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Google fatura com anúncios em sites que disseminam fake news sobre eleição no Brasil

Segundo investigação da ProPublica em parceria com a Folha e a UFRJ, 80% dos principais sites que espalham fake news se financiam com propaganda intermediada pela plataforma

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São Paulo

O Google financia 80% dos sites que publicam fake news sobre supostas fraudes eleitorais, Covid e vacinas e estão entre os mais compartilhados no Brasil, segundo estudo da ProPublica em parceria com a Folha e o NetLab da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Levantamento com sites que já tiveram conteúdo classificado como falso por agências de checagem filiadas à Rede Internacional de Checagem de Fatos e estão entre os 30 mais compartilhados em grupos de WhatsApp e Telegram aponta que 24 deles se monetizam por meio de anúncios do Google. Eles faturam com anúncios do Google em páginas com publicações que ferem as regras da própria empresa.

Foto mostra urna eletrônica, tema constante de fake news, em teste em Porto Alegre. - Evandro Leal/Agência Enquadrar/Folhapress

A plataforma proíbe monetização de conteúdo com "afirmações que são comprovadamente falsas e podem prejudicar a participação ou a confiança no processo eleitoral" ou "que promove afirmações nocivas à saúde ou alegações relativas a uma crise de saúde pública que contrariam o consenso científico".

A investigação global da ProPublica, que será publicada também neste sábado (29), mostra que o Google ajuda a sustentar sites disseminadores de informação falsa em partes da Europa, América Latina e África, apesar de a plataforma dizer que está empenhada no combate à desinformação no mundo. A situação é muito pior em países cujo idioma principal não é o inglês.

Segundo a ProPublica, o Google veiculou anúncios em 13% dos sites em inglês considerados não confiáveis pela NewsGuard por publicarem sistematicamente conteúdo falso e manchetes enganosas. Na Croácia, Sérvia e Bosnia e Herzegovina, 26 dos 30 sites (87%) que tiveram a maior quantidade de conteúdos classificados como falsos por agências de checagem estavam ganhando dinheiro através de anúncios do Google durante a análise.

Na Turquia, eram 45 dos 50 sites mais checados (90%). Na Espanha, 14 de 32 sites considerados desinformativos pelo EU Disinfo Lab estavam se monetizando com Google e em países de idioma alemão analisados pela ProPublica, eram 10 de 30 sites (33,3%). Na América Latina, 19 de 49 sites (38,7%) considerados disseminadores de informações falsas por agências de checagem da região faturavam com o Google e, no Brasil, 80% dos 30 sites com fake news mais compartilhados.

"Enquanto o Google permitir que sites, canais e quaisquer outros tipos de fontes de desinformação tenham a opção de se monetizar através dos anúncios do Google, a empresa está não só contribuindo para a disseminação de fake news, como está ajudando a financiar a indústria da desinformação", diz Marie Santini, coordenadora do NetLab.

Santini acredita que o Google e outras plataformas negligenciam o combate à desinformação no Sul Global. "Esses sites têm um papel fundamental no ecossistema de desinformação, porque enganam muitas pessoas que acreditam realmente estar lendo uma notícia; e por monetizarem o conteúdo através de anúncios, tornam o ecossistema de desinformação auto-sustentável."

A investigação da ProPublica é a mais abrangente já realizada sobre anúncios do Google em sites que não são em inglês. Usando dados de agências de checagem, pesquisadores e organizações de monitoramento, a ProPublica analisou mais de 13 mil páginas ativas de milhares de sites em seis idiomas para determinar se estavam ganhando dinheiro com anúncios via Google. No Brasil, os parceiros foram a Folha e o NetLab.

Depois de ser contatado pela ProPublica, o Google removeu os anúncios de 14 sites analisados na investigação, entre eles os brasileiros Brasil Sem Medo, Folha da Política, StyloUrbano e Tribuna Nacional.

Globalmente, o Google fatura cerca de US$ 200 bilhões por ano com anúncios. No site Terra Brasil Notícias, publicações comprovadamente falsas dizendo "Só o Brasil no mundo inteiro usa urna eletrônica sem voto auditável" e "Documentos mostram coronavírus sendo testado como arma biológica 5 anos antes da pandemia por chineses" tinham anúncios do Google ou direcionados por sistemas do Google –que, portanto, geram faturamento para a plataforma e para o site. As duas informações já foram consideradas mentirosas por diversas checagens.

O Terra Brasil tem a maior audiência entre os sites alinhados ao presidente Jair Bolsonaro –15 milhões de visitas em julho. O site, que já foi prestigiado por Bolsonaro em um vídeo, teve inúmeros conteúdos classificados de "falsos" por agências de checagem.

Procurado pela Folha, o responsável pelo Terra Brasil Notícias, o advogado Agacy Melo Júnior, afirmou que já havia apagado a página com conteúdo falso sobre a urna eletrônica e que iria determinar a exclusão da publicação sobre coronavírus até que possa analisar melhor.

"Vou checar e ver as fontes, geralmente confiamos nas empresas checadoras e apagamos sim, aprendemos muito durante a pandemia e somos muito rigorosos quanto a conteúdo sobre vacinas", disse.

"Quanto às urnas, já declaramos que confiamos totalmente no sistema de votação adotado atualmente no Brasil." Júnior afirmou que fatura cerca de US$ 5 mil por mês (R$ 26.550) com anúncios via Google. "Nós praticamente só ganhamos o valor para pagar as despesas do site com provedor, jornalista e etc, em torno 5.000 dólares por mês!".

Outro site que se financia usando anúncios vendidos por meio do Google é o AliadosBrasilOficial. Havia anúncios do Google em página que dizia "Bolsonaro falou sobre as fraudes eleitorais que vêm acontecendo desde que foi implementado o voto através da Urna Eletrônica"— a página foi removida após a Folha entrar em contato com o representante do site.

Outra página monetizada com Google Ads anunciava estudo supostamente mostrando que a vacina de Covid causa leucemia —conteúdo já rotulado como falso por associações médicas e checadores.

O representante do AliadosBrasilOficial, Gustavo Reis, afirmou que reproduziu "matéria estrangeira feita com um médico independente, que se destacou na luta contra a imposição de vacinas e foi perseguido por isso. Assim como tantos outros." E perguntou: "Vale questionar: os checadores tem fé pública para determinar verdades e mentiras? Eles afirmam ser falsas baseadas em depoimentos de outros médicos ou há estudo científico comprovando que as afirmações são verdadeiramente falsas? É ÓBVIO que algo comprovadamente falso é retirado do ar, caso tenha sido publicado. Isso em qualquer assunto."

Sobre a matéria das alegadas fraudes nas urnas, Reis afirmou ter "corrigido" o texto após contato da Folha.

Outras exemplos de fake news que geraram receita para o Google e para os sites por meio de anúncios via Google são sobre alegada fraude eleitoral no Folha da Política, que removeu o conteúdo e foi desmonetizado pela plataforma após contato. E "vacinas contra a Covid supostamente impedindo vacinados de viajar por causarem coágulos", no site StyloUrbano (que também foi desmonetizado após contato, mas manteve a publicação).

Procurado, o Google afirmou que tem desenvolvido e colocado em prática diversas ações para combater a desinformação, "incluindo políticas específicas sobre integridade eleitoral, Covid-19 e mudanças climáticas."

"Trabalhamos intensamente para aplicar essas políticas em mais de 50 idiomas, incluindo em português. Somente em 2021, removemos anúncios de mais de 1,7 bilhão de páginas de conteúdo e de 63 mil sites por completo, globalmente."

A plataforma não informa quantos sites em cada país e idioma tiveram anúncios removidos. "Sabemos que esse trabalho é contínuo e seguiremos investindo em nossos sistemas para detectar de maneira rápida informações enganosas e proteger nossa comunidade de usuários ao redor do mundo", disse a assessoria do Google em nota.

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