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A história do edifício do Largo do Café que aumentou de tamanho

Construído pelo Moinho Santista, edifício tinha originalmente 2 andares

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Douglas Nascimento
São Paulo (SP)

Quem caminha pelas ruas do famoso triângulo histórico do centro de São Paulo e observa todos aqueles edifícios, onde quase que a totalidade deles são antigos, talvez nunca tenha imaginado que um dos mais icônicos deles tinha originalmente apenas 2 andares, antes de se transformar em um arranha-céu.

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Vista do Escritório Central do Moinho Santista nas primeiras décadas do século 20, em fotografia tirada a partir da rua São Bento - Acervo Centro de Memória Bunge

A história curiosa deste prédio começa antes mesmo de sua construção, com o crescimento de uma das grandes empresas brasileiras das primeiras décadas do século 20, o Moinho Santista. Originalmente estabelecida na cidade de Santos pela facilidade de seus negócios e exportações, a empresa muda sua sede para a capital paulista em 1908 em um prédio na rua da Quitanda.

Como o edifício em questão era muito aquém das necessidades da então pujante Santista, a empresa decide construir um novo edifício não muito distante dali para abrigar sua sede própria. O local escolhido: o Largo do Café, à época uma das áreas mais valorizadas do centro paulistano.

Nos anos 1910 finalmente é inaugurado o chamado "Escritório Central do Moinho Santista" uma edificação luxuosa de dois andares em estilo neoclássico que passava a abrigar a administração da empresa nos andares superiores e o setor financeiro no térreo, cuja estrutura lembrava muito uma agência bancária .

prédio antigo
O andar térreo do edifício sede do Moinho Santista lembrava muito a de uma agência bancária. Atualmente parte deste espaço é ocupado por uma farmácia. - Acervo Centro de Memória Bunge

Com o passar dos anos e já associado à multinacional Bunge, o Moinho Santista foi ampliando suas atividades comerciais e a sede do Largo do Café foi ficando cada vez menos adequada para os negócios. Ao invés de demolir sua sede e construir outra a empresa teve uma decisão inusitada: ampliar o edifício.

Na década de 1940 o Moinho Santista transformou sua sede de dois andares em um arranha-céu com 14 andares e modernas instalações, porém sem alterar a fachada neoclássica original preexistente. Já os novos andares seguiram um estilo arquitetônico diferente. O prédio inclusive passa a ser o mais alto do Largo do Café, o que se mantém inalterado até os dias atuais.

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Publicidade do Moinho Santista em 1957 com destaque ao edifício, sede da empresa, já com os novos andares. - Divulgação

COMIND

Com o passar dos anos o Grupo Bunge, proprietário do Moinho Santista e de outras empresas, transferiu sua sede para outra região da capital e o edifício é colocado à venda, sendo adquirido pelo Banco do Comércio e Indústria de São Paulo S/A (COMIND), que nos anos 1980 chegou a ser um dos cinco maiores do Brasil.

É nesse momento que o prédio recebe um "batismo" e passa a ter nome oficial sendo chamado de Edifício INDUSEG, sendo mantido até os dias atuais apesar de não estar estampado em nenhuma de suas entradas. O nome é a sigla de Companhia Nacional de Seguros do Comércio e da Indústria, uma das empresas do COMIND.

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Vista atual do edifício INDUSEG, que inicialmente foi sede do Moinho Santista, a partir da rua São Bento - Douglas Nascimento/São Paulo Antiga

O prédio mudaria de dono ao menos mais uma vez na década de 1980, devido ao COMIND ter suas operações liquidadas pelo Banco Central em 1985. Apesar da mudança de proprietário o prédio não sofreu alterações e permanece preservado e em bom estado de conservação. Foi tombado pelo CONPRESP como patrimônio histórico paulistano em 1992.

PRÉDIO TEM MISTÉRIO ENVOLVENDO ESCULTURA

Em algum momento após a construção do edifício, não se sabe se na fase inicial ou em sua ampliação, a Santista encomendou painéis artísticos ao escultor Victor Brecheret. Este conjunto ficava no hall principal do prédio, onde atualmente funciona uma farmácia. Contudo, não está mais lá.

Conversei com Sandra Brecheret, filha do artista e presidente da Fundação Escultor Victor Brecheret, sobre o paradeiro da obra. Ela confirmou a existência dos painéis e conta que um deles foi destruído após uma reforma, mas que os demais sobreviveram e chegaram a ser expostos em cavaletes pelo Banco Itaú no início dos anos 2000. Consultei o Instituto Itaú Cultural a respeito da obra, que informou que a obra não faz parte do acervo do Grupo Itaú, não tendo, portanto, informações sobre seu paradeiro.

mini escultura
Réplica em miniatura do painel de Victor Brecheret que ficava no hall do edifício sede do Moinho Santista, no Largo do Café - Acervo do Centro de Memória Bunge

O Centro de Memória Bunge, instituição responsável pela preservação e gestão da memória empresarial do Grupo Bunge, que inclui o acervo do Moinho Santista, possui uma réplica em miniatura da obra. Está é a única imagem que temos desse painel. A pergunta que não quer calar ficará, portanto, no ar: onde foi parar o painel de Victor Brecheret?

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