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Demissão de motorista iniciou medidas que afastaram rei da publicidade da WPP

Martin Sorrell renunciou à presidência do grupo em abril

Martin Sorrell, ex-presidente da WPP, fala durante o Fórum Econômico Mundial
Martin Sorrell, ex-presidente da WPP, durante o Fórum Econômico Mundial - Ruben Sprich - 17.jan.17/Reuters
Madison Marriage Matthew Garrahan
Financial Times

O motorista de Martin Sorrell trabalhava para o presidente-executivo do grupo WPP há 15 anos, transportando o rei da publicidade pelas ruas de Londres em um Land Rover. No final do ano passado, o emprego dele chegou a um fim abrupto.

Depois de trabalhar muito durante 12 dias, com longas horas ao volante, sua última missão foi apanhar Cristiana, a mulher de Sorrell, no restaurante Isabel, em Mayfair, e levá-la para casa, em Belgravia. Eram 2h, e o motorista foi informado de que precisaria voltar ao trabalho dali a cinco horas. Ele recusou, dizendo ter um compromisso, e acrescentando que seria um risco dirigir depois de apenas duas ou três horas de sono.

Sorrell o demitiu no dia seguinte.

Nenhum dos dois poderia ter imaginado, naquele momento, que o episódio de destempero executivo ajudaria a deflagrar uma cadeia de eventos que levaria Sorrell a renunciar ao comando da empresa que ele liderou por 33 anos, transformando uma fabricante de cestos para supermercados no maior grupo mundial de marketing e comunicação.

Desde a renúncia de Sorrell, em 14 de abril, depois de uma investigação ordenada pelo conselho do grupo sobre sua conduta pessoal e possível uso indevido de dinheiro da empresa, a reportagem conversou com mais de 25 pessoas que trabalharam diretamente com o antigo líder do WPP.

O que emergiu foi um retrato de abusos verbais rotineiros contra subordinados, e de uma mistura entre a vida profissional e a vida pessoal do executivo que incomodava alguns de seus colegas —especialmente por conta dos gastos que ele realizava e eram cobertos pela empresa, o que incluía despesas de sua mulher.

Pouca gente ousava contestar o comportamento de Sorrell, na sede do WPP, ou apontar para problemas na fiscalização pelo conselho da empresa quanto ao comportamento de um dos mais bem sucedidos executivos britânicos, um homem visto ao mesmo tempo como insuportável e indispensável.

Nas semanas que se seguiram à partida de Sorrell, houve críticas à maneira pela qual a empresa conduziu o assunto, especialmente à falta de transparência quanto aos motivos de sua saída.

A Glass Lewis, uma consultoria que assessora acionistas, recomendou que os membros investidores votem contra a reeleição de Robert Quarta para a presidência do conselho do WPP, na assembleia geral de acionistas marcada para 13 de junho.

Sorrell, 73, conseguiu sair do WPP sem perder o direito aos seus milionários pagamentos de incentivo. A inquietação inicial se tornou raiva, entre alguns acionistas e empregados da companhia, quando Sorrell anunciou no mês passado que criaria um novo grupo publicitário, como possível concorrente do WPP.

A falta de quaisquer informações exceto um comunicado do WPP informando que a investigação sobre supostos delitos pessoais de conduta de Sorrell estava "encerrada" resultou em especulações absurdas e boatos sobre os motivos de sua saída.

Mas entrevistas com diversos empregados do WPP, antigos e atuais, agora oferecem um vislumbre dos acontecimentos, que têm por centro uma suposta visita a um bordel em Mayfair, um ano atrás, que teria sido testemunhada por duas empregadas da empresa, uma das quais teria denunciado o fato ao conselho mais tarde.

O suposto incidente despertou questões sobre o possível uso de dinheiro da companhia para fins indevidos, e parecia se enquadrar a um padrão no qual era difícil separar as despesas pessoais e de negócios do executivo.
 

O mau gênio de Sorrell

O motorista de Sorrell era uma figura popular nos escritórios do WPP em Farm Street, e tinha um relacionamento amistoso com a legião de assistentes executivas (três em Londres e uma equipe paralela em Nova York) que cuidavam das necessidades de Sorrell e de sua mulher 24 horas por dia.

Para muitas mulheres, ao longo dos anos, ser assistente executiva de Sorrell provou ser um trabalho bem remunerado mas desgastante. O salário anual das assistentes gira em torno de 80 mil libras, mas de acordo com relatos de diversas assistentes, isso estava longe de ser suficiente. Uma dessas assistentes se referiu ao seu salário como "pagamento de combate", e outra a "pagamento de batalha".

O tratamento que Sorrell dava às suas assistentes e outros subordinados era bem conhecido dos executivos da empresa, mas estes não sabiam como reagir quando testemunhavam incidentes, de acordo com executivos e ex-executivos do WPP Group.

"Ele era brutal e desumano, na forma pela qual lidava com suas assistentes", disse um ex-executivo da empresa. "Ele dizia coisas como 'vocês são completamente idiotas, tem alguma coisa de errado com vocês'... Ele tinha um lado verdadeiramente sombrio".

Um antigo membro do conselho do WPP, que pediu que seu nome não fosse citado, acrescentou que jamais teve problemas com Martin.

"Ele nunca ergueu a voz para mim ou gritou comigo. Mas com suas assistentes em seu escritório, e elas não duravam muito tempo lá, o costume era tratá-las muito mal. O giro de pessoal era muito grande, porque era um trabalho muito ingrato".

Outro empregado disse que trabalhar para Sorrell era como estar em um relacionamento abusivo. Para o mundo externo, ele era charmoso, mas dentro de sua empresa, era um opressor. Diversos ex-empregados do WPP disseram que o presidente-executivo costumava xingar os subordinados, descrevendo uma colega mais velha como "pudim" e chamando outras pessoas de "estúpidas".

Sorrell admitiu que seu temperamento pode ser difícil às vezes, especialmente em casos de mau desempenho, mas nega ter destratado, intimidado ou abusado de seus subordinados. Os defensores dele apontam para a longevidade da carreira de muita gente dentro da empresa, em diversos papéis e níveis, e para as dezenas de mensagens de apoio que Sorrell vem recebendo.

Ele se recusou a comentar pessoalmente para esta reportagem, afirmando ter assinado um acordo de confidencialidade.

Com algumas poucas exceções, as assistentes pessoais de Sorrell trabalhavam para ele por um máximo de cerca de 18 meses. Para muitas delas, o trabalho era desgastante demais. Como disse uma dessas assistentes, "depois de um ano, meu médico disse que, se eu continuasse, morreria".

Ela descreveu o escritório da presidência como um ambiente tóxico e falou de uma cultura do medo sob a qual as pessoas se atacavam para não fazer papel feio aos olhos dele.

"As assistentes pessoais eram vistas como descartáveis. Essa é a única [grande] empresa para a qual trabalhei em que parecia que o conselho existia para servir ao presidente, e não o contrário."

Sorrell, o rei da terra da publicidade

Ao longo de seu período no comando do grupo, Sorrell sempre desfrutou de seu status como um dos mais importantes executivos mundiais de comunicações. Ele revolucionou o setor por meio de jogadas e aquisições audaciosas, tomando o controle de agências ilustres como a J. Walter Thompson e a Ogilvy & Mather.

Hoje, o WPP controla mais de 400 empresas separadas nos ramos de compra de mídia, análise de mídia, pesquisa, publicidade e relações públicas, e emprega 130 mil pessoas. Representa clientes como Procter & Gamble, Google, Ford e Unilever —relacionamentos que em muitos casos foram desenvolvidos e eram mantidos diretamente por Sorrell.

Mas ele era muito mais que um presidente-executivo. Figura sempre presente no Fórum Econômico Mundial de Davos, Sorrell também era destaque em muitas conferências em todo o planeta, fazendo sábios pronunciamentos sobre as mais recentes tendências econômicas e geopolíticas.

Era uma máquina em perpétuo movimento, sempre trabalhando —mesmo nos feriados—, e respondia a emails 24 horas por dia.

Sua agenda de viagens o levava ao mundo todo, para reuniões com clientes e sócios, e o colocava em contato regular com a elite do planeta. Sorrell foi um dos convidados ao casamento do príncipe Harry com Meghan Markle, em Londres no mês passado, na capela de St. George, em Windsor.

O ritmo frenético de suas viagens requeria coordenação estreita com sua equipe de assistentes, que também cuidava das necessidades de Cristiana Sorrell, que frequentemente tinha de acompanhar o marido a eventos com os clientes da empresa e seus cônjuges.

Mas algumas fontes bem informadas dizem que era difícil discernir quando Sorrell e a mulher estavam viajando a negócios e quando o motivo da viagem era o lazer —ou se era apropriado que a companhia bancasse essas despesas.

Gastos indistintos

As fronteiras indistintas entre gastos pessoais e gastos empresariais se tornaram motivo de ressentimento no comando da companhia. Os gastos totais eram revisados ao menos uma vez por ano, gerando discussões ferozes sobre que despesas precisavam ser reembolsadas pessoalmente por Sorrell, ainda que em geral as pendências terminassem resolvidas e as contas aprovadas pelos auditores.

Em 2015 —o ano em que Robert Quarta se tornou presidente do conselho do grupo, substituindo Philip Lader—, o WPP revelou que as despesas totais de seu presidente-executivo no ano anterior haviam atingido a marca das 453 mil libras, entre as quais 274 mil libras para despesas de viagens de sua mulher; 36 mil libras para despesas com carros; e 43 mil libras para "outras despesas".

No ano passado, Sorrell recebeu uma quantia fixa de 200 mil libras, com a qual deveria cobrir suas despesas. Depois de 2015, o WPP deixou de cobrir as despesas de viagem de Cristiana Sorrell, que é assessora sênior do presidente do Fórum Econômico Mundial e membro do conselho do grupo de entretenimento Viacom e da fabricante de cosméticos Revlon. Mais recentemente, Cristiana Sorrell apelou por revisão mais rápida de suas despesas, talvez em base semanal.

A indicação de Quarta, presidente do conselho da Smith & Nephew, fabricante de equipamentos médicos, e a indicação, no ano passado, de Nicole Seligman, uma importante executiva da Sony e antiga advogada do ex-presidente americano Bill Clinton, para um posto no conselho do WPP indicam a busca de uma postura mais robusta com relação ao mitológico executivo.

Quarta "certamente não é um molenga, e qualquer pessoa que ache que ele estará lá para defender [Sorrell] está errada", disse um conhecido dos dois quando Quarta foi indicado para o posto.

Mas ainda assim havia pouco que Quarta pudesse fazer quanto ao generoso pacote de remuneração de Sorrell, em 2015. Sob um contrato aprovado pelo regime anterior, a remuneração dele era calculada em ciclos de cinco anos que garantiam pagamentos extraordinários a Sorrell caso os preços das ações do WPP apresentassem bom desempenho por um período longo.

Naquele ano, Sorrell faturou mais de 70 milhões de libras —soma que deflagrou uma revolta de investidores, com mais de um terço dos acionistas do WPP votando contra as normas de remuneração da empresa.

A despeito de suas verbas generosas para despesas e de um pacote de remuneração que fazia dele um dos executivos mais bem pagos do Reino Unido, era comum que Sorrell solicitasse dinheiro no escritório de Farm Street para despesas diárias. Isso sempre intrigou os funcionários diretos da presidência, que estavam cientes de que suas necessidades —restaurantes, bebidas, transporte, lavanderia, presentes— usualmente eram cobertas por cartões de crédito da companhia ou colocadas na conta da empresa.

A prática era ainda mais intrigante porque Sorrell nem sempre tinha de fornecer recibos pelo dinheiro que lhe era entregue. Foi uma acusação relacionada a dinheiro recebido dessa maneira que resultou na investigação sobre sua conduta.

Representantes de Sorrell enfatizaram que, por conta do volume de viagens e de contatos com clientes que os negócios da empresa requeriam, era inevitável que as despesas de Sorrell fossem significativas. Eles disseram que muito cuidado e atenção eram exercidos pela empresa e seu presidente quanto às despesas dele, e que Sorrell nega qualquer uso indevido de fundos.

Uma pessoa próxima à empresa disse que as somas desembolsadas em dinheiro eram registradas, seu uso documentado, e os resultados desses gastos revisados. A pessoa declarou que as quantias eram reembolsadas quando requerido, e auditadas, e que desde o final de 2017, essa forma de uso do caixa para pequenas despesas havia sido descontinuada.

Quando não havia recibos, a empresa requeria uma explicação quanto ao uso empresarial do dinheiro; se a explicação não viesse, a quantia tinha de ser reembolsada, disse a pessoa.
 

O suposto incidente

Em 2017, o grupo montado com tamanho esforço por Sorrell estava passando por um momento difícil. Os conglomerados de alimentos e produtos de limpeza e higiene que sempre foram seus maiores clientes —empresas como a Procter & Gamble e a Nestlé— estavam reduzindo seus gastos com as agencias de criação e mídia da rede do WPP.

Investidores ativistas como Nelson Peltz, que adquiriu participação acionária na Procter & Gamble, desempenharam um papel nessas campanhas de corte de custos, que prejudicavam o crescimento do WPP. Mas a ascensão do Facebook e do Google como plataformas dominantes de marketing online e o surgimento de novos concorrentes, a exemplo de consultorias como a Accenture e a Deloitte, que passaram a operar na área de publicidade, também afetaram o WPP.

Dentro do grupo, havia temores persistentes de que Sorrell não estivesse agindo com rapidez suficiente para adaptar a empresa ao novo mercado digital. "A fórmula que tínhamos, e que teve tanto sucesso no passado, perdeu o gás, sua data de validade expirou", disse um colega.

Um executivo da empresa disse que o modelo de negócios que ele criou sofreu desgaste em um momento em que ele estava distanciado das tendências de consumo que geram essas pressões.

"Você não vai saber o que as meninas de 16 anos estão pensando se passa seu tempo em Davos."

Em 2017 e no começo de 2018, as ações do WPP caíram em um terço, em função de resultados inferiores aos esperados; a empresa reduziu suas projeções quanto a lucros futuros. Diversos clientes grandes, como o banco HSBC, anunciaram que estavam colocando em revisão suas contas com o WPP. A pressão sobre Sorrell não parava de aumentar.

Catalisador

Em outubro do ano passado, ele demitiu seu motorista. A demissão foi recebida com choque e tristeza pelo pessoal da presidência —especialmente por conta do longo tempo de serviço do motorista—, e inspirou os descontentes a agir.

Desafiar um patrão dominante como Sorrell é um negócio arriscado, mas o clima estava mudando, em 2017, com a queda de diversos homens  muito poderosos, na mídia e em Hollywood.

As revelações do Financial Times em janeiro sobre assédio sexual no President's Dinner, um evento de caridade só para a elite masculina dos negócios, patrocinado pelo WPP há 33 anos, serviu como um novo catalisador para ação.

Falar sobre comportamento masculino inapropriado subitamente se tornou possível, e uma empregada do WPP decidiu agir.

A jornada pessoal da denunciante começou em 6 de junho de 2017, quando ela se encontrou com uma amiga para um drinque em Shepherd Market, uma praça no bairro de Mayfair conhecida por seus bares e restaurantes. A praça também é uma das zonas de prostituição que restam em Londres.

Era uma noite de terça-feira, na véspera da assembleia anual de acionistas do WPP. As duas colegas estavam sentadas em uma mesa de calçada, diante de um bar, quando supostamente viram Sorrell entrando em um edifício —e fotografaram  o local, no número 50-A da praça Shepherd Market.

Meses mais tarde, o endereço seria parte da investigação sobre o executivo.

Não se sabe se elas informaram a alguém na empresa sobre o que viram naquele momento.
A reportagem foi informada de que queixas anteriores sobre o comportamento de Sorrell muitas vezes paravam na secretária geral da companhia, Marie Capes, que trabalha no WPP há décadas e é conhecida pela lealdade a ele.

Capes respondeu a um pedido de informações do Financial Times encaminhando o jornal ao WPP, que afirmou que a empresa tinha uma linha para queixas telefônicas cujo número é conhecido de seu pessoal, "disponível para todos os empregados que desejem expressar preocupações".

A companhia acrescentou que "encaramos com a maior seriedade qualquer queixa dessa natureza, quando detalhes específicos são mencionados".

Múltiplas pessoas confirmaram que, nos primeiros meses de 2018, uma das empregadas rompeu o silêncio e confidenciou a um superior hierárquico o que havia visto naquela noite de junho de 2017.

Funcionários importantes da presidência discutiram o assunto. Na reunião, foi tomada a decisão de encaminhar a queixa a Quarta, de acordo com uma pessoa informada sobre a ocasião.

Denúncia formal e sucessão

Dada a seriedade da acusação, de delito de conduta pessoal e potencial uso indevido de fundos da empresa, Quarta e Seligman, que havia se tornado membro independente sênior do conselho do WPP, decidiram tratar a questão como uma denúncia formal. Criaram um subcomitê no conselho e contrataram um escritório de advocacia, o WilmerHale, para conduzir uma investigação independente, conduzida por Stephen Pollard, um dos sócios do escritório.

Sorrell foi entrevistado durante duas horas por sócios do WilmerHale, em 29 de março, sem a presença de seu advogado pessoal, porque ele considerou a questão como assunto de rotina. Além da suposta visita a Shepherd Market, ele foi questionado sobre seu estilo de gestão e sobre sua forma de tratamento aos subordinados. Sorrell negou qualquer delito.

A investigação sobre um dos mais respeitados líderes de negócios britânicos, renomado especialista em administrar a reputação das maiores empresas do planeta —e a sua reputação pessoal— era não só extraordinariamente delicada como gerava questões complicadas para o conselho, sobre o quanto revelar aos acionistas, e sobre o direito de privacidade de Sorrell.

Depois de uma entrevista tensa, Sorrell, perturbado, pensou em se demitir. Ele já vinha refletindo há algum tempo sobre seu futuro no WPP. As opções incluíam vender a empresa, deixar seu posto para um sucessor, ou enfrentar a briga.

Naquele final de semana, Sorrell ponderou o que fazer, consultando advogados, parentes e amigos. Por fim, escolheu um meio-termo: continuaria como presidente-executivo provisoriamente, enquanto organizava uma nova estrutura de gestão, que incluiria a criação de duas vice-presidências operacionais, que seriam ocupadas por Mark Read e Andrew Scott.

Sorrell discutiu seu plano de sucessão com Quarta na terça-feira, 3 de abril —quatro dias depois de ser questionado pelos investigadores. Ele acreditava estar negociando de boa fé, e esperava uma resposta rápida, de acordo com uma pessoa informada sobre os pensamentos de Sorrell.

Pouco depois dessa conversa, para espanto de Sorrell, o jornal The Wall Street Journal revelou a existência de uma investigação sobre seu comportamento pessoal e sobre o potencial uso indevido de fundos da empresa.

Quarta a essa altura havia contratado um assessor independente de relações públicas, Roland Rudd, para representar a ele e ao conselho. Os porta-vozes oficiais do WPP continuariam a ser Richard Oldworth e Chris Wade. Sorrell enquanto isso reforçou sua equipe jurídica, contratando Quinn Emanuel, para trabalhar com seu advogado pessoal Richard Miskella, do escritório Lewis Silkin.

Controvérsia

O que aconteceu a seguir é causa de controvérsia, e dirimir as dúvidas se complica por conta das cláusulas de confidencialidade que todos os envolvidos tiveram de aceitar como parte do acordo para a saída de Sorrell. As constatações do WilmerHale foram comunicadas ao conselho na sexta-feira, 13 de abril. Mas não houve um relatório escrito, e amigos de Sorrell dizem que ele e seus assessores não foram informados sobre o quadro completo.

A investigação foi encerrada com a constatação de que não havia prova de uso indevido de fundos da empresa, as quantias envolvidas eram irrisórias, e nenhum outro empregado do WPP estava envolvido. O conselho decidiu, portanto, que a questão deveria ser tratada como assunto pessoal de Sorrell, Ele renunciou no dia seguinte.

Na verdade, Sorrell havia concluído que sua posição como presidente-executivo se havia tornado insustentável minutos depois que foi informado do vazamento da notícia sobre a investigação. Ele estava ansioso por garantir que sua privacidade fosse protegida, e que poderia exercer os direitos que lhe foram conferidos por seu contrato, ao deixar o posto.

O contrato, aprovado em 2008 por Lader, o predecessor de Quarta, era "bastante unilateral", de acordo com uma pessoa próxima ao WPP. Não continha cláusula que impedisse Sorrell de trabalhar para concorrentes, e permitia que saísse sem perder qualquer de seus incentivos, a menos que o conselho identificasse desvios graves e deliberados de conduta, causadores de malefícios econômicos para a empresa.

Depois, uma nova bomba estourou, quando surgiram as primeiras reportagens de que a investigação que havia precedido a renúncia de Sorrell tratava de uma possível visita dele a um bordel, e de uso de dinheiro da empresa para pagar uma prostituta.

O momento em que a informação surgiu é revelador, dada a proximidade com a assembleia geral de acionistas, e faz com que o tema da investigação se torne assunto de interesse público. Como acionista significativo do WPP, Sorrell pode comparecer à assembleia.

Representantes de Sorrell negam firmemente a acusação. Afirmam que ela só surgiu depois que o motorista foi demitido, e quase um ano depois do acontecido. Eles afirmam que as quantias envolvidas são imateriais, acrescentando que a acusação não se relaciona de forma alguma ao papel dele no WPP. E ele nega firmemente o uso indevido de verbas da companhia para qualquer propósito.
 

O desenlace

Ainda assim, o furor gerado pela saída de Sorrell com toda sua remuneração e incentivos intactos colocou Quarta na defensiva.

O ex-presidente executivo manteve o direito de exercer opções de ações relacionadas aos cinco ciclos do plano acionário vigente da empresa, que se estende até 2022. Pessoas próximas à companhia insistem em que, porque as ações da companhia estavam caindo nas bolsas nos 18 meses anteriores à renúncia de Sorrell, ele receberá menos que o máximo previsto de 1,65 milhão de ações —hoje avaliadas em 20 milhões de libras— a que teria direito.

Os executivos rivais de publicidade vêm acompanhando os acontecimentos recentes no WPP com uma mistura de alegria maldosa e fascínio. Mas há quem esteja decepcionado por o reino de Sorrell à frente da empresa ter acabado de maneira tão súbita e ignominiosa.

"As pessoas do WPP o admiram enormemente, e não queriam que tudo terminasse mal", disse o executivo de um concorrente importante do WPP, falando anonimamente. "As pessoas gostariam que ele fosse recordado como um dos gigantes do setor - e não que saísse manchado".

Poucas semanas depois de renunciar, Sorrell voltou à arena pública anunciando planos para um novo empreendimento publicitário, com investimentos de, entre outros, o financista Jacob Rothschild, 82.

Sorrell está determinado a continuar ativo, mantendo sua carreira até bem depois dos 80 anos, um pouco como o lendário investidor Warren Buffett. Mas sua aura de invencibilidade se estilhaçou. A assembleia geral de acionistas acontecerá na quarta-feira, e o conselho tem perguntas demais a responder.

A investigação só está começando.
 
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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