Luiz Carlos Ferreira
São Paulo

Em 8 de junho de 1978, o Notícias Populares destacou o caso do torcedor carioca Júlio Godim, de 44 anos, que se matou no Rio de Janeiro durante o empate de 0 a 0 entre Brasil e Espanha na Copa do Mundo daquele ano, na Argentina.

Morador do bairro de Bangu, na zona norte do Rio, e torcedor fanático da seleção, Júlio estava inquieto desde a noite anterior à partida. Era o segundo jogo da seleção canarinho, que vinha de um empate de 1 a 1 contra a Suécia, pelo Grupo 3 do campeonato.

Segundo amigos que acompanhavam o torcedor no dia do jogo, Júlio estava muito confiante e já comemorava por antecipação uma vitória dos brasileiros. Desde manhã, o carioca empunhava de um lado para o outro a bandeira do Brasil, tamanha a sua ansiedade.

Cerca de uma hora antes da partida, Júlio saiu de casa e seguiu em direção a um bar próximo, onde assistiria à disputa com os colegas.

Durante o primeiro tempo de partida, sem se calar um minuto sequer, o torcedor era só gritos a cada ataque é defesa dos jogadores. Ao mesmo tempo em que vibrava, xingava os atletas pelas falhas cometidas.

Manchete publicada no "Notícias Populares" em 8 de junho de 1978 destaca suicídio de torcedor
Manchete publicada no "Notícias Populares" em 8 de junho de 1978 destaca suicídio de torcedor - Folhapress

Sob o comando do técnico Cláudio Coutinho, a seleção brasileira de 1978 era composta em sua maior parte por uma nova geração de craques, entre os quais Zico, Toninho Cerezo, Batista, Roberto Dinamite, Reinaldo, Edinho, Oscar e Amaral, que se somavam a Nelinho, Dirceu, Rivellino e os goleiros Leão e Waldir Peres, que já haviam disputado Copas anteriores.

No início do segundo tempo, o nervosismo excessivo de Júlio era notado pelos colegas, porém a certeza do êxito da seleção ainda persistia. Passada a metade do segundo tempo, irritado com a atuação do Brasil, passou a torcer para a Espanha.

A pouco mais de dez minutos do fim do jogo, inconformado, Júlio deu um soco sobre a mesa do bar e saiu furioso em direção à sua casa.

Conforme publicou o Notícias Populares, ele apanhou barbitúrico e voltou arquejante para o boteco. Não querendo admitir em hipótese alguma o empate, pediu um copo de cachaça e ingeriu uma forte dose do "veneno", num coquetel suicida, faltando 5 minutos para o final da partida.

Levado às pressas para o Hospital Padre Olivério Kreamer, no Realengo (zona Oeste), o torcedor morreu antes mesmo de ser atendido pelos médicos.

Nas partidas seguintes, a seleção brasileira ganharia da Áustria (1 x 0), do Peru (3 x 0) e da Polônia (3 x 1), até a disputa pelo terceiro lugar quando venceu de 2 a 1 da Itália, se tornando invicta na Copa, que teve a anfitriã Argentina como campeã ao bater a Holanda por 3 a 1.

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