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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato
Descrição de chapéu juros Selic copom

Entenda a marcação a mercado que afeta títulos de renda fixa

Descubra por que seus títulos de renda fixa podem estar rendendo menos do que você esperava e como aproveitar as oportunidades escondidas na marcação a mercado

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Para a maioria dos brasileiros, não parece certo que um título de renda fixa que deveria render IPCA + 5,2% ao ano apresente retorno negativo nesse primeiro semestre de 2024, mesmo com o IPCA acumulado de 2,6% no período. Esse é o efeito da marcação a mercado na renda fixa. Explico por que isso ocorre, quais produtos são afetados e o que fazer.

Operador de mercado em sua mesa na CMC Markets em Londres. REUTERS/Peter Nicholls - Peter Nicholls/REUTERS

O título mencionado acima é o Tesouro IPCA 2029, disponível na plataforma do Tesouro Direto. Ele se desvalorizou -0,59% até o dia 21 de junho deste ano. Mas, esse não é o pior retorno dentre os disponíveis na plataforma. O pior retorno dentre os títulos disponíveis no Tesouro Direto é de -31% no mesmo período.

Quando observamos um investimento rendendo negativamente, é natural acreditar que há algo errado. Desconsideramos a possibilidade de que oportunidades surgem justamente em momentos de quedas de preço, principalmente em ativos que prometem ganho certo. Ao mesmo tempo, quando a variação é muito positiva, desconsideramos que ela pode ser irreal e fruto de um viés otimista do momento, que pode passar e os preços caírem.

Em títulos de renda fixa, a marcação a mercado reflete no preço dos ativos tanto o viés otimista quanto o pessimista. Embora o mais racional seja investir quando o mercado está com viés pessimista e desinvestir no otimismo, tendemos a querer fazer o contrário. Aposto que muitos estão fazendo isso neste momento.

O efeito que faz com que um título se afaste do retorno contratado pelo humor do mercado é conhecido como marcação a mercado. Esse efeito influencia de forma mais significativa os preços de títulos de renda fixa prefixados e referenciados ao IPCA, assim como os fundos de investimento e previdências privadas que investem nesses títulos.

Mas como funciona a marcação a mercado? Para ilustrar esse efeito, vamos usar o caso simples de um ativo prefixado que vence em um ano.

Um título de renda fixa prefixado é uma promessa de pagamento de juros. Esse rendimento é definido no momento de emissão do título ou em sua característica. No nosso exemplo, vamos assumir um título de renda fixa prefixado que está sendo lançado agora com valor de face de R$ 1 mil e que promete pagar R$ 100 em um ano, além da devolução do principal. Portanto, você investe hoje R$ 1 mil e deve receber R$ 1,1 mil em um ano. A taxa de juros desse título é de 10% ao ano (= 100/1000).

Seria de se esperar que um título como esse rendesse todos os dias de forma positiva, pois ele tem um juro prefixado positivo em 10%, certo? Infelizmente, não é isso que ocorre. Na marcação a mercado, o rendimento pode ser negativo ou até muito maior.

Por exemplo, considere que no dia seguinte ao seu investimento, o mercado ficou muito pessimista e pediu mais prêmio para investir em títulos prefixados de um ano. Suponha que a taxa que o mercado exige para esses títulos saltou para 11% ao ano. Lembre-se que o valor pago em juros no vencimento é fixo, ou seja, R$ 100. Portanto, para que a taxa de juros seja de 11% ao ano, o preço atual do título deve mudar. Esse preço cai para R$ 990,09 (= 1100/1,11). Para simplificação, fiz o desconto sem considerar o número exato de dias.

Perceba que você investiu R$ 1 mil no primeiro dia e no dia seguinte, o título valia apenas R$ 990,09. Pela marcação na curva da taxa de aquisição de 10% ao ano, o preço no dia seguinte deveria ser de R$ 1.000,38. Mas, pela marcação a mercado, ele apresentou uma queda de preços de -0,9%.

Esse efeito ocorre apenas no período intermediário antes do vencimento. Se você esperar o vencimento, ele terá rendido exatamente 10%, pois vai te pagar R$ 1,1 mil no final.

O pessimismo do mercado nesse momento afetou os prêmios exigidos pelos investidores e fez com que as taxas de juros futuras subissem. Isso não quer dizer que os juros no futuro irão subir, mas que os investidores estão pedindo mais prêmio devido à dúvida que possuem sobre o comportamento do governo e do Banco Central na condução da política fiscal e monetária, respectivamente.

Esses momentos em que o mercado fica mais nervoso e pede mais prêmio costumam ser os períodos em que surgem as melhores oportunidades na renda fixa. Portanto, em vez de "panicar" e correr para o CDI, se está investindo para o médio e longo prazo, aproveite os prêmios mais altos para obter maiores ganhos na renda fixa prefixada e referenciada ao IPCA.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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