Descrição de chapéu The New York Times

Rei dos dinos, tiranossauro é muito mais do que uma carinha assustadora

Novos achados sobre o mais poderoso predador terrestre são tema de exposição em NY

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James Gorman
Nova York | The New York Times

O tiranossauro rex continua a ser o maior e mais poderoso predador terrestre de todos os tempos. Tinha o tamanho de um ônibus, com uma cabeça cujo comprimento chega perto da altura de Tom Cruise, e seu sorriso era igualmente devastador. Os cientistas são tão fascinados por eles quanto todos nós.

Depois que o tiranossauro foi descrito inicialmente, em 1905, o mais carismático dos megafósseis do planeta poderia ter se transformado em uma reles curiosidade. Não havia garantia de que outros animais de seu porte não viessem a ser encontrados, e ninguém tinha como prever o quanto sua história se provaria interessante. Mas há mais de cem anos o tiranossauro vem se provando um imenso presente, não só para o estudo dos dinossauros como também para a ciência em geral.

Recentemente, o ritmo de descobertas se acelerou, e muitas das revelações sobre o tiranossauro rex, os demais tiranossauros que são parentes dele, e sobre as vidas pré-históricas que eles levavam serão celebradas na exposição "T. Rex: The Ultimate Predator", aberta no dia 11 de março no Museu Americano de História Natural, em Nova York.

Em junho, o Museu Nacional Smithsonian de História Natural, em Washington, reabrirá sua ala de fósseis, coroada por um tiranossauro rex montado em nova postura. Os curadores da exposição de Nova York são pesquisadores que há muito estudam o tiranossauro e outros dinossauros: Mark Norell, curador de fósseis anfíbios, répteis e aves no museu, e Gregory Erickson, paleobiólogo da Universidade Estadual da Flórida.

Em entrevista conjunta, eles insistiram em que o tiranossauro rex é muito mais que uma carinha bonita e horrivelmente assustadora: ele representou uma realização evolutiva extraordinária, e é muito importante em termos científicos.

Norell disse que o tiranossauro rex ajudou a estimular o interesse pela paleontologia de dinossauros nos últimos 20 anos, o que fica evidenciado pelo número crescente de pesquisadores e de novas descobertas de fósseis, e pela crescente sofisticação das técnicas usadas para estudar os achados.

"Nos últimos 30 anos, o número de tiranossauros triplicou", ele disse. Em termos de tecnologia, "vivemos em um mundo diferente".

Erickson acrescentou que "a era dourada da paleontologia é agora".

Outros pesquisadores, como Philip Currie, paleobiólogo especializado em dinossauros na Universidade de Alberta, Canadá, concordam em que o interesse pelo campo explodiu. "Há mais coisa acontecendo agora  do que em qualquer momento do passado", ele disse. Na década de 1970, quando a carreira de Currie estava começando, "havia talvez meia dúzia de pessoas no planeta que eram pagas" especificamente para estudar dinossauros.

Os demais pesquisadores lecionavam anatomia de vertebrados e biologia, ou eram amadores dedicados. "Hoje, há 150 pessoas trabalhando com isso", ele disse, para não mencionar "uma alta colossal no número de estudos científicos publicados".

Desde o momento em que foi descoberto, o tiranossauro é uma sensação, atraindo público e pesquisadores. Cada novo esqueleto ou esqueleto parcial encontrado é causa de comemoração.

Alguns, como o esqueleto de tiranossauro rex conhecido como Sue, hoje exposto no Museu Field, de Chicago, atraíram atenção internacional. Sue foi localizado em 1990, e representa o maior e mais completo esqueleto de tiranossauro rex já encontrado. O museu pagou US$ 8,3 milhões por ele.

A reconstrução de outro gigante localizado pouco depois de Sue, conhecido como Scotty, será exibida pelo Museu Nacional de Saskatchewan, na cidade canadense de Regina, a partir de maio. O nome da cidade talvez desperte questões que há muito deveriam ter sido perguntadas sobre o motivo para o grande dinossauro não ter recebido o nome de tiranossauro regina.

Não é por todos os espécimes encontrados até agora serem machos. Não existe consenso sobre o sexo dos espécimes, porque não é tão fácil assim distinguir - especialmente se tudo de que o pesquisador dispõe é um crânio ou coxa.

Poucas das descobertas estão 90% intactas, como é o caso de Sue (nomeado em honra da pesquisadora que descobriu o espécime, Sue Hendrickson). Um dos tiranossauros localizados até agora apresenta um tipo de osso que parece identificá-lo claramente como fêmea. Mas até essa avaliação é controversa. Por trás das cenas das reconstruções dos maiores tiranossauros já encontrados, paleontologistas estão recolhendo grande volume de conhecimentos novos sobre esses dinossauros. As constatações frequentemente se relacionam a descobertas de muitos fósseis de tiranossauros de menor porte em todo o mundo.

Estudos usando tomografia computadorizada, análises químicas e novas técnicas de microscopia também ajudam a iluminar o comportamento, evolução e capacidades sensoriais do tiranossauro rex.

Estudos sobre quando e como os músculos vieram a se afixar ao crânio do animal mostram que suas mandíbulas tinham uma força preênsil de 3,54 mil quilos, suficiente para esmagar ossos de outros dinossauros de grande porte. Coprólitos, fezes fossilizadas, mostram a presença de ossos parcialmente digeridos, o que aponta que o tiranossauro rex dispunha dos sucos estomacais necessários a consumi-los.

Erickson conduziu estudos de microscopia com os anéis de crescimento dos ossos de alguns espécimes, que permitiram determinar que idade os espécimes tinham e qual era seu ritmo de crescimento. Em sua adolescência, um tiranossauro rex aparentemente engordava 1,2 quilo por dia. A expectativa de vida máxima do animal era de 30 anos. Nas palavras de Erickson, o tiranossauro era "o James Dean dos dinossauros - vivendo rápido, morrendo jovem".

Por algum tempo, houve debates enérgicos sobre a possibilidade de que o tiranossauro se parecesse mais com um abutre do que com um gavião - desajeitado demais para perseguir e abater presas. Marcas de mordidas curadas em outros fósseis de dinossauros, e um dente de tiranossauro rex cravado na cauda de um dinossauro com bico de pato indicam que o tiranossauro caçava outros dinossauros, ainda que provavelmente também consumisse carniça, como a maioria dos predadores.

A julgar por seus parentes, e por pegadas fossilizadas de um grupo de dinossauros que se movimentavam em conjunto, o tiranossauro rex era um animal social. É provável que caçasse em grupos, especialmente em sua juventude. Seu comportamento provavelmente mudava com a idade. Quando seu comprimento equivalia a apenas meio ônibus, é provável que o tiranossauro corresse muito mais rápido do que quando completamente crescido.

O cérebro do tiranossauro era grande até mesmo considerado seu tamanho, sugerindo inteligência superior a de outros dinossauros. Sua visão era excelente, com olhos posicionados em posição mais avançada no crânio, para oferecer uma boa percepção de profundidade. Os ouvidos eram adaptados a sons de baixa frequência. A caixa craniana indica que a capacidade olfativa do tiranossauro rex era soberba, ainda que faro apurado provavelmente fosse raro entre os dinossauros.

E o tiranossauro rex tinha penas, em maior quantidade quando jovem, e provavelmente ao menos uma pluma de cauda, mesmo na maturidade. Ainda não foi encontrado um fóssil de tiranossauro rex que aponte para a presença de penas, mas, disse Norell, levando em conta o que sabemos sobre os demais tiranossauros, sobre dinossauros relacionados, e sobre o percurso evolutivo dos dinossauros, "temos tantas provas de que os tiranossauros rex tinham penas quanto temos de que os neanderthal tinham cabelo".

A maneira pela qual o tiranossauro rex se desenvolveu, e que cara tinham seus parentes, é parte central da exposição de Nova York, e das pesquisas mais recentes sobre o animal. O tiranossauro rex é apenas uma entre muitas espécies. A superfamília que inclui os tiranossauros abarca mais de duas dúzias de outros dinossauros. Eles remontam a 100 milhões de anos antes que o primeiro tiranossauro surgisse.

"A evolução precisou de muito tempo para produzir o tiranossauro rex", disse Stephen Brusatte, paleontologista da Universidade de Edimburgo e autor de um livro recente sobre dinossauros.

A maior parte dos primeiros tiranossauros eram pequenos, alguns do tamanho de galinhas. Muitos tinham tamanho entre o dos cachorros e o dos cervos. (Na semana passada, foi reportada a descoberta de um pequeno tiranossauro na América do Norte.) Esses tiranossauros iniciais não estavam entre os maiores predadores, pela maior parte daqueles 100 milhões de anos.

"Na maior parte do tempo, eles foram predadores de segunda ou até mesmo de terceira grandeza", disse Brusatte. "Pela maior parte de sua história, os tiranossauros não foram assim tão especiais".

E então o tiranossauro rex emergiu, perto do final da era dos dinossauros, e se tornou o predador dominante na América do Norte.

A ascensão do tiranossauro rex é uma aula de como funciona a evolução, disse Brusatte: sem plano pré-ordenado. Ao longo dos milênios, muitos dinossauros predadores apareceram e desapareceram. Os tiranossauros tiveram sucesso, e com o tempo evoluíram.

Mas se outros dinossauros de grande porte, como os alossauros, não tivessem se extinguido, talvez não surgisse espaço para uma criatura como o tiranossauro rex no topo da cadeia de alimentação.

Pode-se dizer que o tiranossauro teve sorte. Mas seu reinado aconteceu exatamente no período, 65 milhões de anos atrás, em que todos os dinossauros não aviários se extinguiram.

A realeza sempre atrai inveja. E Brusatte disse que há algum ressentimento por o tiranossauro rex atrair tanta atenção por parte de muitos paleontologistas.

"As pessoas que estudam outros animais que não os dinossauros se queixam de que os dinossauros recebem toda a atenção", ele disse. "As pessoas que estudam dinossauros dizem que os terópodes recebem toda a atenção. E as pessoas que estudam terópodes dizem que são os tiranossauros que recebem toda a atenção".

E entre os tiranossauros, só há um astro, o rei. Mas existe um motivo para que o tiranossauro rex receba tanta atenção.

"Ele merece", disse Currie.

Tradução de Paulo Migliacci

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