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Alemanha vai cortar ajuda militar à Ucrânia pela metade

Em meio a temor da volta de Trump, Berlim aposta em acordo para acessar dinheiro russo

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São Paulo

Em meio a temores sobre o futuro do apoio ocidental à Ucrânia caso Donald Trump volte à Casa Branca, a Alemanha vai cortar pela metade a ajuda militar direta que fornece a Kiev em 2025.

O país é o segundo maior doador do esforço de guerra ucraniano contra a invasão russa, atrás justamente dos Estados Unidos.

Ucranianos operam um blindado de defesa antiaérea Gepard doado pela Alemanha, que produz o veículo - AFP

A informação foi apurada pela agência de notícias Reuters, que viu uma versão prévia do orçamento federal alemão para o ano que vem. Nele, os € 8 bilhões (R$ 48 bilhões hoje) de ajuda militar aos ucranianos de 2024 caem a € 4 bilhões.

A argumentação alemã é de que isso é possível porque a Ucrânia terá acesso a empréstimos lastreados em até US$ 50 bilhões (R$ 272 bilhões hoje), apropriados por países do G7, relativos aos juros acumulados das reservas cambiais russas congeladas no exterior desde o início de guerra, em 2022. Moscou diz que tal medida configura roubo e promete reagir em cortes internacionais.

Mas há outras questões que emergem da decisão alemã, caso não haja alguma reviravolta. O país passou anos operando abaixo da meta de dispêndio de 2% do PIB, sugerida pela primeira vez em 2006 pela Otan (aliança militar ocidental).

Isso gerou um sucateamento geral de suas Forças Armadas, acentuado pelo envio de armamentos e munição para a Ucrânia. O país doou 3 dos seus 12 sistemas antiaéreos americanos Patriot, por exemplo, e há temores no Parlamento acerca de sua condição de defesa.

Os EUA prometeram instalar mísseis de defesa e ataque de longa distância no território alemão a partir de 2026, um movimento que foi denunciado como uma volta ao padrão da Guerra Fria em Moscou. Mas ninguém sabe o que ocorrerá se Trump derrotar Joe Biden em novembro.

O republicano, quando esteve no poder de 2017 a 2021, trabalhou para forçar os países europeus da Otan a elevar seu gasto militar. Isso fazia sentido: em 2014, só 3 dos então 28 membros do clube cumpriam a meta de 2%, e agora são 23 de 32. A Polônia é o destaque, indo a 4% do PIB com armas.

O problema é que, no processo, Trump alienou os aliados e fez movimentos para se desengajar do teatro europeu, responsabilidade americana desde a vitória na Segunda Guerra Mundial —a Otan foi criada em 1949 para conter o avanço no continente dos outros vencedores do conflito, a União Soviética.

Agora, o ex-presidente americano volta a dizer que a Europa precisa se defender e diz que acabará com a guerra em um dia, ao forçar negociações que Kiev hoje rejeita por assumir que, ao fim, terá de ceder território a Vladimir Putin. A Otan e a União Europeia também refutam isso hoje, com exceções pontuais, como a Hungria.

Para complicar, Trump escolheu para a vaga de vice na sua chapa o senador J.D. Vance, que abraçou o radicalismo trumpista e é contrário à ajuda militar aos ucranianos. Ele inclusive votou contra o pacote de Biden, que ficou travado durante meses e dificultou a situação em campo para Volodimir Zelenski.

Os alemães reagiram inicialmente à guerra prometendo grandes gastos, criando um fundo bélico de € 100 bilhões (R$ 596 bilhões hoje), mas na prática o processo é lento. Pela primeira vez desde a Guerra Fria, contudo, a maior economia europeia ultrapassará a meta de gasto da Otan, chegando a previstos 2,12% neste ano.

Em 2023, pelas contas do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (Londres), a Alemanha teve o sétimo maior gasto militar do mundo, equivalente a R$ 350 bilhões. Segundo o monitor de ajuda à Ucrânia do Instituto para Economia Mundial da cidade alemã de Kiel, Berlim forneceu € 10,2 bilhões (R$ 61 bilhões) em apoio militar a Kiev, cinco vezes menos que os EUA, até 30 de abril deste ano.

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