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Ataque aéreo de forças da Etiópia deixa 64 mortos na região do Tigré

Província, ao norte do país, é palco de conflito armado desde novembro

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Tigré (Etiópia) e Addis Abeba | AFP e Reuters

Em meio a um conflito que se prolonga há meses na Etiópia, um ataque aéreo de forças do governo a um mercado na terça (22) deixou ao menos 64 mortos e 180 feridos em Togoga, na província do Tigré.

O levantamento provisório foi elaborado pela população e por líderes locais, que também acusam o Exército etíope de impedir o acesso de socorristas à região para transferir feridos a um hospital em Mekele, capital da província ao norte do país. Até esta quinta (24), 73 feridos haviam sido encaminhados para o centro médico, e, de acordo com testemunhas, dezenas de vítimas seguem sob os escombros.

Moradora de Togoga, cidade na província do Tigré, que foi ferida durante o ataque aéreo das forças do governo - Yasuyoshi Chiba - 23.jun.21/AFP

O conflito teve início em novembro do último ano, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed Ali, anunciou uma ofensiva militar contra a Frente de Libertação dos Povos do Tigré (FLPT), partido nacionalista que governa a região. Ele justificou a medida acusando as tropas adversárias de atacar uma base militar do governo para roubar armas e outros equipamentos.

Desde então, a província é palco de uma série de enfrentamentos armados que, segundo estimativas da ONU (Organização das Nações Unidas), já levaram 350 mil pessoas à beira da fome e milhões a abandonar suas casas rumo a outros países, em especial o Sudão.

O Exército etíope confirmou o ataque de terça, mas disse que a operação mirava combatentes ligados às autoridades do Tigré, versão contrariada por testemunhas, para quem apenas civis estavam no mercado.

Em comunicado enviado ao governo da Etiópia nesta quinta, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, condenou o ataque e pediu que o governo libere o acesso dos socorristas à região. "Negar atenção médica com urgência às vítimas que necessitam é cruel e inaceitável", afirmou no documento.

A porta-voz da ONU Stephane Dujarric disse que o secretário-geral da organização, o português António Guterres, está profundamente consternado. "Solicitamos acesso à área para avaliar a situação e ver como podermos prestar assistência. A situação na região é muito, muito difícil."​

O papa Francisco também expressou preocupação com os enfrentamentos armados e pediu fraternidade. "As diferenças étnicas e de lutas por poder se transformaram em um sistema", declarou o pontífice.

Foi nesse cenário que, na segunda (21), os etíopes votaram para eleger novos parlamentares e líderes regionais. O pleito estava marcado para agosto de 2020, mas foi adiado em razão da pandemia de Covid-19, que matou 4.292 pessoas no país até esta quarta (24), de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins.

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A eleição, cujos resultados ainda não foram divulgados, deve se prolongar pelos próximos meses, já que 20% dos distritos eleitorais do país não puderam realizar a votação devido a fatores como violência ou problemas logísticos. Os habitantes dessas regiões devem votar em 6 de setembro.

Na província do Tigré, onde segue o conflito mais grave, a votação também não foi realizada nos 38 distritos eleitorais, e o governo nacional ainda não divulgou uma nova data.

O Partido da Prosperidade, legenda do atual primeiro-ministro, é o favorito para obter a maioria dos votos. Ainda assim, o premiê tem sido questionado desde o início dos conflitos no Tigré, especialmente por Abiy Ahmed ter ganhado o Prêmio Nobel da Paz em 2019 com uma defesa contra a guerra.

Os enfrentamentos armados colocam em xeque também o discurso de privilegiar o sentimento nacional em detrimento das disputas étnicas que o premiê adotou ao assumir o posto em abril de 2018. A eleição de Abiy Ahmed, membro da etnia omoro —a maior do país—, foi vista como uma perda de poder pelos tigrínios, já que a Frente de Libertação dos Povos do Tigré governou o país por cerca de três décadas.

Foram as eleições, aliás, que acenderam a faísca entre Abiy Ahmed e FLPT. Os opositores não aceitaram o adiamento do pleito em 2020 e mantiveram seus próprios processos, que elegeram Debretsion Gebremichael como líder local em setembro —a Etiópia é dividida em nove regiões administrativas que, em tese, teriam autonomia. O governo central, porém, não reconheceu a legalidade do processo.

As ofensivas militares dos últimos meses fizeram aumentar as acusações de que o primeiro-ministro está perseguindo o povo do Tigré por motivações étnicas. O governo já vinha sendo acusado de demitir oficiais tigrínios de postos proeminentes no país.

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