento de Bombeiros Voluntários de Essex e fundador do corpo de ambulâncias da região.
Ele também trabalhou como policial da cidade, operador de caminhões que limpam neve, guarda de travessia de pedestres e apanhador de cães, disse ela.
"Ele conseguiu esses empregos porque era o quebra-galho do lugar", disse a filha. "Quando a cidade precisava de algo, simplesmente chamavam Joe."
Na manhã de sexta-feira, uma guarda de honra da Marinha —conhecida como Organização dos Antigos Veteranos por causa da idade avançada— disparou uma salva de rifles, tocou um rufo de tambor e realizou uma cerimônia de dobramento da bandeira.
O comandante da guarda de honra, Joseph Barry, admitiu que Joe Heller teria "dito f***-se algumas vezes", chamando toda a cerimônia de supérflua.
Depois do enterro, Monique Heller segurou a bandeira americana apresentada em homenagem a seu pai e disse que talvez o obituário tenha tocado o sentimento das pessoas comuns.
"Pessoas como meu pai são a espinha dorsal deste país", disse ela, "e acho que todo mundo quer ouvir suas histórias."
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