Descrição de chapéu dinossauro

Antes diversos, crocodilos atuais são remanescentes de grupo que andou lado a lado com dinossauros

Nova pesquisa aponta para baixas taxas evolutivas e mudanças ambientais como principais fatores que moldaram evolução desses répteis no passado

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São Paulo

Os répteis conhecidos como crocodilos, jacarés e gaviais (animais com o focinho bem fino e longo, encontrados na Índia) são hoje uma pálida representação da diversidade que já existiu no passado.

Enquanto as 24 espécies atuais são todas de água doce (à exceção de duas espécies que também se adaptaram para água salgada), no passado, ao longo dos últimos 250 milhões de anos, existiam formas terrestres, anfíbias, de água doce e marinhas.

O grupo, chamado de crocodilomorfos, incluía tanto répteis de 12 metros (como o Sarcosuchus imperator, que viveu há 110 milhões de anos), quanto animais terrestres não maiores que um cachorro-do-mato e capazes de correr —como as espécies do gênero Mariliasuchus, encontradas em rochas onde é hoje a cidade do interior de São Paulo, Marília, há cerca de 90 milhões de anos.

É difícil fazer uma estimativa de espécies, mas existiam pelo menos dez vezes mais linhagens desses animais no passado. Por isso, os crocodilomorfos atuais são conhecidos como relictuais —as espécies viventes hoje são muito mais próximas entre si do que com todas aquelas que viveram no passado. Mas por quê todas essas formas foram extintas?

A hipótese mais provável é a de mudanças ambientais terem exercido um papel fundamental nisso. Mas um novo artigo, publicado recentemente na revista Communications Biology (do grupo Nature), aponta também outra causa: uma taxa evolutiva baixa nesses animais.

Desde os tempos de Darwin, pai da teoria da evolução, os cientistas buscam entender como se deu a diversidade de espécies no passado.

A teoria evolutiva está geralmente associada a pequenas mudanças contínuas e graduais ao longo do tempo. A velocidade com que essas pequenas mudanças ocorrem, ou taxa evolutiva, varia de acordo com as espécies.

Na década de 70, porém, os paleontólogos Stephen Jay Gould e Niles Eldredge sugeriram que a evolução das espécies pode ocorrer também de forma acelerada e repentina, em um curto espaço de tempo, desencadeada geralmente por pressões ambientais. Chamada de equilíbrio pontuado, a ideia era que as espécies teriam diversificações muito rápidas seguidas por um longo período de equilíbrio evolutivo.

O problema é que essa é uma teoria difícil de ser testada, pois ela depende de um amplo registro fóssil para ter certeza que aquela diversidade observada é resultado de uma explosão em um tempo relativamente curto.

Até então. Max Stockdale e Michael Benton, da Universidade de Bristol (Reino Unido) avaliaram o registro fóssil dos crocodilomorfos e, por meio de modelos computacionais, avaliaram a taxa evolutiva desses animais.

O que eles observaram é que os crocodilos evoluíram de maneira constante nos últimos 200 milhões de anos, com alguns picos de variação, caracterizados por diferenças no tamanho corporal, no meio do Jurássico e no início do Cretáceo.

“Uma das principais descobertas do nosso estudo foi que a baixa taxa evolutiva dos crocodilomorfos não foi constante ao longo de sua evolução. Os períodos [de baixa evolução] foram interrompidos por episódios curtos de mudança rápida. Essas mudanças permitiram aos ancestrais dos crocodilos adquirir formas hoje desconhecidas, como espécies terrestres com pernas compridas, adaptados para correr, formas com focinhos moles, como os de porcos, adaptados para cavar no solo e espécies marinhas com nadadeiras, semelhantes a peixes”, disse à Folha Stockdale.

A explosão de novas espécies em um determinado momento é seguida por uma extinção de alguns desses grupos, enquanto outros “passaram ilesos”. A partir daí, são as mudanças ambientais que vão determinar quais grupos sobrevivem ou não.

Para Caio Geroto, paleontólogo e professor de biologia na Unip, que não fez parte do estudo, o trabalho é fantástico pois é o primeiro que consegue de fato testar o equilíbrio pontuado.

Para os estudiosos dos crocodilos, a ideia sempre foi que a evolução desses répteis era direcionada pelo clima, diz. “Os crocodilomorfos são considerados indicadores de paleoclima —onde há fósseis desses animais, o ambiente era quente e úmido. Mas ninguém nunca soube determinar quando o ambiente passou a afetar esses animais, e nesse sentido esse trabalho é muito relevante, pois há essa evidência do equilíbrio pontuado atuando, ou seja, um momento de estabilidade seguido de uma rápida evolução.”

É claro que as mudanças ambientais foram importantes, mas não as únicas, a determinar a evolução desses grupos. As formas menores e terrestres, que se extinguiram ao final do Cretáceo, não teriam encontrado um ambiente tão diferente no início do Paleoceno, logo após a grande extinção causada por um meteoro que dizimou os dinossauros e cerca de 75% de toda a diversidade no planeta.

“O clima no início do Paleoceno (cerca de 60 milhões de anos) não era tão distinto do final do Cretáceo, mas só as linhagens atuais e outras três, incluindo duas de água doce, sobreviveram à extinção. Há, inclusive, evidências de um clima quente e úmido que seguiu pelos 20 milhões de anos seguintes, então isso deixa uma questão em aberto do porquê essa diversidade desapareceu”, afirma Diego Pol, paleontólogo curador da coleção do Museu Egidio Feruglio, na Argentina, e um dos maiores especialistas no assunto.

Para Pol, uma possível explicação seria que as pressões ambientais em ambientes marinhos e terrestres são maiores do que aquelas sofridas em água doce, onde normalmente existem condições mais estáveis de oferta de alimentos e temperatura. “Essa é uma hipótese, mas possivelmente os grupos que sobreviveram conseguiram se abrigar em regiões com fluxo baixo de energia”, finaliza.

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