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Campanha de Bolsonaro minimiza efeito de ataque a mulheres e vai insistir em corrupção contra Lula

Aliados dizem que petista não teria conseguido responder à pergunta; presidente se mostrou aberto a ir a próximos debates

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Brasília

A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) comemorou o embate com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em torno de corrupção no debate neste domingo (28) e quer repetir a fórmula em futuros confrontos.

Ainda que fosse evidente que o atual chefe do Executivo exploraria os escândalos das gestões petistas, Lula tergiversou ao ser confrontado. O episódio, de acordo com aliados de Bolsonaro, passou a impressão de que estaria fugindo da pergunta e aumentou a rejeição do eleitorado a ele.

O evento foi organizado por Folha, UOL e TVs Bandeirantes e Cultura e durou quase três horas. Lula e Bolsonaro foram os últimos a confirmar presença no evento —após dias de incertezas nas campanhas.

Os candidatos Lula (PT), Tebet (MDB) e Bolsonaro (PL) - Miguel Schincariol/AFP

Interlocutores levaram ao chefe do Executivo resultado positivos de pesquisas com eleitores durante do debate. Ele ficou satisfeito e se mostrou aberto a ir a próximos embates, segundo relatos.

Na evento deste domingo, Bolsonaro perguntou ao ex-presidente, seu principal adversário na corrida eleitoral, se o petista queria voltar ao poder para continuar a corrupção na Petrobras. Lula afirmou então que "inverdades não valem a pena na TV", assim como "citar números mentirosos", e listou medidas anticorrupção de seu governo, entre as quais a criação do Portal da Transparência e da Lei de Acesso à Informação.

Na réplica, Bolsonaro citou a delação de Antonio Palocci, ex-ministro de Lula e Dilma Rousseff (PT), para afirmar que o governo do ex-presidente foi feito "a base de roubo". A própria campanha de Lula avaliou como negativa a resposta do petista, como mostrou a coluna da Mônica Bergamo.

Se o presidente levou vantagem ao confrontar Lula sobre corrupção, derrapou ao atacar as mulheres nas figuras da jornalista Vera Magalhães e da candidata Simone Tebet (MDB) —ele disse que elas são "uma vergonha".

A avaliação também foi compartilhada por integrantes da campanha. Além de ele ter sido machista, o que não contribui para angariar o voto feminino, provocou reação forte dos adversários.

O movimento fortaleceu a tese de uma parte do entorno de Bolsonaro, composta por ministros da ala política, de que ele não deveria mais comparecer a debates no primeiro turno. A leitura desse grupo é a de que seria melhor se o chefe do Executivo participasse apenas de confrontos no segundo turno.

Em segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos, Bolsonaro está 15 pontos atrás de Lula. A pesquisa mais recente do Datafolha mostrou o petista com 47% ante 32% do presidente.

Ninguém arrisca dizer, por ora, se o presidente participará ou não de futuros debates.

A experiência dos últimos dias, marcada por vaivém sobre sua ida à Band, demonstra a dificuldade de Bolsonaro de tomar decisão. Aliados afirmam que cabe a ele bater o martelo.

Apesar de considerarem o ataque às mulheres um ponto negativo, integrantes da campanha minimizaram seus efeitos eleitorais. Para eles, as mulheres mais pobres, parcela do voto feminino que Bolsonaro precisa atrair, não assistiram ao debate e estão mais preocupadas com questões econômicas.

O entorno do presidente lamentou ainda que ele não tenha explorado com intensidade respostas que destacariam melhoras na economia, como redução do desemprego.

A reação machista de Bolsonaro, contudo, será amplamente explorada por adversários, segundo aliados, e servirá para reforçar uma posição de destaque de Simone Tebet (MDB). Para integrantes da campanha, o desempenho da emedebista foi o melhor do debate, como avaliaram eleitores indecisos ao Datafolha.

A percepção é a de que ela pode ser um fator de instabilidade em eventuais novos confrontos, por tender a explorar os ataques contra mulheres.

Concretizando a expectativa de aliados, Bolsonaro virou vidraça e foi alvo de todos os adversários. O chefe do Executivo conseguiu manter a calma na maior parte do tempo, mas se exaltou ao ser questionado pela jornalista Vera Magalhães sobre a vacinação.

"Vera, não poderia esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim, você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido num debate como esse. Fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro", disse Bolsonaro.

Tebet saiu em defesa da jornalista e também foi atacada. "A senhora é uma vergonha para o Senado. E não estou atacando mulheres, não. Não vem com essa historinha de atacar mulheres, de se vitimizar."

Ciro Gomes (PDT) e Soraya Thronicke (União Brasil) exploraram a grosseria do presidente. "Quando vejo o que aconteceu com a Vera, fico extremamente chateada. Quando homens são tchutchucas com outros homens, mas vêm para cima da gente sendo tigrão. Fico extremamente incomodada, fico brava."

Em um esforço da campanha para tornar o general da reserva Braga Netto, candidato a vice de Bolsonaro (PL), mais popular, o militar estreou no Twitter nesta segunda-feira (29) com uma mensagem em que diz que ajudará o mandatário a trazer "mais ordem e progresso" para o Brasil.

Com um texto alinhado ao do chefe do Executivo, ele afirma que dedicou a vida "à liberdade do nosso povo" e que trabalhará para colocar o "Brasil acima de tudo e Deus acima de todos", em alusão ao slogan de campanha de Bolsonaro em 2018.

"Alinhado aos valores conservadores e ao liberalismo econômico do presidente Bolsonaro, foi com muita honra e orgulho que recebi a missão de ser candidato a Vice-Presidente, a mais desafiadora e importante dos meus 65 anos de vida", escreveu.

Braga Netto também lembra sua atuação como chefe da intervenção no Rio de Janeiro decretada pelo governo federal na época do então presidente Michel Temer (MDB) e recorda que foi ministro da Defesa e da Casa Civil de Bolsonaro.

O chefe do Executivo escolheu o general da reserva para o posto por acreditar que ele é um homem de confiança e que não tem perfil para articular eventual impeachment do presidente em caso de reeleição.

A deputada federal e ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina chegou a ser cotada para o posto, mas o presidente preferiu o militar para ser seu colega de chapa.

Integrantes do centrão pressionaram o presidente a mudar de decisão porque acreditavam que Cristina poderia ajudar a suavizar a imagem do mandatário e melhorar seu desempenho junto às mulheres, uma das fatias do eleitorado em que enfrenta maior rejeição. No entanto, a pressão não surtiu efeito.

Como vice, Braga Netto tem acompanhado Bolsonaro em atos de campanha, mas também há a previsão de fazer agendas sozinho para levar o nome do mandatário.

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