Brasil espera poucas mudanças no comércio com Uruguai e alinhamento em relação à Venezuela
Atual governo uruguaio não integra Grupo de Lima, fórum de discussão sobre crise no país caribenho
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No curto telefonema em que recebeu os parabéns de Jair Bolsonaro por sua vitória nas eleições uruguaias, Luis Lacalle Pou fez questão de falar em português com o presidente brasileiro.
O detalhe, embora pequeno, simboliza o que interlocutores do governo ouvidos pela Folha esperam da relação Brasil-Uruguai com a chegada da centro-direita ao país vizinho: poucas mudanças na área comercial, mas uma melhora significativa na interlocução de alto nível entre os dois países.
Além, é claro, de um realinhamento dos uruguaios em relação à crise da Venezuela.
Embora de centro-esquerda, a política comercial da Frente Ampla, que esteve no poder nos últimos 15 anos no Uruguai, nunca foi vista como um empecilho pela administração Bolsonaro.
Por ser um país pequeno, o Uruguai comemorou a assinatura do acordo de livre-comércio com a União Europeia.
Além do mais, mesmo o governo atual, liderado por Tabaré Vázquez, vinha defendendo a agenda de flexibilização do Mercosul e as negociações de novos tratados comerciais com outros países —como Canadá e Líbano.
Montevidéu também apoia a agenda brasileira de redução da TEC (Tarifa Externa Comum) do Mercosul.
Nas palavras de um auxiliar de Bolsonaro, o tamanho do Uruguai faz com que o país precise da maior inserção internacional possível, esteja no poder a esquerda ou a direita.
A expectativa de assessores do presidente é que uma maior convergência ideológica ajude, sim, a destravar determinados pontos da agenda bilateral. O simples fato de Vázquez ser de centro-esquerda dificultava o diálogo com Bolsonaro e seus ministros, relatam.
Se são esperadas poucas novidades na área comercial, o governo brasileiro dá como certo que haverá uma guinada em relação à Venezuela.
O Uruguai da Frente Ampla não reconhece Juan Guaidó como presidente interino do país caribenho, tampouco integra o Grupo de Lima —formado por governos que pressionam diplomaticamente o ditador Nicolás Maduro a deixar o poder.
Embora seja certo que a nova postura será contrária a Maduro, o governo brasileiro ainda não sabe exatamente quão longe Lacalle Pou poderá ir.
Ainda há dúvida, por exemplo, sobre se ele de fato reconhecerá Guaidó como presidente interino e se decidirá integrar o Grupo de Lima.
Interlocutores ouvidos pela Folha lembram que a margem de vitória de Lacalle Pou foi estreita e que isso pode de alguma forma limitar suas ações nesse sentido.
Contribuiu Talita Fernandes
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