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Boulos muda de posição em temas como aborto, drogas e Venezuela

Candidato acumula recuos, adapta tom e se distancia de bandeiras do PSOL e da esquerda por campanha a prefeito

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São Paulo

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), candidato à Prefeitura de São Paulo, mudou de posição em temas-chave desde que concorreu a um cargo eletivo pela primeira vez, em 2018, distanciando-se de bandeiras de seu partido e da esquerda.

O candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) durante comício na zona sul da cidade - Folhapress

O parlamentar abandonou defesas como a da legalização do aborto e da descriminalização das drogas e recuou no apoio ao regime de Nicolás Maduro na Venezuela.

Se antes fazia críticas ao PT —muito embora mais brandas que aquelas disparadas por alas à esquerda de seu partido—, ele hoje tem uma petista, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT), como vice.

A mudança de tom na comparação com 2018, quando concorreu à Presidência da República, e com 2020, quando também disputou o comando da capital, fazem parte do processo de conversão ao centro político e busca por moderação que norteia sua nova tentativa de se tornar prefeito.

O movimento, visto como uma concessão ao pragmatismo nos moldes do adotado para eleger seu aliado Lula (PT) presidente em 2022, é controverso mesmo entre aliados e integrantes de PSOL e PT, mas as críticas têm surgido apenas em privado, num esforço para não prejudicar a campanha.

Boulos, que já defendeu a descriminalização das drogas e a legalização da maconha, hoje diz que sua posição não é de legalização e, sempre que questionado, afirma defender o entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) pela diferenciação entre traficante e usuário.

O deputado também se declarou no passado a favor do direito das mulheres de decidirem sobre aborto e celebrou a aprovação de uma lei na Argentina em 2020 que aprovou o direito de a mulher ter a palavra final sobre o procedimento. Hoje, é evasivo quando indagado sobre o tema e repete defender que o aborto ocorra só nos casos previstos na legislação brasileira.

Boulos, que também já disse considerar que nem Venezuela nem Cuba fossem ditaduras, agora afirma que a Venezuela não é seu "modelo de democracia" e, diante de perguntas nas últimas semanas, declarou que há indícios suficientes para dizer que houve fraude eleitoral no pleito recente no país.

No campo das privatizações e terceirizações, Boulos hoje defende "fiscalização adequada" de aparelhos públicos sob gestão de entidades privadas, dizendo que encerrar parcerias levaria a um colapso da saúde e da educação na cidade.

Em 2020, o candidato falava em "enfrentar as máfias dos ônibus, das OSs [organizações sociais] na saúde e nas creches", com um programa que apontava para a "reversão do processo de terceirização e restituição progressiva de serviços diretos por efetivos". Para isso, queria abrir concursos públicos.

O plano de governo de quatro anos atrás, ao prometer "reverter a lógica privatizante" em diferentes áreas, afirmava que, se ele fosse eleito, revogaria a concessão do estádio do Pacaembu, cuja administração foi repassada à iniciativa privada em contrato válido por 35 anos.

A mudança programática busca conquistar um eleitorado mais amplo e reverter a pecha de "radical", apontada por pesquisas internas da campanha como um dos grandes fatores para a alta taxa de rejeição do candidato —hoje em 37%, a maior entre todos os postulantes.

A escolha de Marta para a vice é vista como um aceno a setores de fora da esquerda com os quais a ex-prefeita tem proximidade.

O deputado, ex-dirigente do MTST (movimento de moradia), repete que, se chegar à cadeira de prefeito, não representará apenas seus ideais ou seu partido, mas um conjunto de forças da sociedade —inclusive a parcela do eleitorado que não terá votado nele.

"Diante de um perigo catastrófico, o PSOL estava disposto a sacrificar algumas construções programáticas para construir um acordo com o PT, que é um partido mais moderado", opina Valério Arcary, dirigente do PSOL que não cumpre papel operacional na campanha.

No pano de fundo da discussão está um embate entre alas da esquerda em que um lado considera necessário abrir mão de certo purismo militante e mirar a ocupação de espaços institucionais na política, o que pode exigir suavização de propostas e alianças partidárias em um espectro mais largo.

Políticos e assessores procurados pela reportagem com pedidos de entrevista declinaram, argumentando que a questão é delicada, e o debate externo só será possível após a eleição.

Falando sob anonimato, um membro do diretório municipal do PT diz que, independentemente de discordâncias em posições específicas, Boulos é o único candidato capaz de vencer a extrema direita no pleito municipal.

Arcary, do PSOL, diz que a base tem pressionado por maior combatividade de Boulos contra Pablo Marçal (PRTB), o que não se reflete no programa da campanha. "Já estamos fazendo um giro nesse sentido", afirma. Boulos explora a mensagem de que Marçal e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) são "dois lados da mesma moeda do bolsonarismo".

A campanha de Boulos, em resposta à Folha, indica que as posições não podem ser analisadas isoladamente. "Hoje a conjuntura nacional é completamente diferente. É importante que o contexto político seja apresentado", afirma.

A nota diz ainda que "boa parte das declarações mencionadas pela reportagem foi feita num contexto de debate nacional, o que enviesa a comparação com as posições defendidas pelo candidato em âmbito municipal".

"Ao longo de duas décadas, Boulos vem mantendo com firmeza seus valores e princípios de inclusão social e combate às desigualdades. Suas posições atuais como candidato são reflexo de um acúmulo coletivo representado pela maior coligação progressista nas eleições de 2024 na cidade de São Paulo."

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