Descrição de chapéu g7 Guerra da Ucrânia

G7 aprova uso de bens russos para emprestar US$ 50 bi à Ucrânia; EUA fecham acordo militar com Kiev

Cúpula decide que recursos de Moscou congelados em bancos europeus serão destinados para defesa ucraniana; Washington assina compromisso de dez anos de cooperação

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Puglia (Itália)

Reunidos na Puglia, na Itália, os líderes dos países do G7 chegaram a um acordo, nesta quinta-feira (13), sobre um novo aporte de US$ 50 bilhões (R$ 268 bilhões) para a Ucrânia, que será viabilizado com o uso de bens russos congelados em bancos principalmente da Europa. Outro anúncio importante foi a assinatura de um acordo bilateral de segurança de Kiev com os Estados Unidos, que muda de patamar o vínculo de Washington com os ucranianos.

Pelos termos, os EUA se comprometem, durante dez anos, com o envio de equipamento e com o treinamento das forças ucranianas. Além do fornecimento de armas mais modernas, o acerto de longo prazo prevê ajuda para que Kiev possa principalmente desenvolver sua indústria militar em um padrão da Otan, a aliança do Ocidente liderada por Washington. O modelo de ajuda equipararia a Ucrânia a Israel na relação com os EUA.

Dois líderes políticos apertam as mãos diante de um pano de fundo que anuncia um acordo de segurança bilateral entre os Estados Unidos e a Ucrânia, simbolizando um momento de cooperação e parceria estratégica entre as duas nações.
Os presidentes da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e dos EUA, Joe Biden, se cumprimentam durante assinatura de acordo militar entre os países, na cúpula do G7, na Itália - Filippo Monteforte - 13.jun.24/AFP

"Este acordo é sobre segurança, proteção da vida humana, promoção da cooperação e do fortalecimento das nossas nações. Inclui medidas para garantir uma paz sustentável e beneficia todos em nível mundial. A guerra da Rússia contra a Ucrânia é uma ameaça global real", disse o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, que foi convidado para a cúpula.

Horas antes, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, havia anunciado o uso dos recursos russos. "Confirmo que chegamos ao acordo político para fornecer um apoio financeiro adicional de cerca de US$ 50 bilhões, até o fim do ano, graças a um mecanismo de empréstimo pelo qual podem ser utilizados os lucros de bens russos congelados nas nossas jurisdições." Segundo ela, não se trata de um confisco de bens, mas do uso de juros acumulados.

A decisão foi celebrada por outros participantes da cúpula. "Putin tem um plano. Ele quer forçar esta guerra até que todos desistam de apoiar a Ucrânia. Esse plano falhou hoje", disse o primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz.

Segundo Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, os recursos serão destinados para o reforço da defesa ucraniana e para a reconstrução do país. A ministra da Economia da Ucrânia, Iulia Sviridenko, falou em "grande vitória".

O debate sobre o uso dos recursos russos existe desde o início da invasão promovida pelo presidente Vladimir Putin, no início de 2022, e os EUA vinham sendo os principais incentivadores da proposta. No entanto, os países europeus, onde boa parte do dinheiro está retida, retardaram a decisão, sob temor de violar a lei internacional. Em fevereiro, o ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, deixou clara a posição do país, argumentando que tal decisão "violaria os pilares do sistema legal internacional e seria basicamente um roubo".

A Guerra da Ucrânia foi o principal tema do primeiro dia da reunião do G7, que reúne alguns dos países mais ricos do mundo. Duas sessões de trabalho foram dedicadas ao conflito, e parte delas contou com a participação de Zelenski. Além de Biden e Meloni, ele conversou com Rishi Sunak (Reino Unido), Justin Trudeau (Canadá) e Fumio Kishida (Japão). Com o japonês, foi assinado um acordo de segurança também de dez anos, que inclui assistência em segurança e defesa, cooperação técnica e ajuda humanitária.

Nesta sexta (14), outros líderes participam do encontro como convidados, como o papa Francisco, o presidente Lula, o premiê da Índia, Narendra Modi, e o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. A sessão será principalmente sobre inteligência artificial, energia, África e Mediterrâneo. Segundo o Itamaraty, a fala de Lula deverá espelhar temas da presidência brasileira do G20, como o combate à fome.

Depois de participar nesta quinta (13) de reunião anual da OIT (Organização Internacional do Trabalho), em Genebra, na Suíça, o brasileiro viajou para Itália, onde ficará hospedado em um hotel a cerca de 30 km de Borgo Egnazia. Foram confirmadas conversas bilaterais com o papa e com os líderes de Itália, Alemanha, França, Turquia, Índia e com Von der Leyen.

Na abertura dos trabalhos, Meloni afirmou que uma prioridade italiana é valorizar o diálogo com todos. "O G7 não é uma fortaleza fechada em si mesmo, que deve se defender de alguém."

Além da vitrine de sediar um evento deste porte, Meloni recebe os colegas de G7 em bom momento político, após o desempenho nas eleições para o Parlamento Europeu. O partido da primeira-ministra ficou com 28,8% dos votos na Itália, pouco acima do percentual obtido em 2022, quando foi eleita. Nos cumprimentos cerimoniais da manhã desta quinta, seu sorriso era um contraste evidente com o ar sóbrio de Macron, cuja legenda recebeu a metade dos votos da sigla de ultradireita de Marine Le Pen.

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, ri ao conversar com o presidente dos EUA, Joe Biden, no primeiro dia da cúpula do G7 no resort de Borgo Egnazia, na Puglia, Itália - Kevin Lamarque/Reuters/REUTERS

Outro europeu derrotado foi o alemão Scholz, que amargou um terceiro lugar. Fora da União Europeia, Sunak deve sofrer um revés no pleito britânico de 4 de julho e deixar o poder.

"A Itália se apresenta no G7 e na Europa com o governo mais forte de todos. É uma satisfação, mas também uma responsabilidade", disse Meloni ao comemorar os resultados, no domingo.

Longe das câmeras, os bastidores da conversas sobre o documento final esbarraram em um ponto de desencontro entre Roma, Paris e Berlim. Segundo a imprensa italiana, a diplomacia de França e Alemanha acusa a Itália de ter atuado para retirar do rascunho do documento final uma referência ao acesso ao aborto seguro e legal. O governo Meloni desmentiu e disse que as negociações sobre o texto final estão andamento.

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