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Descrição de chapéu Eleições nos EUA

Trump tenta enterrar boom de Kamala em 1º debate entre os dois candidatos

Em embate nesta terça (10), democrata aproveita momento para se apresentar ao eleitor e provocar pior lado do adversário

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Washington

O primeiro debate entre Kamala Harris e Donald Trump acontece nesta terça-feira (10) no coração da Pensilvânia, um estado visto cada vez mais como o fiel da balança na eleição deste ano —e onde eleitores poderão começar a votar para presidente na próxima segunda-feira (16).

Para a democrata, ainda relativamente desconhecida do eleitor, o debate é a melhor chance até novembro de mostrar quem é e o que quer —além de convencer de que é diferente "de tudo o que está aí". No caso do republicano, é a oportunidade de acabar de vez com a lua de mel após a troca na chapa democrata e colar na vice-presidente os rótulos de radical, fraca e tão culpada pelos problemas do atual governo quanto Joe Biden.

Montagem de fotos tiradas em momentos diferentes mostra candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, e vice-presidente dos EUA e candidata democrata, Kamala Harris - Eduardo Munoz e Nathan Howard - 30.mai.24 e 22.jul.24/Reutrers

A pressão é maior sobre Kamala, especialmente após a divulgação de uma pesquisa New York Times/Siena College no último domingo (8), em que Trump aparece numericamente à frente, com uma vantagem de 1 ponto percentual, na pesquisa nacional.

Considerando a margem de erro de 3 pontos, o cenário é de empate técnico. Ainda assim, o diagnóstico é de que o momentum ganho nas últimas semanas, com altas consecutivas pesquisa após pesquisa, chegou ao fim. Na média do agregador RealClearPolling, a vantagem de 1,9 ponto de Kamala caiu para 1,3 em uma semana.

Para mais de 80% do eleitorado que já definiu seu voto, o debate não deve fazer diferença. Nos últimos seis meses, Trump e o candidato democrata, seja Biden ou Kamala, oscilam entre os 44% e 48% das intenções de voto. Não há performance desastrosa em debate, tentativa de assassinato ou troca de candidato que tenha mudado esse quadro.

Assim, o alvo desta terça são os pouco menos de 20% que permanecem indecisos –um eleitorado mais jovem, racialmente diverso, pouco atento à política e mais preocupado com seu bolso do que a média.

A estratégia de Kamala deve seguir as mesmas linhas de seu discurso de encerramento da convenção democrata, no qual a candidata destacou sua origem de classe média e tentou emplacar ser a escolha para superar a cansativa polarização política que marca os EUA nos últimos anos.

Dessa vez, o fator idade está do lado dos democratas, e contrastar uma imagem de juventude e vigor contra um Trump confuso é a cena ideal para a campanha de Kamala.

Diferentemente de Biden, ela deve atacar Trump mais como uma ameaça às liberdades individuais —com destaque para o direito ao aborto— do que como uma ameaça à democracia. Mas, de maneira semelhante ao atual presidente, ela deve sofrer ataques nas mesmas duas frentes: economia e imigração.

O desafio de Kamala é conseguir se desvencilhar de Biden —a quem esse eleitor atribui a culpa pela perda do poder de compra e pela imigração recorde nos últimos anos— sem ofender o atual presidente e o governo do qual faz parte. Na entrevista à CNN, a saída da candidata foi afirmar que muito já foi feito, mas que há espaço para mais avanços.

Pairam ainda sobre a vice-presidente os desempenhos ruins dos debates das primárias democratas, em 2019, e as posições mais à esquerda que assumiu na época, quando tentava ganhar a base do partido. Esse flanco já vem sendo explorado pelos republicanos, sobretudo a oposição de Kamala à exploração de petróleo e gás por fracking e à detenção de imigrantes pegos ao cruzarem a fronteira ilegalmente –ela recuou em ambos os temas.

"Kamala Harris disparou nas pesquisas nacionais e nos estados decisivos desde que assumiu a chapa democrata em julho, mas participou de relativamente poucas entrevistas ao vivo na televisão", escreveu o estrategista democrata Max Burns.

"Isso aumenta a importância do debate de terça-feira, onde Kamala terá a tarefa de vender a visão dos democratas de um futuro sem Trump, enquanto também enfrenta perguntas difíceis sobre suas posições em evolução em questões-chave."

A campanha de Trump vem apontando há semanas o debate como um momento de virada, contando com a inexperiência e o histórico ruim da vice-presidente em embates diretos para desmontar o ânimo em torno da sua candidatura.

Do mesmo modo que Kamala precisa se apresentar, o republicano precisa introduzir a adversária ao eleitorado em seus termos: uma radical de esquerda tão culpada quanto Biden pela inflação e disparada da imigração.

São linhas de ataque que o empresário vem testando nas últimas semanas, ilustradas pelas expressões "camarada Kamala" e "czar da fronteira" usadas por ele para se referir à adversária. O desafio de Trump é se manter nessa estratégia, calibrando o nível de agressividade, sem incorrer em ofensas racistas e machistas.

"Bata nela nas políticas. Assim como você fez com Biden no primeiro debate. Aquele foi um Donald Trump disciplinado, firme e focado em políticas. Eu adoraria ver o mesmo Donald Trump contra Kamala Harris", disse à Fox News o consultor republicano Ari Fleischer.

Trump já saiu parcialmente na frente nesse quesito. Democratas avaliaram que a regra de mutar o microfone enquanto o adversário fala favoreceu o ex-presidente no debate contra Biden —e tentaram renegociá-la, sem sucesso. Para a campanha de Kamala, o cenário ideal era um em que o espectador pudesse ouvir o republicano perder o controle.

Para se precaver de um eventual desempenho ruim, o ex-presidente vem atacando o canal ABC, que organiza o debate, como uma rede de fake news cuja cobertura seria supostamente a mais injusta contra ele. Também é esperado que ele coloque em dúvida a lisura da eleição, repetindo ataques sem provas que têm feito em comícios e entrevistas.

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