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Bolsonaro oferece aos militares saída do labirinto em que entraram

Presidente errou ao achar que ganharia apoio, de resto garantido na Justiça sob a bancada da bala

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São Paulo

A aguda crise causada por Jair Bolsonaro nas Forças Armadas poderá dar aos militares da ativa algo com que vinham sonhando há algum tempo: uma saída para o labirinto político nos quais se enfiaram desde que a corporação aderiu capitão reformado em 2018.

O processo de aproximação foi melhor desenhado pelo homem que comandou a principal Força, o Exército, naquele período: Eduardo Villas Bôas.

Bolsonaro na despedida do comando de Eduardo Villas Bôas, na cadeira de rodas - Valter Campanato - 11.jan.2019 /Agência Brasil

No seu polêmico livro-depoimento, lançado em fevereiro, o general descreveu como a mistura de antipetismo e antipolítica dos fardados encontrou par ideal na figura ascendente de alguém oriundo do meio militar.

Havia também a ilusão, e isso Villas Bôas não conta, de que a instalação das várias alas militares dentro do Executivo garantiria duas coisas: controle sobre o insubordinado capitão e um resgate administrativo, por assim dizer, da imagem do Exército passadas mais de três décadas do fim da ditadura.

Foram apostas erradas. Bolsonaro se mostrou impossível de gerir, apesar de sempre correr aos fardados por apoio —até que redescobriu as delícias do centrão, no ápice da crise de 2020.

Do ponto de vista de gestão, Eduardo Pazuello e suas três estrelas de general da ativa no Ministério da Saúde falam por si, assim como os quase 315 mil mortos pela pandemia da Covid-19.

Assim, por mais que já em novembro de 2018 o próprio Villas Bôas buscasse dizer "urbi et orbi" que Bolsonaro não era a volta dos militares ao poder, a procissão de cerca de 6.000 fardados no governo, em alguns momentos 10 deles ministros, provava o contrário amparada em ganhos de carreira inéditos.

O sucessor do comandante, Edson Leal Pujol encarnou a tentativa do serviço ativo de se afastar dos generais e almirantes de terno —há também um tenente-coronel da Aeronáutica, o astronauta do Ministério da Ciência e Tecnologia, mas ele não representa a Força, de resto a mais arredia à política.

Da cotovelada na mão do chefe no Comando Militar Sul até a palestra na qual ele defendeu que militar algum participasse da política, ele colecionou discordâncias com Bolsonaro, quase sempre girando em torno da Covid-19.

Mas não só: a ativa não engole a política armamentista do presidente, que retirou poder do Exército sobre o manejo de armas e munições. Vê isso com o mesmo olhar de desconfiança de quem viu a bancada da bala assumir o Ministério da Justiça.

Ao fim, quem equilibrava os pratos era o ministro Fernando Azevedo (Defesa). Mas, como afirmou um amigo dele, há limite para tudo. A pressão contínua por gestos políticos em favor da agenda bolsonarista, em especial contra medidas de contenção da circulação do Sars-CoV-2, cansou.

Houve várias gotas d'água no processo de desgaste. A nota precisa de Azevedo acerca de ter mantido a institucionalidade das Forças sob sua guarda dá a chave para o que vem a seguir.

As reações das cúpulas militares foram unânimes: contra a Constituição nada faremos. Não é nada mais do que a lógica, mas mostra o tamanho do esgarçamento promovido por Bolsonaro.

Os novos comandantes serão nomes de consenso, e resta saber se Walter Braga Netto, na cadeira de Azevedo, faria algo diferente do que seu antecessor fez na prática. No mundo político, espera-se que não.

Para a ativa, se a acomodação for encontrada, sobrou o presente de Bolsonaro na crise. O comandante-em-chefe achou que iria angariar mais apoio pessoal entre os militares com a pressão, mas na verdade abriu a porta para o desembarque deles de quaisquer intenções golpistas.

O tom duro de Braga Netto com os comandantes de saída, contrariando regras de antiguidade tão ao gosto da classe, foi visto como um sinal de que Bolsonaro deve insistir na sua tática.

Há bolsonarismo nas Forças, é evidente, assim como grassa a ojeriza ao PT. Ainda mais nas corporações policiais que ora tomam a Justiça e a Segurança Pública.

Aliás, apesar de toda a fumaça e fogo da troca na Defesa, parece haver mais perigos embutidos na discreta mudança naquele ministério.

Ao estamento militar, a soberba do presidente acabou dando uma opção, e a sinalização até aqui é que o caminho é o do quartel.

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