São Paulo Antiga

A história e as curiosidades de São Paulo passam por aqui

Descrição de chapéu ataque à democracia

É hora da CBF dar um descanso para a Amarelinha

Brasil deveria adotar temporariamente seu histórico uniforme branco

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Douglas Nascimento
São Paulo (SP)

Com uma coluna pronta para entrar nesta segunda-feira fui surpreendido, como todos vocês, pelo deplorável ataque à democracia que tomou conta de Brasília em 8 de janeiro. Pensei no que poderia escrever sobre este domingo triste que entrará para nossa história e lembrei-me de alguns fatos de nosso passado. Contudo vendo o tuíte da CBF hoje cedo pensei aqui: "É hora de deixar a amarelinha descansar um pouco". Vamos relembrar portanto a a história do primeiro uniforme da seleção brasileira, primeiramente branco e depois amarelo.

Seleção brasileira perfilada antes de jogo válido pela Copa do Mundo de 1934, na Itália - Reprodução

Seria a camisa branca "zicada"?

Uma das primeiras coisas que me responderam quando indaguei a alguns amigos sobre a camisa branca da seleção ser adotada temporariamente foi "Ih mas essa camisa é zicada, azarada". Mas será mesmo ou estamos sendo demasiadamente supersticiosos?

A camisa branca da seleção brasileira de futebol foi a oficial por um longo tempo. Era adotada desde a criação do time nacional no já distante ano de 1914. Foi com ela que a seleção disputou amistosos e todas as Copas do Mundo até 1950, aquela copa fatídica e traumática, do inesquecível "Maracanazo". Após esta derrota atordoante o país foi atrás de culpados pelo resultado inesperado e escolheram dois deles como algozes: o goleiro Barbosa e a camisa branca.

O goleiro Barbosa, da Seleção Brasileira, vê o chute do jogador uruguaio Ghiggia, da Seleção do Uruguai, durante a derrota do Brasil para o Uruguai, por 2 a 1, no estádio do Maracanã, em jogo válido pela final da Copa do Mundo de 1950. - Fifa

Mas seria ainda justo dizer que a camisa branca é realmente azarada? Porque não sei vocês mas eu penso que o 7 a 1 que levamos da Alemanha no Mineirão em 2014 é uma derrota muito mais acachapante que os 2 a 1 que levamos dos uruguaios em 1950.

A origem da amarelinha

Entre a copa disputada no Brasil e a seguinte na Suíça surgiu o debate de um novo uniforme titular para a seleção. Eis que o jornal carioca Correio da Manhã cria em 1953 um concurso para a escolha do novo manto do time nacional para estrear já na Copa de 1954. Entre inúmeros participantes o desenho escolhido foi do gaúcho Aldyr Schlee com seu modelo amarelo com detalhes em verde.

0
O gaúcho Aldyr Garcia Schlee, criador da camisa verde e amarela da seleção brasileira nos anos 50, posa em sua residência em Capão do Leão (a 226 km de Porto Alegre), no sul do Estado. Criador da camiseta em 1953, Schlee venceu o concurso do jornal ''Correio da Manhã''. Tinha 19 anos na época e sua ideia foi a escolhida entre outras 200. - Paulo Rossi/Folhapress

Apesar da empolgação em torno da nova cor da camisa do Brasil a seleção não venceria a Copa de 1954, terminando em quinto lugar ao ser eliminada nas quartas de final. Mesmo em 1958, ano do primeiro título mundial, a camisa vencedora ainda não seria a amarelinha mas a azul, uma vez que a finalíssima fora disputada contra a anfitriã Suécia que também tinha o amarelo em seu uniforme principal.

A amarelinha só seria campeã do mundo em 1962 com a conquista do bicampeonato no Chile e seria consagrada de vez em 1970, no México, com o timaço de Pelé, Tostão, Carlos Alberto e cia.

De símbolo do Brasil a uniforme de golpista

Camisa verde e amarela da seleção é maioria entre os vândalos golpistas que atacaram Brasília neste domingo, 8 de janeiro. Na imagem manifestantes invadem o STF . - Gabriela Biló/Folhapress

Do tricampeonato de 70 em diante a camisa brasileira eternizou-se e se transformou em um símbolo nacional até mais conhecido do que nossa própria bandeira. Em qualquer canto do mundo a amarelinha é reconhecida rapidamente como do Brasil. Entretanto desde os protestos de 2015 contra a então presidente Dilma Rousseff a camisa brasileira passou a ser desvirtuada e ser usada como o uniforme padrão de protestos da direita.

Mesmo sendo enojante ver a camisa da seleção brasileira ser adotada pelos protestos, era até aceitável pois os protestos eram pacíficos. Entretanto, depois da eleição do presidente Jair Bolsonaro pra cá, a camisa foi cada vez mais associada a um extrato ruim e violento de nossa sociedade, onde fascistas, terroristas e intolerantes, fizeram da amarelinha o símbolo do pior momento de nossa democracia: o uniforme do golpista.

O branco da paz

Philippe Coutinho festeja seu gol durante a partida de estreia do Brasil na Copa América de 2019. Na ocasião a seleção voltou a usar o histórico uniforme com a camisa branca (14 de junho de 2019). - Rahel Patrasso/Xinhua

Acredito que a CBF poderia fazer um golaço se temporariamente suspendesse o uso e a venda da camisa amarela da seleção brasileira. Que usemos novamente a camisa branca, tal qual recentemente fizemos na Copa América 2019, ou mesmo utilizar mais a camisa reserva azul até que golpistas e terroristas sejam punidos duramente e a amarelinha volte a ser o cartão de visitas do Brasil para o mundo e não mais lembrado como uniforme de golpista. Neste momento a camisa branca, com a cor símbolo da paz, é a melhor escolha.

CBF pense nisso com carinho!

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.